Cientistas conseguem fazer a distribuição de genes funcionais nas células da pele de camundongos
(Foto: divulgação)

Proteção in vivo
07 de dezembro de 2004

Estudo feito por pesquisadores da USP, publicado na PNAS, tem resultados positivos ao testar, em camundongos, uma terapia gênica capaz de reparar defeitos específicos do DNA presentes em portadores da rara e incurável doença xeroderma pigmentosum

Proteção in vivo

Estudo feito por pesquisadores da USP, publicado na PNAS, tem resultados positivos ao testar, em camundongos, uma terapia gênica capaz de reparar defeitos específicos do DNA presentes em portadores da rara e incurável doença xeroderma pigmentosum

07 de dezembro de 2004

Cientistas conseguem fazer a distribuição de genes funcionais nas células da pele de camundongos
(Foto: divulgação)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP – Desde a década de 1960 se sabe que uma rara alteração no DNA pode causar um complexo problema de saúde em seres humanos. Trata-se da xeroderma pigmentosum (XP), doença que atinge cerca de 250 mil pessoas nos Estados Unidos e 1 mil no Brasil, que não podem se expôr ao sol porque os raios ultravioletas (UV) causam conseqüências letais na pele. O motivo é que a proteína que corrige as alterações no DNA provocadas pela luz do sol não funciona de forma adequada.

O que os cientistas ainda não sabem é como reparar o DNA para que a proteína defeituosa volte a funcionar de forma correta. Mas um primeiro passo para que alguma terapia gênica possa surgir no futuro acaba de ser dado. A novidade está detalhada em artigo publicado na terça-feira (7/12), no site da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, escrito por pesquisadores brasileiros e norte-americanos.

"O que conseguimos foi fazer a distribuição de genes funcionais nas células da pele dos camundongos estudados", disse Carlos Menck, um dos responsáveis pelo novo estudo, à Agência FAPESP.

O pesquisador do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e colaboradores usaram um adenovírus carregado do gene humano XPA – responsável pela reparação do DNA alterado pelos raios UV –, e injeção subcutânea para conseguir restaurar as peles dos camundongos a partir da terapia gênica. "Eles também não chegaram a desenvolver o câncer de pele", explica.

Segundo Menck, essa é a primeira vez que um experimento desses é realizado in vivo. "Claro que a terapia tem problemas. Um deles, por exemplo, é que o uso de adenovírus pode causar respostas imunes importantes", explica. Apesar de a doença ser rara, Menck não tem dúvidas de que as pesquisas realizadas sobre o mecanismo de surgimento da XP são fundamentais.

"As pesquisas realizadas nessa área da reparação celular de pele deram muitas contribuições para o conhecimento do câncer em geral, não apenas o de pele", conta. Apesar de o processo de alteração celular que causa a XP ter sido descrito em 1968, a doença em si – seus portadores também são conhecidos como "meninos da lua" – é conhecida desde o final do século retrasado.

Segundo Menck, muito mais do que uma falsa esperança, é fundamental que exista um alerta em relação à XP. Muitos dos pacientes, ou até mesmo os médicos, desconhecem os sintomas desse tipo de alteração celular. Os portadores não podem ficar nem cinco minutos expostos ao sol. Quem não permanecer totalmente protegido corre sérios riscos de envelhecer de forma bastante precoce e também de morrer mais cedo.

A chance de desenvolver um câncer de pele é mil vezes maior em relação à população normal. Os portadores de XP também estão cerca de 12 vezes mais propícios a desenvolver outros tipos de câncer.

Para realizar os testes com os camundongos, uma das autoras, Maria Carolina Marchetto, também do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, passou uma temporada nos Estados Unidos, no Centro Médico da Universidade do Sudoeste do Texas. O motivo é que a burocracia brasileira impediu a importação dos animais.

O site da Xeroderma Pigmentosum Society, que financiou a ida de Maria Carolina, apresenta mais informações aos interessados. O endereço é: www.xps.org


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.