Estudo feito na Unicamp conclui que pau-brasil tem semelhanças com madeiras comerciais de alta durabilidade, como o angico-preto. Madeira tem alta resistência a cupins e fungos
Estudo feito na Unicamp conclui que pau-brasil tem semelhanças com madeiras comerciais de alta durabilidade, como o angico-preto. Madeira tem alta resistência a cupins e fungos
Agência FAPESP – A árvore considerada símbolo do país, o pau-brasil (Caesalpinia echinata), acaba de ter características de resistência de sua madeira destacadas em pesquisa feita no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O trabalho, de autoria de Claudia Alves da Silva, apresentado como tese de doutorado, analisou a composição da parede celular da madeira do pau-brasil com o objetivo de verificar a resistência a organismos xilófagos, como cupins e fungos. O estudo foi orientado por Márcia Regina Braga, professora do Instituto de Botânica de São Paulo e credenciada junto ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural da Unicamp.
As amostras de pau-brasil foram coletadas na Reserva Biológica de Mogi-Guaçu do Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que conta com uma plantação para fins de pesquisa com cerca de 270 árvores da espécie com idades estimadas em 25 anos. Foi utilizado o cerne do pau-brasil, a parte do tronco em que está o corante vermelho conhecido como brasileína.
Corpos-de-prova da madeira permaneceram durante várias semanas em contato com culturas de fungos e com cupins, separadamente. Em seguida, as amostras foram pesadas e o desgaste na madeira mensurado. As análises foram realizadas em parceria com o Laboratóio de Preservação de Madeiras e Biodeterioração de Materiais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
As características do cerne do pau-brasil foram comparadas com as de madeiras como o eucalipto (Eucalyptus grandis), pinus (Pinus elliotti) e angico-preto (Anadenathera macrocarpa), esta última tradicionalmente utilizada na confecção de dormentes de trens.
"O pau-brasil se comportou de maneira semelhante ao angico-preto, considerada uma madeira comercial de altíssima resistência", disse Marcia Regina Braga à Agência FAPESP. "Os cupins não só não conseguiram perfurar a madeira como morreram, devido às substâncias tóxicas presentes no cerne."
Enquanto 85,2% dos cupins que foram colocados em contato com a madeira do pau-brasil morreram, o índice de mortalidade dos insetos no angico-preto foi de 86,3%. Em pínus esse índice foi de 55,4%, e, no eucalipto, de 32,5%. Quanto à resistência aos fungos apodrecedores, apenas 1% da madeira do pau-brasil sofreu desgaste. Essa porcentagem foi cerca de 2% para o angico-preto, 10% para o pínus e 16% para o eucalipto.
Conhecer para preservar
Segundo Márcia Braga, conhecer características de resistência do pau-brasil é importante para as atividades de cultivo e de uso sustentável da madeira. "Sabendo que o pau-brasil é uma espécie resistente a organismos xilófagos, além de cultivos em bosques experimentais poderíamos incentivar programas de arborização urbana com a espécie, por exemplo", apontou.
Apesar de estar na lista de espécies ameaçadas de extinção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o pau-brasil ainda é comercializado, especialmente para a confecção de arcos de instrumentos de corda, como o violino.
"Não existe uma madeira com propriedades acústicas tão peculiares como o pau-brasil para essa finalidade, o que faz com que continue a ser explorado ilegalmente", destacou Márcia.
A ocorrência natural do pau-brasil se restringe atualmente a poucas áreas remanescentes na Mata Atlântica localizadas entre os Estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Os resultados da tese serão divulgados em artigo na revista International Biodeterioration and Biodegradation.
O trabalho é um dos desdobramentos do projeto temático Caesalpinia echinata (pau-brasil): da semente à madeira, um modelo para estudos de plantas arbóreas tropicais brasileiras, coordenado pela professora Rita de Cássia Leone Figueiredo Ribeiro, da Seção de Fisiologia e Bioquímica de Plantas do Instituto de Botânica, concluído em 2005 com apoio da FAPESP.
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