Seminário na FMUSP discute desafios da inovação no sistema de saúde, além de apresentar exemplos de Israel, Suécia, Países Baixos e Canadá (foto: Marcia Avanza / FMUSP)
Seminário na FMUSP discute desafios da inovação no sistema de saúde, além de apresentar exemplos de Israel, Suécia, Países Baixos e Canadá
Seminário na FMUSP discute desafios da inovação no sistema de saúde, além de apresentar exemplos de Israel, Suécia, Países Baixos e Canadá
Seminário na FMUSP discute desafios da inovação no sistema de saúde, além de apresentar exemplos de Israel, Suécia, Países Baixos e Canadá (foto: Marcia Avanza / FMUSP)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Experiências de sucesso mostram que ciência, tecnologia e inovação são grandes impulsionadoras do desenvolvimento socioeconômico de um país. Exemplos não faltam. Em Israel, um programa iniciado em 1974 vem conectando pequenas e grandes empresas à academia. O resultado é que, atualmente, 8% dos trabalhadores daquele país atuam na área de inovação e ela sozinha é responsável por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB).
De todo o investimento em inovação, 38,5% estão ligados à área de Ciências da Vida, seguida por Comunicação (22,3%) e Software (15,9%). Dados de 2017 mostram que são mais de mil empresas em Ciências da Vida.
“A inovação em Ciências da Vida é forte não apenas porque gostamos desta área, mas pelo fato de surgirem bons projetos. Em Israel, não temos uma grande indústria de fármacos, por exemplo, mas temos uma indústria que fornece ideias para o setor farmacêutico”, disse Ora Dar, chefe do setor de Ciências da Vida da Autoridade de Inovação de Israel, que apresentou esses dados durante palestra no Simpósio Internacional Challenges to Innovation in an Academic Health Center, realizado no dia 8 de março no teatro da Faculdade de Medicina da USP, com apoio da FAPESP.
O simpósio foi a primeira iniciativa de uma ação conjunta entre a Faculdade de Medicina da USP e o Hospital das Clínicas da FMUSP para se fomentar o desenvolvimento de startups na área de saúde. O objetivo é apresentar, em termos de inovação, o mesmo resultado positivo que exibe em ensino, pesquisa e assistência.
Além de Dar, também proferiram palestra Martin Schalling, do Instituto Karolinska de Estocolomo (Suécia), Pancras Hogendoorn, da Universidade de Leiden (Países Baixos), e Cory Mulvihill, do MaRS District de Toronto (Canadá).
Para o professor do Departamento de Medicina Molecular e Cirurgia do Instituto Karolinska, é provável que a grande área de investimentos do setor de saúde, nos próximos anos, não seja mais o desenvolvimento de medicamentos, mas a criação de dispositivos capazes de monitorar a saúde e de prevenir doenças.
“Vejam o caso de Thomas Insel, que foi diretor do National Institute of Mental Health [Estados Unidos] por 13 anos e agora trabalha no Google. Vejo que tais empresas investem massivamente em digital health. Acredito também que há um interesse pelas chamadas digital terapies por empresas de tecnologia como a Apple, por exemplo”, disse.
Schalling ressaltou que está sendo desenvolvido um ramo muito forte de soluções em monitoramento de órgãos como coração, rim e outros. “Estamos ainda na superfície dessa revolução, mas ela já é impressionante. Podem aparecer soluções mais complexas, mas o foco estará na simplicidade. Isso porque, até agora, o desenvolvimento convencional e o descobrimento de novas drogas têm sido muito caros”, disse.
Não por acaso, os quatro palestrantes mostraram casos de startups desenvolvidas por estudantes baseadas no uso e interpretação de dados. Entre os casos apresentados estavam: um aplicativo de tradução instantânea para atendimentos de emergências de estrangeiros (Estocolmo), um aplicativo de pré-atendimento psicológico (Estocolmo), um dispositivo móvel que monitora a qualidade do sono do paciente (Canadá) – e substituiu os laboratórios de monitoramento do sono – e ainda um novo método para testar a eficiência de vacinas (Países Baixos).
Os participantes do seminário destacaram que não há regra única para impulsionar a inovação, principalmente em saúde. Mas itens como planejamento (incluir uma agenda de inovação conectada com a agenda global), investimento contínuo e sinergia entre governo, empresas e academia foram pontos comuns apresentados pelos palestrantes.
Israel tem uma autoridade nacional forte para a inovação, Estocolmo criou um grande centro de inovação que abriga institutos de pesquisa, startups e empresas. Nos Países Baixos, a Universidade de Leiden e seus centros de pesquisa conseguem atrair investimento de fora para inovar.
Há também uma busca maciça por jovens talentos. “Criamos cursos on-line gratuitos com o que temos de melhor para ensinar. Os melhores alunos são convidados para nossas escolas de verão. É uma forma de atrair talentos de todo o mundo. Sabemos que a educação é o primeiro passo para a inovação”, disse Hogendoorn.
Toronto tem uma história peculiar e nos últimos anos percebeu que precisaria criar um centro voltado exclusivamente para impulsionar a inovação em saúde. “Temos um histórico de grandes descobertas, como a da insulina e das células-tronco, mas não temos um histórico tão bom em transformar essas descobertas em dinheiro”, disse Cory Mulvihill.
Mulvihill relatou que, historicamente, um cientista ou um empreendedor de Toronto preferiam buscar apoio financeiro para suas ideias e descobertas nos Estados Unidos ou na Europa. “Inovação não é apenas criar startups, é possibilitar que todos trabalhem juntos”, disse.
Por isso, foi criado em Toronto o MaRS Discovery District, escritório que auxilia empreendedores a lançar e desenvolver empresas de inovação. “De 2008 a 2016, arrecadamos mais de 3,5 bilhões de dólares canadenses e geramos uma receita de 1,8 bilhão. Mas é possível perceber que os índices dos primeiros anos do MaRS eram muito mais baixos do que os de hoje. O que aprendemos com isso? É preciso estar focado até começar a ver os resultados, pois é só com o tempo que eles vão começar a aparecer”, disse Mulvihill.
Schalling, que é professor convidado da FMUSP – e visitou o Brasil várias vezes –, é otimista em relação à possibilidade de São Paulo se tornar um centro de inovação em saúde.
“Existem centros em São Paulo que são muito integrados em pesquisa e clínica, muito mais que em outros lugares que conheço. É o caso do Incor, do Instituto de Psiquiatria e do Instituto do Câncer, mas existem outros onde também é possível direcionar a inovação”, disse.
Para ele, São Paulo não será o “próximo Vale do Silício”. “Existem tantos outros lugares, como Estocolmo e Israel, fazendo mais para que isso aconteça. Mas há uma configuração particularmente benéfica com esses centros e a FAPESP sempre apoiando a pesquisa. Vocês têm uma situação especial aqui”, disse.
Inovação no Sistema Acadêmico FMUSP-HC
Em julho de 2017, a Faculdade de Medicina da USP e o Hospital das Clínicas da FMUSP realizaram conjuntamente uma Congregação Temática de Inovação. Após as apresentações, foi proposto pelo diretor-presidente da FAPESP, Carlos Américo Pacheco, uma ação conjunta entre as instituições para se fomentar o desenvolvimento de startups na área de saúde.
Como primeira iniciativa, foi realizado o evento internacional "Challenges to Innovation in an Academic Health Center”. Os participantes receberam informações prévias sobre o Sistema Acadêmico da FMUSP-HC e sobre os temas que foram aprofundados com cada um deles. Ao final das discussões, todos os participantes se reuniram na sala da Congregação, onde os secretários dos grupos apresentaram o resumo das discussões finais e foram feitas as últimas considerações dos convidados e da organização. Com base em toda a documentação, o Comitê Organizador preparou um resumo das principais sugestões dos palestrantes do evento para o processo de inovação do Sistema Acadêmico FMUSP-HC.
O Comitê Organizador foi composto pelos professores José Otávio Costa Auler Jr., Giovanni Guido Cerri, Fabio Jatene, Linamara Rizzo Battistella, José Eduardo Krieger e Guilherme Ary Plonski.
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