Com equipamento de última geração, cientistas ligados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) começam a decifrar genoma da cana-de-açúcar. No primeiro teste, aparelho gerou mais de 11 vezes os dados obtidos nos dois anos do Projeto Genoma Cana (Foto: Miguel Boyayan)

Pontapé inicial
30 de julho de 2009

Com equipamento de última geração, cientistas ligados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) começam a decifrar genoma da cana-de-açúcar. No primeiro teste, aparelho gerou mais de 11 vezes os dados obtidos nos dois anos do Projeto Genoma Cana

Pontapé inicial

Com equipamento de última geração, cientistas ligados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) começam a decifrar genoma da cana-de-açúcar. No primeiro teste, aparelho gerou mais de 11 vezes os dados obtidos nos dois anos do Projeto Genoma Cana

30 de julho de 2009

Com equipamento de última geração, cientistas ligados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) começam a decifrar genoma da cana-de-açúcar. No primeiro teste, aparelho gerou mais de 11 vezes os dados obtidos nos dois anos do Projeto Genoma Cana (Foto: Miguel Boyayan)

 

Agência FAPESP – O sequenciamento do genoma da cana-de-açúcar já está em andamento no Brasil. Na Universidade de São Paulo (USP), um grupo de cientistas vinculados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) realizou a primeira corrida em um pirossequenciador – uma tecnologia de última geração empregada para o sequenciamento genético – obtendo 1,1 milhão de sequências.

A segunda corrida terá início na próxima semana. Como a quantidade de informação gerada a partir da nova tecnologia é muito grande e de alta complexidade, o BIOEN está ampliando a equipe de bioinformática e busca pessoal para a pesquisa em banco de dados, desenvolvimento de ferramentas e análises estatísticas.

Segundo a coordenadora do BIOEN, Glaucia Mendes de Souza, professora do Instituto de Química (IQ) da USP, o resultado da primeira corrida equivale a mais de 11 vezes o trabalho realizado durante dois anos pelo Projeto Sucest-FUN, também conhecido como Projeto Genoma Cana.

O pirossequenciador está instalado no Centro Avançado de Tecnologias em Genômica (CATG) do IQ-USP. “Obtivemos, em uma única corrida, cerca de 335 milhões de pares de bases. O sequenciamento realizado pelo Sucest entre 2001 e 2003 gerou pouco menos de 30 milhões de pares de bases”, disse à Agência FAPESP.

O experimento foi conduzido no CATG por Carlos Hotta, que faz pós-doutorado com bolsa da FAPESP. O trabalho integra as atividades do Projeto Temático “Redes Regulatórias e de Sinalização da Cana-de-Açúcar”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Glaucia.

“O CATG, inaugurado em 2008, é coordenado pelo professor Sergio Verjovski-Almeida [do IQ-USP]. O pirossequenciador 454, da Roche, utilizado no experimento, foi adquirido com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com um custo de US$ 500 mil. A FAPESP financiou cem corridas – os reagentes do sequenciamento em si – com US$ 1 milhão. Os demais custos do projeto somam US$ 4 milhões”, explicou.

Segundo a coordenadora do BIOEN, o objetivo do experimento é identificar as regiões promotoras e variantes que controlam as expressões gênicas e reconhecer padrões de diversidade genética para apoiar os programas de melhoramento da cana-de-açúcar.

“O pirossequenciador 454 é o mais adequado para sequenciar a cana-de-açúcar porque possibilita trabalhar com fragmentos grandes de 450 pares de bases – o que é conveniente porque a cana tem um genoma grande, com mais de 10 bilhões de pares, com muitos trechos repetidos”, explicou.

A tecnologia utilizada no pirossequenciador, conhecida como shotgun, foi empregada no sequenciamento do genoma humano. Com ela, o genoma não é clonado, mas “explodido” em fragmentos pequenos e sequenciado em larga escala. “Mas o genoma humano levou mais de dez anos para ser sequenciado, porque na época eles ainda não tinham o 454 à disposição”, disse.

Formação de pessoal

O projeto Sucest – que envolveu 240 pesquisadores de mais de 40 instituições, sendo 17 delas do exterior – avaliou o transcriptoma da cana e montou um vasto banco de dados sobre o material genético da planta. Para isso foram sequenciados fragmentos de genes denominados ESTs (etiquetas de sequência expressa).

“O projeto nos deu a base para montar o BIOEN. Nessa nova fase, vimos que era preciso ir além das sequências expressas e partir para as sequências completas, porque com elas, entre outras coisas, podemos montar redes regulatórias”, disse Glaucia.

“Por exemplo, se queremos saber como a cana-de-açúcar acumula sacarose e por que uma planta faz mais sacarose e outra faz menos, precisamos entender as redes metabólicas envolvidas na síntese da sacarose. Para saber como ela liga e desliga essas redes, é preciso identificar os genes e as regiões regulatórias, chamadas de promotores”, explicou.

Os promotores, segundo ela, indicam onde, quando e em que medida um determinado gene está sendo expresso. “O que regula a fisiologia da planta – respostas ao estresse, metabolismo de açúcar e crescimento, por exemplo – são essas redes de genes que vão guiar as redes metabólicas”, disse.

Segundo Glaucia, o Programa BIOEN investiu recursos suficientes para fazer cerca de cem corridas. “Com isso, poderíamos obter pelo menos cinco vezes o genoma da cana-de-açúcar”, afirmou.

No entanto, em um primeiro momento os cientistas envolvidos com o Programa BIOEN deverão sequenciar mil trechos lineares do genoma da cana-de-açúcar que tenham regiões de interesse para o programa, entre os quais genes associados com a produção aumentada de sacarose e com resistência e tolerância à seca.

“Serão aproximadamente 300 pedaços sequenciados da variedade R570 – uma cultivar tida como modelo em todo o mundo para o melhoramento genético da planta – e outros 700 de cultivares brasileiros. Mas é importante observar que não vamos concluir o genoma da cana-de-açúcar até o fim de nossos Projetos Temáticos”, disse.

Com o uso do pirossequenciador, os pesquisadores pretendem, dentro de cerca de cinco anos, obter um rascunho do genoma da cana-de-açúcar e, a partir daí, tentar conseguir fragmentos grandes sequenciados a partir de BACs (Cromossomo Artificial de Bactéria, na sigla em inglês), que são fragmentos de mais de 100 mil pares de base introduzidos em um cromossomo artificial de bactéria e sequenciados um a um.

Glaucia afirma que o trabalho faz parte de uma estratégia internacional envolvendo Brasil, Austrália, África do Sul, França e Estados Unidos. “Nesse consórcio, cada um fará um rascunho do genoma de cultivares de seu interesse e vamos trabalhar em conjunto para tentar integrar os dados em um banco de dados mundial de genômica de cana-de-açúcar”, disse.

Para isso, está sendo montada uma equipe de bioinformática internacional. “No Brasil, estamos em busca de pessoal para analisar os dados e necessitamos de recursos humanos em áreas como matemática, estatística, computação e engenharia de sistemas. O desenvolvimento do banco de dados será bastante trabalhoso” afirmou.

Segundo a coordenadora do BIOEN, ter essa tecnologia em pleno funcionamento, com uma equipe formada, montando um banco de dados, fazendo sua análise e trocando informação com grupos internacionais será essencial para levar o conhecimento sobre a cana-de-açúcar para outro patamar.

“A cana está hoje onde o milho estava há dez anos, por isso não temos as ferramentas de biotecnologia para o melhoramento da cana. É difícil entender como o melhoramento foi feito até agora, porque não existe genética estatística disponível para analisar um genoma tão complexo como esse”, disse.

Site do Programa BIOEN: http://bioenfapesp.org
 

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