Pesquisador italiano Piero Anversa, hoje radicado no New York Medical College, em Valhalla, participou de debate sobre células-tronco em São Paulo
Avanços são indiscutíveis, concordam cientistas envolvidos em pesquisas com células-tronco. Mas o debate desta segunda-feira (18/9), no InCor, deixa claro a necessidade de se ter cautela
Avanços são indiscutíveis, concordam cientistas envolvidos em pesquisas com células-tronco. Mas o debate desta segunda-feira (18/9), no InCor, deixa claro a necessidade de se ter cautela
Pesquisador italiano Piero Anversa, hoje radicado no New York Medical College, em Valhalla, participou de debate sobre células-tronco em São Paulo
Agência FAPESP - O modelo da tecnologia pode até estar mais ou menos desenhado. Mas isso está muito longe de significar que a injeção de células-tronco do sangue em pacientes que sofreram infarto vá necessariamente recuperar o coração afetado. Como essa, são muitas questões em aberto para os pesquisadores.
"Não estamos falando que ainda não injetamos células-tronco do sangue. Mas isso é feito em estudos muito bem controlados", disse José Eduardo Krieger, pesquisador do Instituto do Coração (InCor) da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP.
"Temos que ter muita parcimônia. Mesmo quando forem escolhidas algumas pessoas, elas vão entrar em um estudo e não em um tratamento médico. E, como as metodologias seguem uma randomização, quem realmente receber as células-tronco nem saberá disso", explicou.
Segundo o também professor da USP, que nesta segunda-feira (18/9) coordenou o simpósio internacional "Biological Cardiac Repair: a critical appraisal", no InCor, esses obstáculos não impediram que avanços importantes fossem obtidos em pesquisas com células-tronco voltadas para o coração. "Nós mesmos conseguimos resultados interessantes. Mas ainda estamos distantes de uma tecnologia bem definida", disse Krieger.
Um exemplo sólido de que as dúvidas são muitas veio à tona na palestra feita por um dos principais nomes mundiais na área, o italiano Piero Anversa, hoje radicado no New York Medical College, em Valhalla. O cientista ficou conhecido por um trabalho publicado em 2001 na revista Nature.
Aquele estudo, que depois seria rebatido por outros, apontou que células do sangue de camundongos poderiam mudar de identidade dependendo do ambiente em que estivessem. Ou seja, ao serem injetadas no coração, elas iriam se diferenciar em células cardíacas e ajudar na recuperação do órgão que havia sofrido um infarto.
Mas a polêmica não tira a importância dos trabalhos realizados por muitos pesquisadores espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil, nos últimos cinco anos. Um deles, Marco Antonio Zago, professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, também esteve presente ao debate.
"O mais importante nessa discussão é o modelo que vai sendo desenhado e que já funciona, por exemplo, no caso da medula óssea", disse Zago. Para Anversa, que teve que responder a muitas dúvidas pertinentes de Zago durante o debate, o caminho pode ser o de diferenciar as células-tronco primeiro no laboratório para só depois fazer a aplicação no coração dos pacientes.
"Temos que jogar o jogo e fazer testes clínicos com as células. Que os resultados serão positivos, isso praticamente já sabemos", disse o pesquisador italiano.
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