A parte sul de Belém é a que mais dialoga com o rio
(Foto: Prefeitura de Belém)
Geográfos da Universidade Federal do Pará analisam processos de intervenção feitos nos últimos anos na orla de Belém. Em vez da metáfora oficial de "janelas para o rio", os pesquisadores acreditam que o melhor caminho é incluir as necessidades dos ribeirinhos
Geográfos da Universidade Federal do Pará analisam processos de intervenção feitos nos últimos anos na orla de Belém. Em vez da metáfora oficial de "janelas para o rio", os pesquisadores acreditam que o melhor caminho é incluir as necessidades dos ribeirinhos
A parte sul de Belém é a que mais dialoga com o rio
(Foto: Prefeitura de Belém)
Agência FAPESP - As construções na orla de Belém (PA) sintetizam a própria história da cidade. As águas amazônicas da Baía do Guajará, do Marajó e do rio Guamá testemunharam vários fatos históricos desde a fundação da cidade em 12 de janeiro de 1616.
Com o passar dos anos, entretanto, parte da capital paraense deu as costas para o rio, conforme revela um estudo que será concluído em março por um grupo de geógrafos da Universidade Federal do Pará (UFPA).
"Está tudo na orla. O ciclo da borracha, por exemplo, permanece representado até hoje pelo Mercado do Ver-o-Peso", explicou à Agência FAPESP Saint-Clair da Trindade Júnior, professor do departamento de geografia da UFPA e coordenador do projeto Apropriação do espaço e controle do uso do solo na orla fluvial de Belém: intervenções, planejamento e gestão urbana, que está em andamento desde 2001.
"O mesmo vale para o período da fundação da cidade ou para o momento em que as ordens religiosas chegaram a Belém. Os anos mais recentes, quando o comércio aumentou bastante na região portuária, também estão registrados na orla", disse o geógrafo paraense. Para o pesquisador, até a exclusão social, representada pela favelização na cidade, pode ser encontrada nas margens da Baía do Guajará.
Se parte da cidade acabou negando a orla, o que provocou uma grande apropriação privada de várias áreas na margem fluvial de Belém, em alguns redutos públicos os ribeirinhos ainda dialogam com o rio. "O estudo identificou quatro regiões bem marcadas", explica Trindade Júnior. Duas delas, oeste e norte, foram dominadas pelas empresas de grande porte.
A zona central é representada pelo Mercado Ver-o-Peso e pela Estação das Docas, grande intervenção feita pelos setores público e privado próxima à zona portuária da cidade, nos moldes do que ocorreu no exterior. Buenos Aires, Lisboa e Sydney, por exemplo, também transformaram áreas decadentes em regiões de lazer para a população. Em Belém, o poder oficial chamou essas intervenções de "janelas para o rio".
"As janelas são importantes, claro. Mas na nossa opinião seria melhor que as portas para o rio, que já existem na cidade, fossem mais valorizadas" afirma o geógrafo da UFPA. O pesquisador se refere a outra zona identificada pelas pesquisas do grupo de geografia humana. "Na zona sul, às margens do Guamá, as comunidades ribeirinhas se utilizam do rio no seu dia-a-dia. Os pequenos portos, muitas vezes, funcionam em regime precário", disse.
Apoiado nos resultados da investigação científica, o pesquisador não tem dúvidas em afirmar que Belém precisa deixar de ser uma cidade beira-rio para voltar a ser uma cidade ribeirinha.
"Os projetos de intervenção na zona central da cidade são feitos mais para os turistas. Eles obedecem mais a um sentido contemplativo do rio. Será que se o porto do Açaí, por exemplo, na zona sul, fosse melhorado, não serviria tanto para o dia-a-dia e para o imaginário dos ribeirinhos como para os turistas apreciarem a verdadeira Belém?", questiona Trindade Júnior.
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