No estuário de Santos, pesquisadores avaliaram os efeitos da contaminação na espécie Stramonita brasiliensis, encontrada em pedras e costões rochosos do Atlântico (imagem: divulgação)

Poluição altera a forma, a composição e a resistência das conchas de moluscos
30 de agosto de 2022

No estuário de Santos, pesquisadores avaliaram os efeitos da contaminação na espécie Stramonita brasiliensis, encontrada em pedras e costões rochosos do Atlântico

Poluição altera a forma, a composição e a resistência das conchas de moluscos

No estuário de Santos, pesquisadores avaliaram os efeitos da contaminação na espécie Stramonita brasiliensis, encontrada em pedras e costões rochosos do Atlântico

30 de agosto de 2022

No estuário de Santos, pesquisadores avaliaram os efeitos da contaminação na espécie Stramonita brasiliensis, encontrada em pedras e costões rochosos do Atlântico (imagem: divulgação)

 

Agência FAPESP* – Estudo publicado na revista Chemosphere revela que a poluição das áreas costeiras pode alterar a forma, a composição química e a resistência das conchas dos moluscos. O trabalho foi conduzido no estuário de Santos, um ambiente de transição entre as águas doce e salgada situado no litoral paulista.

Como modelo para investigar os efeitos da contaminação foi usada a espécie Stramonita brasiliensis, um molusco gastrópode marinho nativo do oceano Atlântico, normalmente encontrado em pedras e costões rochosos e usado na alimentação humana.

O trabalho envolveu cientistas do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Imar-Unifesp), do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (CCNH-UFABC), do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Nacional de San Agustín de Arequipa (Peru).

Os pesquisadores coletaram organismos em áreas com diferentes níveis de contaminação – alto, moderado e baixo – e avaliaram vários parâmetros relacionados às conchas dos moluscos. O objetivo foi verificar se tais alterações podem ou não ser um marcador de contaminação desses locais.

De acordo com Ítalo Braga Castro, professor da Unifesp e coautor do artigo, o primeiro aspecto observado foi a forma. “As conchas de áreas mais contaminadas apresentam tamanho da abertura e comprimento da espira diferente das conchas de áreas limpas. Além disso, analisamos outros parâmetros relacionados à estrutura e à composição dessas conchas”, conta.

As análises foram conduzidas durante o doutorado de Nayara Gouveia no Programa de Pós-Graduação em Bioprodutos e Bioprocessos da Unifesp, sob a orientação de Castro.

Composição química

Por meio de uma parceria com pesquisadores do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) da UFSCar foi possível observar que conchas localizadas em áreas diferentes, portanto sujeitas a diferentes níveis de contaminação, tinham variações no seu conteúdo de matéria orgânica.

Uma das técnicas usadas foi a termogravimetria (TGV), que consiste em monitorar como uma determinada massa (no caso amostras de conchas) varia de acordo com a temperatura que lhe é imposta em laboratório. Esse método permite conhecer os efeitos que o aquecimento pode ocasionar ao material analisado e acompanhar o andamento de reações de desidratação, oxidação, combustão, decomposição etc.

Outro método utilizado foi a ressonância paramagnética, que permitiu entender se o percentual dos minerais que formam a concha, como a aragonita e a calcita, difere entre os pontos com diferentes tipos de contaminação. Os resultados mostraram que polimorfos de calcita (minerais com a mesma composição química, mas estrutura cristalina diferente) foram predominantes em conchas de áreas poluídas. A contaminação também reduziu a resistência das conchas à compressão.

“Alterações nas conchas dos moluscos mostraram bom desempenho como potenciais biomarcadores de contaminação costeira, sendo provavelmente observadas em outras espécies de gastrópodes carnívoros ao redor do mundo”, afirmam os cientistas no artigo.

“Desejamos avaliar, no futuro, se a composição proteica das conchas também varia de acordo com o nível de contaminação. Para a análise usaremos ferramentas proteômicas”, conta Castro.

O CDMF é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O estudo também recebeu financiamento por meio de um auxílio concedido a Castro.

O artigo Chemical contamination in coastal areas alters shape, resistance and composition of carnivorous gastropod shells pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0045653522024195?via%3Dihub.

* Com informações da Assessoria de Comunicação do CDMF.
 

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