Poluição interiorana
07 de março de 2005

Estudo detecta correlação positiva entre número de internações infantis por doenças respiratórias no Hospital Universitário de Taubaté e o aumento de determinados tipos de poluentes atmosféricos

Poluição interiorana

Estudo detecta correlação positiva entre número de internações infantis por doenças respiratórias no Hospital Universitário de Taubaté e o aumento de determinados tipos de poluentes atmosféricos

07 de março de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A cidade de Taubaté e o Vale do Paraíba não estão mais carregados com o típico ar puro do interior. Estudo realizado com dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e do Hospital Universitário da cidade a 140 quilômetros de São Paulo, coletados em 2001, mostra que as taxas de poluentes na região provocaram o aumento do número de internações infantis decorrentes de problemas respiratórios.

"Esse é um dos primeiros trabalhos fora de grandes áreas metropolitanas que procura mostrar os efeitos da poluição na saúde infantil. Não era esperado um efeito importante, mesmo trabalhando com a técnica de correlação de dados", disse Luiz Fernando Nascimento, professor do Departamento da Medicina da Universidade de Taubaté e principal autor da pesquisa, à Agência FAPESP.

Para o pesquisador, os resultados do estudo deixam claro que a situação dos poluentes atmosféricos no Vale do Paraíba está diferente. "Estimava-se que o interior estivesse ‘limpo’, mas não foi isso que se constatou. A proximidade de São Paulo deve ter também uma relação com isso", aponta Nascimento.

Durante o ano de 2001, o Hospital Universitário de Taubaté recebeu 158 crianças internadas por doenças respiratórias. A análise desses dados, quando cruzada com os níveis de poluentes medidos para a região, mostrou que houve correlação positiva com o dióxido de enxofre e o material particulado.

A pesquisa revela que, quando o material particulado na atmosfera, por exemplo, ultrapassa a marca de 46 microgramas por metro cúbico, o risco de ocorrer internações de crianças por problemas respiratórios sobe 25%. No caso do dióxido de enxofre, existe o mesmo risco quando esse poluente passa de 8,5 microgramas por metro cúbico. Em 2001, em Taubaté, a Cetesb registrou, respectivamente, uma concentração média diária desses dois poluentes de 37,7 e 5,9 microgramas por metro cúbico.

Assim como ocorreu em alguns estudos realizados em outros locais, a correlação positiva entre ozônio e o aumento de internações não foi detectada pela pesquisa. "Esse poluente é de díficil análise, porque também se forma durante os dias quentes."

Para que essa correlação não continue causando impactos negativos na saúde das crianças do Vale do Paraíba, o professor da Universidade de Taubaté tem uma receita bastante eficiente que, apesar de ser conhecida, não está sendo seguida nos grandes centros urbanos do mundo.

"O controle do tráfego e a regulagem de motores a combustão diminuiriam a emissão desses poluentes, principalmente em meses frios e com pouco vento. Sem dúvida, o uso mais racional da frota veicular seria a grande saída", adverte Nascimento.

O artigo Atmospheric pollution effects on childhood health: an environmental study in the Paraíba Valley, de Luiz Fernando Nascimento e Maria Carolina Módolo, ambos do Departamento de Medicina da Universidade de Taubaté, e de João Carvalho Jr., do Departamento de Energia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), está publicado na edição de outubro/dezembro da Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil.

Para ler o artigo, na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.


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