Para o norte-americano Christopher Beyrer o vírus da aids sempre está um passo na frente (foto. W. Castilhos)

Redução de danos
26 de julho de 2005

Na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids, Christopher Beyrer, da Universidade Johns Hopkins, alerta para a emergência de novas epidemias e coloca novamente em foco os usuários de drogas injetáveis

Redução de danos

Na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids, Christopher Beyrer, da Universidade Johns Hopkins, alerta para a emergência de novas epidemias e coloca novamente em foco os usuários de drogas injetáveis

26 de julho de 2005

Para o norte-americano Christopher Beyrer o vírus da aids sempre está um passo na frente (foto. W. Castilhos)

 

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP - A emergência da Aids em 26 países do leste da Europa e também da Ásia é uma realidade que precisa ser enfrentada. O alerta é do cientista Christopher Beyrer, professor da Universidade Johns Hopkins, presente na 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids sobre Patogênese e Tratamento do HIV/Aids, que está sendo realizada no Rio de Janeiro.

"O vírus está novamente na frente de nossas respostas", afirmou o pesquisador. Segundo ele, a Aids pode estar na rota dos usuários de drogas injetáveis, como a heroína. "É o momento de a comunidade científica apoiar programas de troca de seringas e redução de danos", defende Beyrer.

Nesse sentido, o pesquisador da Johns Hopkins elogiou o programa de prevenção brasileiro em relação a esse problema. "O Brasil implementou precocemente um trabalho eficiente de prevenção para a população que usa drogas" disse. Para Beyrer, o fato de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter colocado em programas de prevenção e de redução de danos o uso de drogas como a metadona é bastante importante.

"É necessário uma intervenção rápida. Temos que trabalhar em áreas onde o vírus está chegando e impedir que essa epidemia se espalhe ainda mais", explica. A metadona, por exemplo, é um opiáceo narcótico sintético administrado em viciados em heroína a fim de desintoxicá-los.

Houve um lobby do governo norte-americano contra a medida da OMS, segundo o pesquisador, mas, diante da pressão pelos direitos humanos, o governo Bush recuou e passou a apoiar a decisão. "O que é frustrante é que ainda existem programas difíceis de ser implementados devido a problemas políticos, num momento em que não podemos restringir nenhuma proposta de prevenção", concluiu.

No Brasil, as campanhas direcionadas para os usuários de drogas injetáveis, elogiadas pelo pesquisador dos Estados Unidos, já mostram resultados interessantes. O número de casos da doença por usuários de drogas injetáveis caiu de 22% em 1993 para 10% em 2003. Quase 75% das pessoas que participaram do programa não compartilham mais agulhas.

A probabilidade de que novas infecções ocorram principalmente na África preocupa também a pesquisadora Francine McCutchan, professora adjunta na Bloomberg School of Public Health da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos. Por causa disso, ela estuda a proliferação de vírus recombinantes e o impacto desses microrganismos na prevenção e no tratamento da infecção. "Procuramos entender a diversidade do HIV nessas epidemias e suas implicações", disse também no Congresso do Rio de Janeiro.

McCutchan estudou quatro cortes no leste da África. Nas amostras, a cientista detectou que indivíduos reinfectados apresentavam tipos de vírus de estrutura genética única e que essas novas versões cresciam em paralelo a infecções duplas, sugerindo que a infecção repetida por HIV provoca o aumento da diversidade genética do vírus. O estudo mostrou novas formas recombinantes e prevalência das cepas originais.

Para a pesquisadora, podem ser graves as implicações da infecção dupla para a epidemiologia. "Estudos relacionam a ocorrência da infecção dupla à expansão da epidemia. Vírus recombinantes dificultam o desenvolvimento de vacinas, podendo inibir respostas no tratamento. Além disso, os portadores desses tipos de vírus são mais eficientes na transmissão, porque apresentam uma maior carga viral", afirmou.

A 3ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids (IAS) sobre Patogênese e Tratamento do HIV/Aids ocorre no Rio de Janeiro até quarta-feira (27/7), numa parceria da IAS com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Sociedade Brasileira de Infectologia.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.