Participantes tinham entre 14 e 19 anos, grupo considerado de alto risco para desfechos negativos no desenvolvimento infantil (imagem: Gpointstudio/Freepik)

Saúde
Programa ‘Primeiros Laços’ melhora a qualidade do ambiente familiar e o vínculo materno
11 de setembro de 2025

Constatação é de estudo do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental. Programa é voltado a jovens gestantes

Saúde
Programa ‘Primeiros Laços’ melhora a qualidade do ambiente familiar e o vínculo materno

Constatação é de estudo do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental. Programa é voltado a jovens gestantes

11 de setembro de 2025

Participantes tinham entre 14 e 19 anos, grupo considerado de alto risco para desfechos negativos no desenvolvimento infantil (imagem: Gpointstudio/Freepik)

 

Agência FAPESP* – Um estudo avaliou dados coletados do programa “Primeiros Laços” e confirmou sua efetividade para melhorar a qualidade do ambiente familiar e o vínculo entre mães adolescentes e seus filhos. O programa consiste em visitas domiciliares de enfermeiras a jovens mães de primeira viagem para acompanhamento de saúde mental e do desenvolvimento dos bebês desde a gestação até os 2 anos de idade da criança.

A conclusão da análise foi publicada em artigo no periódico Frontiers in Global Women’s Health.

Atualmente, o programa é conduzido nos municípios de Indaiatuba e Jaguariúna, no interior de São Paulo, pelo Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) em parceria com o Centro Universitário de Jaguariúna, o Centro Universitário Max Planck e as prefeituras de ambas cidades.

O CISM é uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e as federais de São Paulo (Unifesp) e do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos Centros de Pesquisa Aplicada (CPAs) da FAPESP.

O estudo avaliou dados coletados de participantes do projeto entre agosto de 2015 e maio de 2018. No total, 169 gestantes foram recrutadas, sendo que 80 completaram o acompanhamento: metade no grupo intervenção e a outra parte no controle. Na ocasião, o programa, que ainda era chamado “Jovens Mães Cuidadoras”, foi desenvolvido em serviços de saúde da zona oeste da capital paulista, direcionado a comunidades vulneráveis.

As participantes tinham entre 14 e 19 anos, um grupo considerado de alto risco para desfechos negativos no desenvolvimento infantil. Cada jovem recebeu entre 60 e 63 visitas domiciliares das enfermeiras capacitadas. Durante o serviço, foram trabalhados temas como vínculo afetivo, estimulação cognitiva, práticas de cuidado e saúde materno-infantil (leia mais em: agencia.fapesp.br/52103).

Impacto

Para medir o impacto do projeto, os pesquisadores utilizaram a Observação Domiciliar para Medição do Ambiente na Primeira Infância (IT‑HOME), instrumento internacional que avalia a qualidade do ambiente doméstico de uma criança e o suporte ao desenvolvimento infantil, como estimulação cognitiva e apoio emocional.

Os dados mostraram um ganho relevante para as participantes do programa. Aos 24 meses dos bebês, as mães do grupo intervenção, ou aquelas que receberam as visitas domiciliares das enfermeiras, tiveram uma pontuação mediana de 30 no IT‑HOME, enquanto as outras do grupo-controle, que não tinham o acompanhamento das profissionais, marcaram 25, uma diferença de 5 pontos no instrumento de medição. Isso significa um ambiente familiar com mais qualidade para o crescimento das crianças.

Para os pesquisadores que conduziram o estudo, essa diferença é considerada significativa, especialmente em um contexto de alta vulnerabilidade social.

Um dos avanços mais notáveis foi percebido na análise relacionada à capacidade de responsabilidade emocional e verbal das jovens. Mães com ensino fundamental do grupo intervenção tiveram um índice 4,5 pontos maior do que as participantes do outro grupo (controle) aos seis meses de vida de seus bebês e três pontos a mais aos 24 meses.

“O impacto do programa foi mais expressivo justamente entre mães com menor escolaridade, um grupo tradicionalmente mais exposto a barreiras no acesso a informações e práticas de cuidado”, destacou Letícia Aparecida da Silva, pesquisadora do programa. Segundo a enfermeira, o resultado reforça a importância de políticas públicas que apoiem a parentalidade positiva e o desenvolvimento infantil já nos primeiros anos da criança.

Silva diz que o estudo mostra que estratégias como as aplicadas pelo “Primeiros Laços” têm potencial para reduzir desigualdades no desenvolvimento infantil, porque promovem um ambiente familiar mais favorável desde os primeiros anos de vida dos filhos.

“Em um país com altas taxas de gravidez na adolescência e marcado por desigualdades sociais, a aposta em programas domiciliares estruturados aparece como um caminho viável para fortalecer o cuidado na primeira infância, um período decisivo para o pleno desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças”, conclui a enfermeira.

O artigo The impact of a home visiting program on the care environment of Brazilian adolescent mothers - an descriptive exploratory study pode ser lido em: https://www.frontiersin.org/journals/global-womens-health/articles/10.3389/fgwh.2025.1530351/full.

* Com informações de Mainary Nascimento, do CISM.


 

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