Análise de elementos químicos, retirados de pêlos da cauda dos elefantes, pode ajudar na preservação dessa espécie na África
(foto: George Wittemyer)

Rastreador químico
03 de janeiro de 2006

Análise de isótopos estáveis retirados do pêlo da cauda de elefantes africanos revelam onde esses animais estiveram e o que comeram. A técnica será importante para preservar a espécie

Rastreador químico

Análise de isótopos estáveis retirados do pêlo da cauda de elefantes africanos revelam onde esses animais estiveram e o que comeram. A técnica será importante para preservar a espécie

03 de janeiro de 2006

Análise de elementos químicos, retirados de pêlos da cauda dos elefantes, pode ajudar na preservação dessa espécie na África
(foto: George Wittemyer)

 

Agência FAPESP - Os rastreadores em forma de radiocolares, que funcionam por GPS (Sistema de Posicionamento Global, na sigla em inglês), já eram uma arma importante para preservar os elefantes africanos que vivem em áreas de preservação ambiental no Quênia.

A partir de agora, os cientistas passam a contar com mais uma ferramenta. Estudos feitos com uma espécie de rastreador químico revelaram que essa técnica também pode ser usada com os paquidermes que estão ameaçados de extinção.

Análises de isótopos estáveis de carbono, nitrogênio, hidrogênio e oxigênio são usadas para vários fins em diversos países. Esse método, baseado na diferença de peso ou de forma química dos elementos que não sofrem decaimento radioativo, serviu até para rastrear a bactéria antraz, usada em atos terroristas.

No caso dos elefantes africanos, o geoquímico Thure Cerling, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, e colaboradores resolveram analisar as taxas entre nitrogênio e carbono existentes no pêlo das caudas dos animais. Como os indivíduos estudados também estavam equipados com radiostransmissores, ficou fácil saber onde eles andavam, o que faziam e o que comiam ao longo dos dias.

Como plantas que vivem e crescem em áreas secas – e esse é o clima na Reserva de Samburu – apresentam diferenças altas entre a presença de nitrogênio-15 (elemento raro) e o nitrogênio-14 (o tipo mais comum), bastava comparar esse dado com aquele verificado no pêlo da cauda. Dos sete paquidermes analisados, seis apresentaram também altas taxas, o que permite afirmar que esses elefantes gastavam boa parte do tempo pastando nas áridas planícies daquela área protegida por lei e não saíam para as florestas úmidas do Monte Quênia.

O balanço entre o raro carbono-13 e o comum carbono-14 também ajudou a mapear a dieta dos animais. Plantas como árvores e arbustos, por causa do tipo de fotossíntese que elas fazem, apresentam uma relação baixa dos dois isótopos de carbono. Gramíneas e grãos, como o milho, são caracterizados pelo oposto, uma alta diferença entre C-13 e C-14.

Essa informação foi definitiva para classificar o comportamento do sétimo elefante, o macho Lewis, que não passava grande parte do seu tempo em Samburu, como revelou a análise dos isótopos do nitrogênio. Além das planícies áridas, esse animal também se deslocava para comer gramíneas e grãos de milho das plantações vizinhas da reserva.

Essa última preferência alimentar de Lewis acabou levando-o à morte. Provavelmente, um fazendeiro do Quênia flagrou a invasão e disparou contra o elefante que procurava apenas sobreviver. São por histórias como essa, de conflito entre animal e homem, que os pesquisadores estão esperançosos com essa nova técnica radioquímica.

Eles acreditam que será mais fácil traçar áreas de preservação que seja boa para os dois lados. Isso por meio dos satélites e dos isótopos estáveis. Os resultados da pesquisa serão publicados esta semana na edição on-line e em breve na versão impressa da Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

O artigo Stable isotopes in elephant hair document migration patterns and diet changes, de Thure E. Cerling, George Wittemyer, Henrik B. Rasmussen, Fritz Vollrath, Claire E. Cerling, Todd J. Robinson e Iain Douglas-Hamilton, pode ser lido em www.pnas.org.


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