Ulrike Eickhoff, diretora do Departamento de Centros de Pesquisa, Carreiras e Infraestrutura da DFG, Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, e Katja Becker, presidente da DFG (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Cooperação internacional
Presidente da agência alemã DFG apresenta a estratégia de excelência para pesquisa da instituição
05 de junho de 2025

Katja Becker e colaboradores desenvolveram o tema em palestra na FAPESP

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Ulrike Eickhoff, diretora do Departamento de Centros de Pesquisa, Carreiras e Infraestrutura da DFG, Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, e Katja Becker, presidente da DFG (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

 

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O programa The Excellence Strategy (ExStra) é uma iniciativa conjunta do governo federal e dos governos estaduais da Alemanha, implementada pela Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (Deutsche Forschungsgemeinschaft – DFG) e pelo Conselho Alemão de Ciências e Humanidades (Wissenschaftsrat – WR). Seu objetivo é fortalecer a posição da Alemanha como um polo de pesquisa de excelência no contexto global.

Uma delegação de alto nível da DFG, tendo à frente a presidente da instituição, Katja Becker, apresentou o ExStra a autoridades acadêmicas e pesquisadores do Estado de São Paulo. O evento – “FAPESP - DFG - The Excellence Strategy (ExStra)” –, realizado na sede da FAPESP em 2 de junho, teve a participação de Marco Antonio Zago (presidente da FAPESP), de Marcio de Castro (diretor científico), de Martina Hackelberg (consulesa-geral da Alemanha em São Paulo) e de Ulrike Eickhoff (diretora do Departamento de Centros de Pesquisa, Carreiras e Infraestrutura da DFG).

Becker mencionou a longa e bem-sucedida parceria entre DFG e FAPESP: “As duas agências compartilham quase 20 anos de colaboração. Juntas, financiamos projetos de excelência em um amplo leque de áreas científicas desde 2009”. E ressaltou que a ciência apoiada pela DFG é movida pela curiosidade e pela liberdade acadêmica. “Tragicamente, em algumas partes do mundo, essa cultura está sob ameaça. O dano causado por ataques à liberdade científica e pela supressão ideológica é devastador. Por isso, precisamos defender a ciência independente, baseada em critérios de qualidade e livre de influências externas”, afirmou.

Zago lembrou que a Alemanha é hoje o terceiro maior parceiro científico do Estado de São Paulo e que a parceria aumentou significativamente nos últimos anos. “O fator de impacto [FI, que diz respeito à quantidade de citações] médio das publicações resultantes da colaboração entre pesquisadores paulistas e alemães é de 3,8, o que mostra a alta qualidade da produção conjunta. Essa forte colaboração e, em particular, o crescimento recente são devidos, em grande medida, aos acordos firmados entre as duas agências”, disse.


Becker celebrou a bem-sucedida parceria entre DFG e FAPESP, iniciada em 2009; Zago lembrou que a Alemanha é hoje o terceiro maior parceiro científico do Estado de São Paulo (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

Na sequência, Castro apresentou números sobre o desempenho em ciência e tecnologia do Estado de São Paulo e a colaboração brasileira e paulista com a Alemanha. “Especificamente no âmbito da cooperação DFG-FAPESP, no período 2009-2025, tivemos 74 projetos de pesquisa submetidos, dos quais 20 foram aprovados, com um aporte de mais de € 1 milhão pela FAPESP, contemplando 13 universidades ou institutos de pesquisa em 11 áreas do conhecimento”, relatou.

A cooperação também foi o fio condutor da fala da consulesa Martina Hackelberg. “O mundo enfrenta transformações profundas, da mudança climática e do risco de pandemias à digitalização e à inteligência artificial. Esses desafios afetam todos nós e devemos abordá-los juntos. Especialmente em um contexto de polarização geopolítica, esta é uma mensagem que não pode ser enfatizada o suficiente: a colaboração é mais frutífera do que a competição”, pontuou.

A apresentação detalhada do programa The Excellence Strategy foi feita por Ulrike Eickhoff. O ExStra organiza-se em duas linhas principais de financiamento: os Clusters of Excellence (Exzellenzcluster) e as Universities of Excellence (Exzellenzuniversitäten). A primeira linha prevê o financiamento de projetos de pesquisa interdisciplinares, ambiciosos e internacionalmente relevantes. Cada cluster é sediado por uma universidade, podendo haver colaboração com outras instituições. A segunda linha contempla o apoio institucional às universidades que abrigam pelo menos dois clusters de excelência. E visa fortalecer o perfil estratégico da universidade como um todo.

Eickhoff informou que os Clusters of Excellence estão abertos a todas as áreas do conhecimento. E cada qual pode receber até € 7,7 milhões por ano, ao longo de sete anos, com possibilidade de renovação. “Os clusters promovem ambientes onde a excelência floresce de forma sustentável, com forte integração entre pesquisa e formação de jovens cientistas. Eles também fortalecem o perfil das universidades e estimulam cooperação com instituições não universitárias”, disse.

A seleção recente, finalizada em maio de 2025, aprovou 70 clusters, dos quais 25 são novos. Eles estão distribuídos por 43 universidades em 13 dos 16 Estados da Alemanha, muitos deles organizados em consórcios interdisciplinares e com parceiros internacionais.

A escolha dos clusters é baseada em critérios científicos. O processo seletivo é conduzido por uma comissão de 39 especialistas com perfis variados e os projetos são analisados segundo quatro grupos de critérios: qualidade da pesquisa, perfil dos pesquisadores, estrutura e estratégia institucional e ambiente institucional. “A interdisciplinaridade é incentivada, mas não é obrigatória. Os projetos disciplinares têm as mesmas chances, desde que cumpram os critérios de excelência”, observou Eickhoff.

Katja Becker fez questão de acrescentar que o processo é direcionado por critérios científicos e não por critérios políticos. E destacou que a estratégia é também uma demonstração de confiança: “Trata-se de um compromisso com a ciência de alta qualidade. Confiamos nas universidades e nos pesquisadores para decidirem suas agendas, com flexibilidade e liberdade”.

Durante o debate, Zago ressaltou que o modelo alemão dialoga com iniciativas da FAPESP, especialmente com os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs). “Nosso processo também é conduzido por pesquisadores. Abrimos chamadas competitivas para diferentes áreas do conhecimento, mas não definimos os temas. Os grupos têm liberdade para propor”, explicou.

Ele destacou que, embora os CEPIDs se assemelhem aos Clusters of Excellence na abordagem bottom-up e na ênfase em excelência, o modelo alemão diferencia-se por envolver representantes do governo na decisão final. “No Brasil, não adotamos isso, embora tenhamos iniciativas, como o programa Centros de Ciência para o Desenvolvimento [CCDs], que incluem temas sugeridos por órgãos estaduais”, afirmou.

Os dados apresentados por Eickhoff revelam uma presença crescente de brasileiros nos Clusters of Excellence. Em 2024, havia 56 pesquisadores brasileiros envolvidos, quase metade deles doutorandos. Segundo a diretora da DFG, 28% dos participantes dos clusters são estrangeiros. “A internacionalização é parte vital da inovação científica”, pontuou. E Becker complementou: “Estamos muito interessados em ampliar essa participação. Os dados mostram que boas pessoas atraem boas pessoas. Já há brasileiros envolvidos e queremos fortalecer esses vínculos nos próximos anos.”

Becker é médica e bioquímica e atua como presidente da DFG desde 2020. Ela estudou medicina na Universidade de Heidelberg, onde obteve seu doutorado em 1988. E, em 1996, na mesma instituição, obteve seu título de qualificação para docência universitária na área de bioquímica. Becker adquiriu experiência clínica e de pesquisa na Nigéria e em Gana, na África; trabalhou como pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Sydney, na Austrália; e como professora associada na Universidade de Würzburg, na Alemanha. De 2015 a 2017, representou a Alemanha no comitê científico da Cooperação Europeia em Ciência e Tecnologia (Cost).

O evento “FAPESP - DFG - The Excellence Strategy (ExStra)” pode ser assistido na íntegra em: www.youtube.com/live/FU_4jWT1pr8.
 

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