Projeto testou possíveis soluções para a foz do rio Doce (foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)
Estudo apoiado pela FAPESP teve como foco a foz do rio Doce, impactada pelo rompimento da barragem do Fundão em 2015
Estudo apoiado pela FAPESP teve como foco a foz do rio Doce, impactada pelo rompimento da barragem do Fundão em 2015
Projeto testou possíveis soluções para a foz do rio Doce (foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)
Agência FAPESP – Uma pesquisa de doutorado conduzida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) testou possíveis soluções para a foz do rio Doce que, desde 2015, após o rompimento da barragem do Fundão – episódio que ficou conhecido como desastre de Mariana –, vem recebendo rejeitos de mineração de ferro, que contêm elementos como manganês, cromo, níquel, chumbo e cobre.
O estudo foi conduzido por Amanda Duim e teve apoio da FAPESP por meio de dois projetos (22/00296-6 e 19/14800-5).
Como explica a doutoranda, esses rejeitos são constituídos por óxidos de ferro minerais que, em solos aerados, não apresentam toxicidade. Contudo, em solos alagados, encontram condições favoráveis para se dissolver e liberar outros elementos potencialmente tóxicos que podem estar associados.
A pesquisa teve três objetivos principais. O primeiro foi entender os fatores envolvidos na dissolução dos óxidos de ferro no estuário do rio Doce, no Estado do Espírito Santo, como, por exemplo, a influência das estações do ano e de diferentes plantas crescendo sobre o rejeito, tanto plantas nativas quanto cultivadas.
O segundo objetivo foi fazer um levantamento de potenciais riscos à saúde humana pelo consumo de alimentos cultivados em solos impactados pelo rejeito. E o terceiro foi desenvolver estratégias de biorremediação, utilizando plantas e microrganismos para descontaminação dos solos impactados.
Para desenvolver todo o projeto, que teve duração de cinco anos, Amanda contou com o apoio do Grupo de Estudos e Pesquisa em Geoquímica do Solo da Esalq, coordenado por seu orientador, o professor Tiago Osório Ferreira. O grupo realiza monitoramentos no estuário do rio Doce desde antes do rompimento da barragem do Fundão.
Os resultados do projeto indicam que, por meio das coletas e monitoramento, os fatores climáticos, físico-químicos e geoquímicos controlam a disponibilidade de metais nos solos do estuário. Precipitação pluviométrica, pH e teores de óxido de ferro menos cristalinos afetam a disponibilidade dos metais.
Taboa na remediação
A pesquisa mostrou, ainda, que a espécie de planta nativa conhecida como taboa (Typha domingensis) tem potencial para remediação de áreas alagadas contaminadas com ferro, manganês e outros elementos potencialmente tóxicos, como cromo e níquel. Nos experimentos em campo, demonstrou-se que o manejo agronômico da Typha domingensis, especialmente com o uso de fertilizantes e de consórcios microbianos, resultou em maior extração de ferro e manganês do rejeito.
“Atualmente, o projeto de biorremediação foi finalizado, porém, estão em andamento os experimentos para aproveitamento do ferro e outros elementos de interesse econômico acumulados na biomassa da taboa”, contou a doutoranda em comunicado divulgado pela Divisão de Comunicação da Esalq.
O estudo destaca que o Brasil é um dos maiores exportadores de minério de ferro do mundo, em um cenário no qual a demanda global por metais tende a aumentar, o que poderá gerar um volume ainda maior de rejeitos de mineração.
“A disposição de rejeitos em barragens representa um risco, visto que essas estruturas podem se romper gerando grandes desastres ambientais e humanitários como os desastres de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019. Determinar os possíveis riscos associados a esses rejeitos, além de traçar estratégias de remediação e reaproveitamento são fundamentais para a reutilização e valorização desse material. A partir da biomassa dessa planta, estamos desenvolvendo um biominério de ferro extraído a partir do vegetal”, revelou a pós-graduanda.
Em solos alagados, devido à ausência de oxigênio, o ambiente geoquímico torna-se favorável à dissolução dos óxidos de ferro, o que aumenta a disponibilidade desse elemento e o risco de toxicidade. “Portanto, a depender do ambiente, mesmo um elemento abundante e nutriente como o ferro pode se tornar um risco à saúde ambiental”, acrescentou.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.