Raízes do Patrimônio
14 de junho de 2004

Durante Reunião Brasileira de Antropologia, pesquisas apresentadas sobre o centro histórico de São Luís mostram um dos caminhos seguros para que o país consiga manter viva a memória barroca

Raízes do Patrimônio

Durante Reunião Brasileira de Antropologia, pesquisas apresentadas sobre o centro histórico de São Luís mostram um dos caminhos seguros para que o país consiga manter viva a memória barroca

14 de junho de 2004

 

Por Eduardo Geraque, de Olinda


Agência FAPESP - A capital do Maranhão, São Luís, pode ser classificada como a cidade dos paradoxos em termos de preservação do patrimônio histórico. Como a estagnação econômica se manteve bastante presente entre as décadas de 1920 e 1970, o centro histórico, assim como havia sido desenhado nos séculos 18 e 19, não sofreu com nenhum tipo de intervenção urbanística importante.

Além disso, como explicou à Agência FAPESP Alexandre Fernandes Corrêa, professor e pesquisador do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a ocupação do casario colonial por classes baixas da população maranhaense, inclusive prostitutas, fez com que os prédios históricos pudessem, pelo menos, terem ficado em pé.

"A classe média fugiu do centro. Hoje ela ocupa os bairros modernos da cidade", disse Corrêa, um dos organizadores do fórum de pesquisa "Patrimônios coletivos, memórias sociais e diversidade biocultural", que está sendo realizado dentro das atividades da Reunião Brasileira de Antropologia, aberta na noite do último sábado (12/6) em Olinda (PE). Se os moradores deixaram a cidade, os artistas e seus atêlies, agora, estão voltando.

Na opinião do pesquisador - o grupo do qual participa na UFMA desenvolve estudos importantes no campo da preservação histórica - o desafio de manter o barroco presente em São Luís é bastante grande. "No Maranhão, lentamente está havendo novamente um enobrecimento do centro. Claro que não sou contrário a esse processo, mas é importante que exista uma resistência".

Na visão do antropólogo, que também concorda que o turismo é uma forma importante para a geração de riquezas em locais como São Luís, o caminho a ser seguido não pode deixar de lado, por exemplo, artistas locais. "Não adianta cairmos na folclorização maquiada, feita em série". O fundamental, na visão de Corrêa, é que se faça um enraizamento da cultura popular local de qualidade nos processos de preservação do patrimônio. "Isso não é fácil, mas no caso de São Luís, os cantores, poetas e músicos em geral poderão dar uma contribuição importante", acredita.

Em se tratando de barroco, o problema do enobrecimento dos centros históricos, que acaba expulsando os artistas da região para a periferia, não é um fenômeno típico do Maranhão. Processos parecidos surgem com força, por exemplo, nas cidades colonias da Zona da Mata de Minas Gerais. "Em Ouro Preto, os edifícios do centro, por exemplo, foram alugados por grandes hotéis e restaurantes".


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