Procuram-se dinossauros
18 de julho de 2005

Responsável pela descrição de cinco das 11 espécies de dinossauros encontradas no Brasil, Alexander Kellner, da UFRJ, conta, em conferência nesta segunda (18/7) na SBPC, que o país tem muito mais espécies a serem descobertas

Procuram-se dinossauros

Responsável pela descrição de cinco das 11 espécies de dinossauros encontradas no Brasil, Alexander Kellner, da UFRJ, conta, em conferência nesta segunda (18/7) na SBPC, que o país tem muito mais espécies a serem descobertas

18 de julho de 2005

 

Por Washington Castilhos

Agência FAPESP - "Nenhum outro grupo de animais extintos consegue capturar mais a atenção das pessoas do que os dinossauros", afirma o paleontólogo Alexander Kellner, do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Kellner, que descreveu nada menos que cinco das 11 espécies de dinossauros descobertas no Brasil, apresenta a conferência Caçadores de dinossauros – As descobertas no Brasil nesta segunda-feira (18/7), na 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Fortaleza. O paleontólogo vai falar sobre cada um dos achados e sua importância no cenário mundial.

O pesquisador afirma que talvez a contribuição mais expressiva do país para a paleontologia tenha sido a descoberta do Santanaraptor placidus, descrito por ele em 1999. Ao fazer escavações na bacia do Araripe, área localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, Kellner encontrou uma das maiores raridades já reportadas em um animal fóssil.

"A espécie apresenta parte do couro, fibras musculares e vasos sangüíneos petrificados e preservados. Esse tipo de preservação é único para dinossauros em todo o mundo, e somente essa espécie brasileira tem o material", explica. A camada onde o animal foi encontrado data de 110 milhões de anos.

Apesar de ser o dinossauro brasileiro mais famoso mundialmente, o Santanaraptor é a espécie de menor tamanho – mede menos de 2 metros de comprimento. O maior predador terrestre que viveu em tempos passados no Brasil foi o Pycnonemosaurus nevesi, descrito por Kellner e pelo paleontólogo Diógenes de Almeida Campos, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em 2002.

"O Pycnonemosaurus atingia um tamanho de 7 a 8 metros de comprimento, com base no tamanho das vértebras, dentes e ossos de um membro posterior e da bacia de um único indivíduo encontrado no Mato Grosso, em rochas com aproximadamente 80 milhões de anos", diz. Outro dinossauro de estatura semelhante foi o Gondwanatitan faustoi, descoberto em 1985 e descrito em 1999.

Potencial pouco explorado

Outra importante contribuição que as descobertas no Brasil trouxeram para o estudo dos dinossauros é o fato de animais semelhantes a alguns encontrados aqui, como o Irritator challengeri e o Angaturama limai, terem vivido também na África, segundo registros. "Isso reforça a hipótese da existência, em diferentes tempos, de uma fauna dinossauriana comum entre a América do Sul e o continente africano, quando estes ainda estavam unidos", afirma Kellner.

Na Argentina e na África foram encontrados animais semelhantes ao Pycnonemosaurus. Aém disso, herbívoros como o Unaysaurus tolentinoi, descrito em 2004 e procedente de depósitos triássicos do Rio Grande do Sul, já tinham sido registrados em diversas partes do mundo.

"Devemos lembrar que, durante o Triássico (230 milhões de anos atrás), quando o Unaysaurus tolentinoi vivia em nosso país, todos os continentes estavam reunidos no supercontinente chamado Pangea, o que possibilitava a esses dinossauros e outros animais se dispersar para diferentes partes do globo", lembra o pesquisador.

Kellner afirma ser difícil encontrar um esqueleto inteiro de dinossauro, ou até mesmo o crânio de um desses animais. "Todos nós queremos encontrar o crânio porque é a parte que tem mais informações." Porém, dos 11 dinossauros descobertos no Brasil, apenas quatro foram encontrados com parte do crânio: o Unaysaurus tolentinoi, o Irritator challengeri, o Angaturama limai e o Staurikosaurus pricei, este último coletado em 1936 de sedimentos triássicos do Rio Grande do Sul e publicado em 1970, tornando-se o primeiro dinossauro do Brasil a ser descrito.

Kellner acredita que no país existem muito mais espécies do que as registradas, mas falta investimento para levar a diante as pesquisas. "As descobertas do Brasil ainda não são condizentes com o seu potencial, particularmente quando comparadas com outros países como China, Estados Unidos e Canadá. No mundo, já foram encontradas mais de mil espécies", ressalta.

"É necessário um maior investimento para as atividades de campo. No dia em que começarmos a cavar para valer em São Paulo, acharemos muito mais fósseis do que em qualquer outro lugar, e não somente dinossauros", afirma Kellner.

O cientista da UFRJ conta que os dinossauros são importantes para atrair o interesse para a paleontologia, mas o ideal seria estender ao público o conhecimento sobre a evolução. "A maioria dos dinossauros se extinguiu e apenas um grupo sobreviveu: as aves. O fato de que esses ‘animais emplumados’ sejam considerados dinossauros modificados é apenas mais um dos pontos que ilustram os avanços alcançados pela paleontologia", lembra.


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