Estudo feito no Ipen com apoio da FAPESP, que desenvolveu um novo método de preparação de fontes radioativas para o tratamento de câncer de próstata, é premiado pela American Nuclear Society

Radiação internacional
12 de agosto de 2009

Estudo feito no Ipen com apoio da FAPESP, que desenvolveu um novo método de preparação de fontes radioativas para o tratamento de câncer de próstata, é premiado pela American Nuclear Society

Radiação internacional

Estudo feito no Ipen com apoio da FAPESP, que desenvolveu um novo método de preparação de fontes radioativas para o tratamento de câncer de próstata, é premiado pela American Nuclear Society

12 de agosto de 2009

Estudo feito no Ipen com apoio da FAPESP, que desenvolveu um novo método de preparação de fontes radioativas para o tratamento de câncer de próstata, é premiado pela American Nuclear Society

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Um estudo que gerou uma nova técnica para o tratamento de câncer de próstata, desenvolvido no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, recebeu o prêmio “Best Publication of the Year 2009”, concedido pela Seção Latino-Americana da American Nuclear Society (LAS-ANS).

O trabalho, publicado em 2008 na revista Nukleonika, foi desenvolvido no âmbito de um Auxílio a Pesquisa – Regular apoiado pela FAPESP cujo título é “Desenvolvimento da técnica de produção de sementes de iodo-125 para uso em braquiterapia”.

A pesquisa aborda o desenvolvimento e a produção da fonte de radioterapia conhecida como sementes de iodo-125, utilizada na braquiterapia, técnica em que uma fonte radioativa selada é colocada a uma curta distância da região a ser tratada, permitindo que doses elevadas de radiação sejam aplicadas no tumor de modo a preservar a integridade dos tecidos vizinhos.

As sementes de iodo-125, importadas e distribuídas pelo Ipen para hospitais e clínicas, são utilizadas no tratamento do câncer de próstata – a segunda causa de morte por câncer em homens no Brasil –, além de tumores oftálmicos e cerebrais.

De acordo com a primeira autora do trabalho, Maria Elisa Rostelato, gerente adjunta da Divisão de Projetos do Centro de Tecnologia das Radiações (CTR) do Ipen, o tratamento de câncer da próstata com o implante de sementes de iodo-125 é utilizado por hospitais e clínicas particulares no Brasil, sendo que as sementes são importadas ao custo mínimo de US$ 26.

“Esse preço as torna proibitivas para uso em hospitais públicos, pois um implante requer pelo menos 80 unidades”, disse a também chefe do Laboratório de Produção de Fontes Radioativas do Ipen à Agência FAPESP.

Ela recebeu o prêmio durante a cerimônia de encerramento do Simpósio Anual da American Nuclear Society, realizado no fim de julho em Buenos Aires, na Argentina, em nome da equipe de oito pesquisadores do Ipen que assinam o artigo.

Para minimizar custos e possibilitar a distribuição para entidades públicas de saúde, uma vez que a demanda do Brasil para esse tipo de produto terapêutico é grande, o instituto está montando um laboratório para produzir as sementes de iodo-125 no Brasil.

A unidade tem previsão de iniciar a produção experimental em 2010 e começar a operar comercialmente em 2011. A expectativa é que o custo das sementes seja reduzido em até 40% com a produção nacional.

Por meio da técnica de braquiterapia, pequenas sementes de iodo-125 são implantadas, pela pele, na próstata dos pacientes com a ajuda de uma agulha fina, para que, em seguida, uma dose de radiação relativamente alta seja liberada no tumor sem atingir tecidos vizinhos, uma vez que o iodo-125 tem radiação de baixa energia que é pouco penetrante.

A semente consiste de uma cápsula de titânio selada com 0,8 milímetro de diâmetro externo e 4,5 milímetros de comprimento, contendo em seu interior o iodo-125 adsorvido (processo de retenção de átomos, moléculas ou íons na superfície de sólidos) em um fio de prata. “Ao ser adsorvido, o iodo forma apenas uma película que reveste o fio de prata. Ele não penetra no material”, explicou Maria Elisa.

“As vantagens dos implantes com sementes radioativas, em comparação com os tratamentos convencionais, como a prostatectomia radical e feixe de radiação externo, são a preservação de tecidos sadios e de órgãos próximos à próstata, além de menor incidência de incontinência urinária e impotência sexual, uma vez que, com a cirurgia, é alta a incidência de impotência entre os homens”, disse.

Os implantes com sementes oferecem ainda um tipo de terapia menos invasiva para tratamento de câncer da próstata em estágios iniciais, quando comparado com outros métodos como a cirurgia e a radioterapia externa, sendo que a maioria dos pacientes pode retornar à atividade normal dentro de poucos dias após a intervenção.

Nova metodologia

O estudo premiado, nomeado “Development and production of radioactive sources used for cancer treatment in Brazil”, desenvolveu uma nova metodologia de adsorção do material radioativo em substrato de prata e estudou o processo de selagem das sementes de iodo-125 utilizando um processo conhecido como “soldagem por plasma”, com vistas ao tratamento de câncer da próstata.

“O processo de selagem da semente utilizando a técnica de solda com plasma não tem referências publicadas, sendo apenas citado em algumas patentes”, aponta Maria Elisa.

Segundo ela, as propostas de desenvolvimento da técnica de imobilização do iodo em substrato de prata e do processo de soldagem com plasma, além de serem viáveis tecnicamente, representam solução vantajosa do ponto de vista econômico, uma vez que os equipamentos e instalações necessárias para sua implementação estão disponíveis no Ipen.

Além do desenvolvimento do novo método de preparação do iodo-125, o objetivo do trabalho, coordenado pela consultora da superintendência do Ipen, Constância Pagano Gonçalves da Silva, foi determinar os parâmetros operacionais para implementação da unidade de produção das sementes no Ipen.

“Os resultados obtidos para a deposição do iodo-125 e para o método de selagem mostraram-se satisfatórios. A adsorção do iodo-125 nos núcleos de prata, por exemplo, foi da ordem de 90%”, aponta.

A selagem da semente também superou as expectativas, apresentando uma solda uniforme na junção. “Os ensaios mostraram que os valores de contagem das amostras ficaram bem abaixo dos índices permitidos pela norma ISO- 9978, ou seja, as sementes foram seladas e não apresentaram vazamentos nem contaminações”, disse Maria Elisa.

Cumprindo os objetivos do trabalho, foi confeccionado um protótipo nacional do iodo-125 e os pesquisadores também determinaram os parâmetros operacionais para sua produção. “Atualmente já está em curso a implementação no Ipen de uma unidade de produção rotineira das sementes”, apontou.

Mais informações sobre o artigo Development and production of radioactive sources used for cancer treatment in Brazil, publicado na revista Nukleonika, clique aqui.
 

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