Alunos em Balneário Rincão (SC) manipulam aplicativo Dados à Prova D’Água; envolvimento de comunidades no desenvolvimento ajudou mapeamento de áreas suscetíveis a enchentes (foto: Rosinei da Silveira)
Trabalho desenvolvido por pesquisadores da FGV e da University of Glasgow com apoio da FAPESP deu origem a um aplicativo para melhorar o fluxo de informações sobre inundações em territórios vulneráveis
Trabalho desenvolvido por pesquisadores da FGV e da University of Glasgow com apoio da FAPESP deu origem a um aplicativo para melhorar o fluxo de informações sobre inundações em territórios vulneráveis
Alunos em Balneário Rincão (SC) manipulam aplicativo Dados à Prova D’Água; envolvimento de comunidades no desenvolvimento ajudou mapeamento de áreas suscetíveis a enchentes (foto: Rosinei da Silveira)
Agência FAPESP – Projeto desenvolvido por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV), da University of Glasgow (Escócia) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que deu origem a um aplicativo para monitorar inundações em territórios vulneráveis, venceu o Celebrating Impact Prize na categoria “Outstanding Societal Impact” (Excelente Impacto Social). A premiação é concedida anualmente pelo Conselho de Pesquisa Econômica e Social (ESRC, na sigla em inglês) do Reino Unido a projetos que tenham gerado significativo impacto social.
De acordo com João de Albuquerque, pesquisador da University of Glasgow que liderou o projeto ao lado de Maria Alexandra Cunha, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV, esse prêmio é o mais importante do Reino Unido quando se trata de reconhecer pesquisas da área de ciências sociais com impacto social.
“O Celebrating Impact Prize se trata de um prêmio acadêmico avaliado por pares e é voltado a projetos que saíram do campo da produção de um conhecimento acadêmico para gerar impacto na vida da população”, disse Albuquerque à Assessoria de Imprensa da FGV.
Intitulado “Dados à Prova D’Água”, o projeto busca melhorar o fluxo de informações relacionadas a inundações, sobretudo em regiões vulneráveis a esse tipo de ocorrência (leia mais em: agencia.fapesp.br/37640).
Segundo Cunha, essas informações costumam ser provenientes de agências governamentais ou centros especialistas. Essas fontes produzem dados que subsidiam, por exemplo, o envio de alertas para a população, que também conta com suas próprias informações baseadas no conhecimento do território que ocupa.
“Além disso, as pessoas de uma determinada comunidade também repassam umas às outras o conhecimento sobre o seu território, o que eventualmente pode ser útil para subsidiar políticas públicas. Mas todo esse fluxo de dados sobre inundações, com diferentes informações e oriundas das várias partes interessadas, acaba se quebrando, o que pode pôr em risco o bem-estar da população. Por isso, nosso projeto criou métodos para melhorar o fluxo dessas informações”, explicou a pesquisadora da FGV.
Segundo a coordenadora do Cemaden Educação, Rachel Trajber, em vez de apenas recolher dados, a metodologia de ciência cidadã envolveu comunidades escolares e defesas civis das cinco regiões do Brasil como coprodutoras de conhecimento. Ela explica que, na prática, isso se deu com a criação de redes observacionais de pluviômetros de garrafas PET em escolas e residências, com dados pelo aplicativo Dados à Prova d’Água, juntamente com as memórias das pessoas sobre desastres. “Além disso, foram trabalhadas as formas como lidariam com a situação, proporcionando uma oportunidade de enfrentar o problema de inundações, alagamentos e deslizamentos de encostas de diferentes formas", complementou.
Trajber afirmou ainda que as lições aprendidas com o método aplicado – no qual pesquisadores e cidadãos colaboram em todas as fases da produção dos conhecimentos – mostraram que essa abordagem poderia ser aplicada para capacitar a ação climática, liderada pelas comunidades e escolas. “Essa ação é voltada, especialmente, em áreas com vulnerabilidades face aos riscos crescentes de eventos climáticos extremos”, enfatizou.
Aplicativo
O estudo teve apoio da FAPESP e culminou na criação de um aplicativo gratuito, disponível para qualquer comunidade, que permite às pessoas alimentar uma plataforma com medidas das chuvas e do nível dos rios, além de informações sobre as consequências desses eventos no território.
O aplicativo envia essas informações geradas pela população para um banco de dados, que também é alimentado pelas agências e centros especializados, e a partir do qual é gerado um dashboard, disponível à população, Defesa Civil ou a qualquer interessado.
Segundo Cunha, não dá para falar do aplicativo sem exaltar os métodos que foram criados pelos pesquisadores para coproduzir conhecimentos com as pessoas dos territórios vulneráveis ou de centros especializados. O grupo adotou uma abordagem inspirada na pedagogia dialógica do educador Paulo Freire (1921-1997) e guiada por princípios de justiça climática e de justiça de dados.
Além de o aplicativo ser utilizado em escolas situadas em áreas de grande risco de inundação no Brasil, a metodologia do projeto foi incorporada pela Defesa Civil dos Estados de Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Representantes do governo da Colômbia também entraram em contato com os pesquisadores no intuito de adaptar o aplicativo à realidade colombiana.
Conteúdo nas escolas e no YouTube
O projeto Dados à Prova D’Água criou uma disciplina eletiva para escolas do ensino médio localizadas em regiões com risco de inundação. Assim, alunos e professores em sala de aula podem exercitar esse método de medição pluviométrica e ajudar a disseminar a ferramenta em seus territórios.
Atualmente, a plataforma já foi utilizada por mais de 200 escolas e mais de cem defesas civis, que mobilizaram em torno de 500 cientistas cidadãos.
O projeto criou também um canal no YouTube que armazena um conjunto de filmes sobre memórias de inundações, vídeos curtos que resgatam vivências das populações que enfrentam esses desastres, com foco em valorizar o conhecimento dos indivíduos sobre o fenômeno.
O Dados à Prova D’Água envolveu a participação de mais de 70 pesquisadores e membros de diferentes comunidades de forma multidisciplinar, passando pelas ciências exatas como hidrologia, física e informática, até as ciências sociais e humanas, com pesquisadores das áreas de geografia, psicologia social, administração pública, estudos de mídia e artes.
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