Recuperação (muito) lenta
13 de junho de 2005

Oceanos do planeta levarão 100 mil anos para absorver o dióxido de carbono resultante da queima de combustíveis fósseis presente hoje na atmosfera. A afirmação é de um estudo publicado na Science

Recuperação (muito) lenta

Oceanos do planeta levarão 100 mil anos para absorver o dióxido de carbono resultante da queima de combustíveis fósseis presente hoje na atmosfera. A afirmação é de um estudo publicado na Science

13 de junho de 2005

 

Agência FAPESP - Cem mil anos. Muito tempo? Pois, segundo um novo estudo, é quanto levará para a maior parte do excesso de dióxido de carbono presente hoje na atmosfera, resultante da queima de combustíveis fósseis, ser absorvida pelos oceanos.

A estimativa se baseia em um registro histórico. Cem mil anos foi o período estimado que teria levado para que a química oceânica se recuperasse de um influxo massivo de dióxido de carbono há 55 milhões de anos.

Os dados são de um estudo conduzido por um grupo internacional liderado por James Zachos, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos Estados Unidos. Os resultados estão publicados na edição de 10 de junho da revista Science.

Os pesquisadores analisaram sedimentos marinhos depositados durante um período de aquecimento global extremo, conhecido como Paleoceno-Eoceno Máximo Termal (PETM). As amostras, retiradas do fundo do mar, revelaram uma abrupta mudança na composição química oceânica no início do PETM, seguida por uma demorada recuperação.

"A questão principal é que a recuperação exige um longo período. Serão necessárias dezenas de milhares de anos para que os níveis de dióxido de carbono na atmosfera retornem aos verificados antes da industrialização", disse Zachos, em comunicado da universidade norte-americana.

Pesquisas anteriores, feitas a partir de modelos matemáticos processados em computadores, haviam chegado a tempos de recuperação similares. O novo estudo valida os resultados anteriores.

A situação só não é pior porque os oceanos têm uma enorme capacidade de absorver o dióxido de carbono da atmosfera. Um grande estudo, feito em 2004, calculou que os oceanos absorveram nos últimos 200 anos quase metade do CO2 produzido pelo homem, o equivalente a 120 bilhões de toneladas métricas de carbono.


Carbono demais

Segundo o estudo divulgado agora, durante o aquecimento global de 55 milhões de anos atrás, muito mais carbono do que se imaginava anteriormente foi adicionado aos oceanos e à atmosfera. O PETM consistiu de um aumento das temperaturas no interior dos oceanos entre 4 e 5 graus Celsius.

Estudos anteriores indicaram que a desestabilização de depósitos de clatrato de metano, presentes em forma sólida em sedimentos no solo oceânico, teriam liberado 2 trilhões de toneladas de carbono, provocando o aquecimento global. Mas, a partir da análise de sedimentos removidos nas profundezas do Atlântico Sul, o novo estudo verificou que seria necessária a liberação do dobro da quantidade imaginada para provocar as alterações químicas identificadas.

O grupo liderado por Zachos sugere que novos estudos devem ser feitos para oferecer alternativas que expliquem de onde teria surgido tanto carbono. Os cientistas ressaltam que a queima de todas as reservas fósseis existentes hoje produziriam cerca de 4,5 trilhões de toneladas de carbono. Ou seja, os impactos nos oceanos seriam similares aos provocados pelo PETM. "Mesmo se parássemos agora de queimar combustíveis fósseis, os impactos ainda seriam sentidos por muito tempo", disse Zachos.

O artigo Rapid acidification of the ocean during the paleocene-eocene thermal maximum pode ser lido no site da Science, em www.sciencemag.org.

  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.