Pesquisa feita na Fiocruz aponta que 40% dos cães de Paulista (PE) estão infectados com o parasita causador da leishmaniose visceral (foto: Leishmania infantum chagasi/Filipe Dantas Torres)
Pesquisa feita na Fiocruz aponta que 40% dos cães de Paulista (PE) estão infectados com o parasita causador da leishmaniose visceral. Animal é o principal hospedeiro do ciclo doméstico de transmissão da doença para humanos
Pesquisa feita na Fiocruz aponta que 40% dos cães de Paulista (PE) estão infectados com o parasita causador da leishmaniose visceral. Animal é o principal hospedeiro do ciclo doméstico de transmissão da doença para humanos
Pesquisa feita na Fiocruz aponta que 40% dos cães de Paulista (PE) estão infectados com o parasita causador da leishmaniose visceral (foto: Leishmania infantum chagasi/Filipe Dantas Torres)
Agência FAPESP - O melhor amigo do homem é o principal hospedeiro do ciclo doméstico de transmissão da leishmaniose visceral. Segundo dados da Secretaria de Saúde de Paulista, município com cerca de 300 mil habitantes no litoral norte de Pernambuco, apenas 3% dos cães da cidade estariam infectados com o parasito causador da doença, a Leishmania infantum chagasi.
Mas, segundo estudo feito no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Recife, o número de cães infectados em Paulista pode ser mais de dez vezes maior. O veterinário Filipe Dantas Torres selecionou aleatoriamente 322 cães da cidade durante uma campanha de vacinação contra a raiva realizada em 2006 na cidade. Todos os cães tinham proprietários.
Amostras sangüíneas dos animais foram coletadas com o auxílio de kits de testes para diagnóstico da doença fornecidos pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). Após análises em laboratório, Torres detectou a presença de anticorpos contra a Leishmania infantum chagasi em 130 animais (40% da amostra).
"Essa é a maior soropositividade da doença em cães já relatada em Pernambuco. A prevalência da Leishmania em cães estava sendo subestimada pelos inquéritos municipais de Paulista", disse Torres, pesquisador do Departamento de Imunologia do CpqAM, à Agência FAPESP. O trabalho, apresentado como dissertação de mestrado, foi orientado pelo professor Sinval Brandão Filho.
A leishmaniose visceral é transmitida pelo mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis), vetor que primeiramente pica um animal hospedeiro infectado para depois atingir o homem. "A alta prevalência da doença em cães hospedeiros pode estar relacionada com um possível surto da doença na região. Os cuidados com prevenção devem ser redobrados a partir de agora", disse Torres.
Dos 130 animais infectados, 111 não apresentavam sintomas clínicos característicos da doença como perda de peso, dermatite, úlceras na pele e conjuntivite. "O risco de infecção humana nesse caso é ainda maior. Os donos desconhecem que os animais têm o parasito, pois eles aparentemente estão sadios", afirmou.
O trabalho aponta que, nos últimos 16 anos, 32 casos de leishmaniose visceral foram registrados em Paulista, sendo 80% em crianças menores de 10 anos. Os dados foram extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) da Secretaria de Saúde do município.
Em Pernambuco, há uma média anual de 170 notificações. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil ocorrem em média 3 mil novos registros da doença por ano. "Como a detecção desses casos, na maioria das vezes, ocorre apenas quando os pacientes chegam ao hospital, esses números também podem estar subestimados", disse Torres.
Uma das conclusões do estudo é que, embora seja uma doença originalmente de áreas rurais, a leishmaniose visceral é cada vez mais constante em áreas urbanas. A migração da população traz um grande contigente de pessoas e animais infectados para as grandes cidades.
"Podemos dizer que a leishmaniose visceral está urbanizada em todo o Brasil, principalmente em ambientes ligados à pobreza. Paulista foi escolhida para o estudo justamente por ser um município 100% urbano", explicou o pesquisador.
Três artigos científicos sobre o trabalho foram publicados em duas revistas científicas nacionais, a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e a Revista de Patologia Tropical, e uma norte-americana, a Veterinari Parasitology.
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