Pesquisadores discutem, em evento comemorativo aos 40 anos da SBF, maneiras de transformar conhecimentos acadêmicos em inovações tecnológicas (foto: T. Romero)

Potencial econômico da física
03 de outubro de 2006

Pesquisadores como Adalberto Fazzio, da USP, discutem, em evento comemorativo aos 40 anos da Sociedade Brasileira de Física, maneiras de transformar conhecimentos acadêmicos em inovações tecnológicas

Potencial econômico da física

Pesquisadores como Adalberto Fazzio, da USP, discutem, em evento comemorativo aos 40 anos da Sociedade Brasileira de Física, maneiras de transformar conhecimentos acadêmicos em inovações tecnológicas

03 de outubro de 2006

Pesquisadores discutem, em evento comemorativo aos 40 anos da SBF, maneiras de transformar conhecimentos acadêmicos em inovações tecnológicas (foto: T. Romero)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Os físicos brasileiros não se limitam a ter capacidade e disposição para contribuir em atividades de inovação nas empresas. Mais do que em qualquer outro momento, eles estão conscientes de que trilhar esse caminho é imprescindível. Dos cerca de 250 doutores em física formados por ano em todo o país, mais de 70% seguem carreiras acadêmicas. A grande preocupação dos especialistas, no entanto, é a possível saturação desse "mercado acadêmico" a médio prazo.

"Os físicos brasileiros podem contribuir, e muito, para a inovação tecnológica nas empresas. Eles produzem conhecimento de altíssima qualidade, mas precisam começar a gerar riqueza de maneira mais objetiva em centros de pesquisas industriais", disse Adalberto Fazzio, presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), durante a cerimônia de abertura do encontro comemorativo dos 40 anos da entidade, nesta segunda-feira (2/10), em São Paulo.

Para efeito de comparação, nos Estados Unidos são formados por ano cerca de 1,5 mil doutores em física, sendo que apenas 40% vão para a academia. Os outros são absorvidos pelas empresas. Um dos resultados visíveis dessa condição é que, segundo Fazzio, boa parte do PIB norte-americano é proveniente de tecnologias derivadas de física.

Os físicos brasileiros são responsáveis por 2% das publicações internacionais em revistas indexadas. Mais de 900 alunos são formados por ano nos cursos de graduação, além de o país contar com 43 cursos de mestrado e 28 de doutorado.

"Apesar de representar menos de 3% dos cursos de doutorado do país, a física responde por quase 10% da produção científica nacional. E esse é um número extraordinário", disse José Fernandes de Lima, diretor de Programas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

"Isso se deve, em grande parte, à existência de uma comunidade científica que tem um projeto coletivo comum e, entre outras coisas, está trabalhando para que a física possa gerar benefícios econômicos e sociais para o país", disse Lima.


Teoria e prática distantes

Adalberto Fazzio, que também é professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que o distanciamento entre teoria e prática é uma das razões que explica a pouca transferência do conhecimento acadêmico para as empresas e a baixa participação da física nas atividades de inovação tecnológica. Segundo ele, tal distanciamento faz com que muitos teóricos brasileiros precisem recorrer a dados experimentais da literatura.

"Mesmo sabendo que as atividades voltadas à prática experimental ainda têm um custo muito elevado para a realidade da pesquisa científica nacional, devemos aumentar o número de físicos experimentais no país e incentivar a construção de laboratórios dentro das empresas", disse Fazzio à Agência FAPESP. "Políticas e incentivos já existem e estão à disposição, em especial com a Lei da Inovação. O que está faltando é a implementação mais agressiva desses incentivos", disse.

O presidente da SBF também chamou a atenção para a existência de um número equivalente de físicos experimentais e teóricos no país, algo em torno de 50% para cada. "Esse é o maior descompasso da física brasileira. O ideal seria termos pelo menos quatro físicos experimentais para cada teórico. Se o objetivo é gerar riqueza, a ciência deve ser prática", sugere.

O objetivo do evento comemorativo da SBF, que termina nesta terça-feira (3/10) e ocorre no Centro de Convenções do Anhembi, na sala Elis Regina, é mostrar os avanços em áreas que têm se destacado no país, como física de altas energias, mecânica estatística, física da matéria condensada, sistemas quânticos abertos, física de plasmas, física computacional, nanociência e nanotecnologia.

"Por ter um caráter altamente interdisciplinar, praticamente todas as técnicas utilizadas para a caracterização de um produto nanotecnológico, por exemplo, têm origem na física. Hoje não há mais fronteiras entre a química e a física, por exemplo", disse Fazzio.


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