Novos estudos publicados por Neves e colaboradores, a partir de 1999, vêm demonstrando que populações humanas pré-históricas similares a Luzia não eram raridades nas Américas
(imagem: Verônica Wesolowsky)

Redescobrindo o novo mundo
18 de janeiro de 2005

Reportagem publicada pela revista Pesquisa FAPESP reforça a tese de que Luzia, nome dado ao crânio de uma jovem que viveu e morreu há cerca de 11 mil anos nas cercanias da atual Belo Horizonte (MG), não era uma aberração

Redescobrindo o novo mundo

Reportagem publicada pela revista Pesquisa FAPESP reforça a tese de que Luzia, nome dado ao crânio de uma jovem que viveu e morreu há cerca de 11 mil anos nas cercanias da atual Belo Horizonte (MG), não era uma aberração

18 de janeiro de 2005

Novos estudos publicados por Neves e colaboradores, a partir de 1999, vêm demonstrando que populações humanas pré-históricas similares a Luzia não eram raridades nas Américas
(imagem: Verônica Wesolowsky)

 

Por Marcos Pivetta

Pesquisa FAPESP - Boa parte dos arqueólogos norte-americanos costuma dizer que Luzia é uma aberração. Uma exceção, e não a regra entre os primeiros habitantes das Américas, os chamados paleoíndios, normalmente descritos como mongolóides, com traços orientais, semelhantes aos asiáticos e aos indígenas de hoje.

Luzia é o nome dado ao crânio de uma jovem que viveu (e morreu) há cerca de 11 mil anos na região de Lagoa Santa, nos arredores de Belo Horizonte, rica em sítios pré-históricos. A polêmica ossada mineira choca os tradicionalistas por não apresentar características cranianas compatíveis com populações mongolóides. Suas feições lembram as dos atuais aborígines australianos e negros africanos.

Essa discrepância levou os pesquisadores Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de São Paulo (USP), e Hector Pucciarelli, da Universidade de La Plata, Argentina, a proporem ainda no final da década de 1980 uma teoria alternativa para explicar a colonização das Américas. Segundo Neves e Pucciarelli, há pelo menos 12 mil anos teriam posto pé no Novo Mundo as primeiras levas de indivíduos semelhantes a Luzia, vindas da Ásia.

Os mongolóides, também oriundos da Ásia, dos quais descendem todas as tribos indígenas ainda hoje encontradas entre a Patagônia e o Alasca, só teriam atingido o continente algum tempo depois. Ambas as populações utilizaram a mesma via de entrada para as Américas, o estreito de Bering.

Carregando nas tintas, os críticos desse modelo dizem que os sul-americanos construíram uma tese a partir de um só crânio. Mas novos estudos publicados por Neves e colaboradores a partir de 1999 vêm demonstrando que populações humanas pré-históricas similares a Luzia não eram raridades nas Américas e sua distribuição geográfica não estava restrita às cercanias da capital mineira.

Agora acabam de sair dois trabalhos que dão amparo à teoria alternativa sobre a colonização das Américas. Num artigo impresso na última edição da revista britânica World Archaeology, uma equipe de pesquisadores coordenada por Neves apresenta nove crânios encontrados em Cerca Grande, um complexo de sete sítios pré-históricos situado na região de Lagoa Santa.

Todas as ossadas ostentam características afro-aborígines e idade estimada em cerca de 9 mil anos. "Luzia não é uma anomalia", afirma Neves, cujos estudos são financiados por um Projeto Temático da FAPESP.

Clique aqui para ler o texto completo da reportagem da edição 107 de Pesquisa FAPESP.

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