Apesar de Belém formar cerca de mil profissionais de TI por ano, a maioria muda de atividade por falta de emprego ou parte para atuar no desenvolvimento de softwares em empresas em outras regiões do país (foto: Eduardo Cesar)

Pouca demanda para TI no Norte
17 de julho de 2007

Apesar de Belém formar cerca de mil profissionais de TI por ano, a maioria muda de atividade por falta de emprego ou parte para atuar no desenvolvimento de softwares em empresas em outras regiões do país

Pouca demanda para TI no Norte

Apesar de Belém formar cerca de mil profissionais de TI por ano, a maioria muda de atividade por falta de emprego ou parte para atuar no desenvolvimento de softwares em empresas em outras regiões do país

17 de julho de 2007

Apesar de Belém formar cerca de mil profissionais de TI por ano, a maioria muda de atividade por falta de emprego ou parte para atuar no desenvolvimento de softwares em empresas em outras regiões do país (foto: Eduardo Cesar)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Três instituições de ensino de Belém – o Instituto de Estudos Superiores da Amazônia, a Universidade da Amazônia e a Universidade Federal do Pará (UFPA) – formam cerca de mil profissionais por ano na área de tecnologia da informação (TI), sendo que 64% produzem trabalhos de conclusão de curso em desenvolvimento de softwares.

"Desses profissionais, pelo menos 600 estão prontos para ingressar no setor produtivo para desenvolver softwares, mas a maioria acaba mudando de atividade por falta de emprego na região Norte ou vai atuar fora do estado. Nossos cérebros estão fugindo do Pará", disse Rodrigo Quites Reis, professor do Centro de Ciências Exatas e Naturais da UFPA.

Reis participou da mesa-redonda "Desafios da Tecnologia de Informação para o Desenvolvimento da Amazônia", durante a 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na semana passada, em Belém, que abordou gargalos do mercado de software no Norte e destacou a importância de atrair novos investimentos para o setor.

Segundo Reis, o principal motivo para uma empresa de software se estabelecer na região seria atender à crescente demanda interna, "uma vez que praticamente todos os produtos de TI comprados pelas grandes empresas da região, como siderúrgicas e mineradoras, consomem softwares que são desenvolvidos em outros estados".

"Na Zona Franca de Manaus, por exemplo, a maioria dos produtos de tecnologia embarcada, como eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo, pouco utiliza softwares desenvolvidos por profissionais e empresas da região", afirmou.

O professor da UFPA destacou, no entanto, um ponto favorável para a expansão do setor: até 2004, as tecnologias da informação e comunicação não eram consideradas um setor prioritário no Pará. A partir daquele ano o cenário começou a mudar, com o Programa InovarPará, lançado pelo governo estadual, por meio da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

O programa concedeu apoio financeiro de até R$ 150 mil a pesquisadores e empresas paraenses nas áreas de agrobioindústria, aproveitamento econômico de recursos naturais, energia, tecnologia da informação, tecnologia aplicada à saúde, turismo e verticalização mineral.

"O que mais chamou a atenção nesse edital foi que, dos 50 projetos submetidos em todas as áreas do conhecimento contempladas, 43 eram da área de TI. Isso reflete a demanda reprimida do Norte, o que justifica novos estímulos ao setor para que essas pessoas permaneçam na região e desenvolvam produtos voltados para a cultura e as necessidades locais", disse Reis.


Poucas bolsas

Altigran Soares da Silva, professor do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e diretor da Sociedade Brasileira da Computação, ilustrou o debate com números sobre o fomento a pesquisa e desenvolvimento de software na Amazônia.

Segundo ele, em todo o Brasil existem atualmente 263 pesquisadores com bolsas de produtividade científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de ciências da computação, o que equivale a 2,5% do total de bolsas concedidas. Dessas, apenas três estão na região Norte.

"Sem contar que, apesar da grande demanda de recursos humanos em desenvolvimento de software na região, o CNPq mantém 231 bolsas de mestrado no Brasil todo na área de computação, sendo também três na região Norte", apontou.

No que se refere aos programas de pós-graduação no Brasil, ao todo são 43 cursos de mestrado e 14 de doutorado na área de computação, sendo que, na região Norte, são apenas dois cursos de mestrado, um na UFPA e outro na Ufam, e nenhum de doutorado. As duas entidades formam, juntas, cerca de 40 mestres por ano.

Claudia Maria Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas, citou aplicações práticas das tecnologias da informação e comunicação para o suporte a pesquisas desenvolvidas na Amazônia.

"A análise das interações entre espécies distintas é um dos maiores desafios dos pesquisadores em biodiversidade, como, por exemplo, a diferenciação de nomenclaturas de nomes de insetos e plantas, feita por meio de ferramentas computacionais da área de banco de dados", destacou.

Outro problema normalmente solucionado pelos profissionais de TI, segundo ela, é o desenvolvimento de plataformas para o armazenamento, interpretação e recuperação das informações coletadas em campo, ao lado do desenvolvimento de modelos matemáticos para a previsão de ocorrências futuras no âmbito das mudanças climáticas, de modo a evitar desastres, a expansão do desmatamento e a pesca predatória.

"Outra aplicação dos softwares que poderiam ser desenvolvidos na região Norte por empresas locais é o tratamento de imagens de satélite para a previsão de safras e para a identificação, nos meses que antecedem o plantio, de medidas para aumentar a irrigação e o uso exato de fertilizantes na agricultura", disse.


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