Encontro ocorreu em 20 de março no IMar-Unifesp (foto: Elton Alisson/Agência FAPESP)
Em evento realizado em Santos, coordenadores do Programa FAPESP para o Atlântico Sul e Antártica iniciam mapeamento da ciência oceânica paulista
Em evento realizado em Santos, coordenadores do Programa FAPESP para o Atlântico Sul e Antártica iniciam mapeamento da ciência oceânica paulista
Encontro ocorreu em 20 de março no IMar-Unifesp (foto: Elton Alisson/Agência FAPESP)
Elton Alisson | Agência FAPESP – O Brasil possui uma área marítima de cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados (km2), que abrange 17 Estados e 443 municípios costeiros, onde vivem 18% da população brasileira. A despeito dessa importância, o investimento em pesquisa oceânica no país ainda é muito baixo, aponta Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) e coordenador do Programa FAPESP para o Atlântico Sul e Antártica (PROASA).
“O Brasil é uma nação oceânica. Temos dois terços do território nacional dentro d’água e a economia associada ao ambiente marítimo é estimada em 19% do PIB [Produto Interno Bruto] nacional. Entretanto, o investimento em pesquisa oceânica no Brasil corresponde a 0,03% do total do dispêndio em ciência no país, contra 1,7% da média mundial”, compara.
A fim de aumentar o conhecimento sobre esse tema, seria necessário ampliar os investimentos do país nessa área em, pelo menos, 60 vezes, avalia o pesquisador.
“Isso representa um desafio enorme. E não adianta só aumentar, mas é preciso manter a previsibilidade dos recursos para fazermos ciência e desenvolvermos diferentes sistemas de conhecimento, abordagens e fortalecer as observações para preenchermos lacunas no conhecimento sobre o oceano, especialmente sobre o Atlântico Sul e a Antártica. Esses são alguns dos objetivos do PROASA”, disse o pesquisador durante o evento “Diálogos PROASA”.
O objetivo do encontro, realizado em 20 de março no Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), campus da Baixada Santista, foi disseminar informações, discutir as linhas de pesquisa apoiadas e apresentar a chamada de propostas do programa para a comunidade científica na área de ciências oceânicas para viabilizar a implementação dos projetos.
Outros objetivos foram: iniciar o mapeamento da ciência oceânica no Estado de São Paulo, avaliar a infraestrutura existente e identificar as necessidades, buscando integrar a comunidade científica da área para ampliar, diversificar e qualificar o protagonismo do país na agenda de sustentabilidade do oceano, com foco no Atlântico Sul e na Antártica.
“O Brasil é um líder geopolítico e científico nessas duas regiões e deve expandir esse papel por meio do fortalecimento do seu protagonismo. O país, contudo, não lidera nenhum programa da Década do Oceano [proclamada pela Organização das Nações Unidas para os anos de 2021 a 2030]. E isso é um problema. Estamos envolvidos, mas não protagonizando”, afirmou Turra.
Segundo o pesquisador, o Estado de São Paulo possui instituições e especialistas em ciências oceânicas, mas com influência global ainda limitada.
“A ideia do PROASA é atuar como facilitador de um processo de estabelecimento e fortalecimento de parcerias e sinergias para amplificar e qualificar o sistema de ciência, tecnologia e inovação do Estado de São Paulo e do país, visando aumentar seu protagonismo e competitividade na agenda nacional e internacional de oceano e Antártica e na transição para a sustentabilidade”, frisou Turra.
Um dos valores e princípios do programa é promover nos projetos apoiados abordagens inter e transdisciplinares, integrativas e inclusivas, aproximando as ciências naturais e humanas, e valorizar diferentes sistemas de conhecimento, como o científico e o tradicional, o local e o indígena.
“Outra premissa do PROASA é fomentar processos de codesign e coprodução do conhecimento, potencializando a integração de produtores e usuários das informações, fortalecendo parcerias institucionais e diálogos entre atores sociais”, afirmou Turra.
Atores locais
A interlocução com os atores locais tem sido uma das principais prioridades nos projetos desenvolvidos nos últimos anos por pesquisadores vinculados ao Instituto do Mar da Unifesp, apontou Igor Dias Medeiros, diretor da instituição em palestra proferida na abertura do evento.
“Desde o início da constituição do Instituto do Mar já buscamos uma interlocução com os atores locais aqui da Baixada Santista para entender o território, os conflitos e as oportunidades”, afirmou.
Além disso, os pesquisadores da instituição têm firmado parcerias com outras universidades e o poder público da região por meio do estabelecimento de convênios e a realização de projetos de desenvolvimento com as secretarias de meio ambientes dos municípios de Santos, São Vicente, Guarujá e, mais recentemente, de Cubatão.
“Temos contribuído com a elaboração de diagnósticos com essas instituições, que têm ajudado a fomentar políticas públicas na Região Metropolitana da Baixada Santista. O Ministério Público também tem nos procurado com uma certa frequência, o que mostra nossa capacidade e potencial de contribuir para o desenvolvimento dessa região do litoral do Estado de São Paulo”, disse.
Os pesquisadores da instituição também ocupam assentos nos conselhos na área ambiental da região e os assuntos discutidos no âmbito dessas instâncias são trazidos para o colegiado, disse Medeiros.
“Cada um dos professores chegou à instituição com uma linha de pesquisa que, a partir das relações com os atores locais e da formação dos grupos, foi alinhada com as demandas da Região Metropolitana da Baixada Santista. E hoje temos uma boa inserção local, além de mantermos, obviamente, colaborações nacionais e internacionais”, sublinhou.
Na avaliação de Turra, esse arranjo entre diferentes atores no processo de produção de conhecimento é fundamental para promover transformações em municípios costeiros e buscar soluções para problemas como o da poluição marinha, que atinge não só a Baixada Santista como diversas outras cidades litorâneas no país e no mundo.
“Quando se estabelece um processo de coprodução e codesenho, que integra ciência, sociedade, tomadores de decisão e o setor privado em uma perspectiva elevada de relação institucional, com confiança, comunicação clara e diálogo aberto, é possível construir estratégias para promover transformações”, avaliou.
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