Estudo aponta que montadoras brasileiras fazem muito desenvolvimento de produto, mas pouca pesquisa (foto: Opel)
Pesquisa analisa o desenvolvimento tecnológico das montadoras de automóveis instaladas no Brasil. Em uma escala de cinco estágios definida pelo estudo, algumas empresas já chegaram no nível quatro
Pesquisa analisa o desenvolvimento tecnológico das montadoras de automóveis instaladas no Brasil. Em uma escala de cinco estágios definida pelo estudo, algumas empresas já chegaram no nível quatro
Estudo aponta que montadoras brasileiras fazem muito desenvolvimento de produto, mas pouca pesquisa (foto: Opel)
Agência FAPESP - Até que ponto as grandes montadoras mundiais têm avançado em conhecimento tecnológico aqui no Brasil? Com essa dúvida, Flávia Consoni, pesquisadora associada do departamento de política científica e tecnológica do Grupo de Estudos de Empresas e Inovação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resolveu ir a campo.
"Uma conclusão inicial que obtive mostra que as montadoras de automóveis [a pesquisa não analisou a produção de caminhões ou de outros veículos] fazem bastante desenvolvimento de produto, mas pouca pesquisa propriamente dita", disse Flávia à Agência FAPESP. O trabalho resultou em tese de doutorado aprovada em 2004, na Unicamp.
"Ainda assim, consegui identificar um certo avanço nesse conhecimento tecnológico promovido pela engenharia brasileira. Porém, isso sempre funciona como uma resposta aos problemas locais e ainda pelas demandas do ciclo de desenvolvimento do automóvel", afirma.
Após estudar as multinacionais que estão há décadas no Brasil (Ford, Volkswagen, Fiat e GM) e também as mais recentes (Renault, Peugeot, Citröen, Toyota, Honda e Mercedes Benz), a pesquisadora construiu uma tipologia para organizar o que essas empresas fazem em suas filiais brasileiras em termos de tecnologia. Dos cinco níveis, apenas o último, que compreende uma plataforma completa de montagem, ainda não foi atingido.
"O primeiro estágio, portanto o mais simples, é o da nacionalização das peças. Isso é quase que obrigatório. Ou seja, empresas que operam aqui acabam comprando autopeças da indústria nacional", explica Flávia. Depois do segundo nível da escala, a chamada tropicalização dos veículos, como o desenvolvimento de suspensões para as ruas e estradas nacionais, entra-se no nível três, no qual também todas as quatro montadoras mais antigas visitadas já chegaram.
Nesse patamar, explica a pesquisadora da Unicamp, ocorre o desenho dos veículos derivativos, simples em primeira instância, focado nas demandas do mercado local. "Estamos falando do projeto de picapes leves e sedans, por exemplo, que têm grande aceitação nacional. Essas versões não existem na linha de montagen da matriz e elas apenas são autorizadas quando a montadora no Brasil mostra competência tecnológica e provas de que existe mercado interno", diz Flávia.
A mudança de um estágio para outro da escala ocorre somente quando a empresa consegue acumular determinado conhecimento e realizar certas tarefas sozinha, que antes não eram possíveis.
No nível quatro, os projetos desenvolvidos nos estágios anteriores ganham mais complexidade com o objetivo, inclusive, de atender às demandas internacionais. Nesse caso, segundo Flávia, entram os exemplos dos modelos Meriva e Fox. Em relação ao primeiro, da GM, a pesquisadora utilizou o projeto como um estudo de caso para sua tese. "Foi o projeto mais complexo até então desenvolvido pela montadora no Brasil", conta.
Para Flávia, pelo menos em relação às quatro maiores montadoras analisadas, existem fortes indícios de que todas deverão ampliar suas engenharias brasileiras. "A Ford praticamente não tinha mais nada depois da Autolatina, mas o EcoSport mostra que isso mudou totalmente. A Fiat também anunciou plano para fortalecer a área de desenvolvimento no país. O fato de a subsidiária da empresa aqui no Brasil ser a maior da corporação ajudará bastante", aponta.
O passo para empresas como a GM e a Volks atingirem o quinto estágio da escala na verdade já foi dado, segundo o estudo. "Isso ainda não ocorreu muito menos por falta de competência no país e muito mais por falta de mandato para desenvolver essas atividades por parte das matrizes", afirma Flávia.
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