Pablo Alabarces, do Conselho Nacional de Ciências Sociais para a América Latina, apresenta na 27ª Reunião da Anpocs estudo em que investiga a relação entre a profunda crise argentina dos últimos anos e o fracasso da seleção do país no último mundial de futebol
Pablo Alabarces, do Conselho Nacional de Ciências Sociais para a América Latina, apresenta na 27ª Reunião da Anpocs estudo em que investiga a relação entre a profunda crise argentina dos últimos anos e o fracasso da seleção do país no último mundial de futebol
Agência FAPESP - O Natal de 2001 se aproximava quando manifestações populares eclodiram pelas ruas de Buenos Aires. Era um momento de revolta contra uma crise que chegou a tal ponto que fez com que a Argentina tivesse cinco presidentes diferentes em dez dias.
"Também fui para as ruas, não como pesquisador, mas como cidadão", disse Pablo Alabarces, cientista social do Conselho Nacional de Ciências Sociais para a América Latina (Clacso), durante palestra na 27ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), que terminou na sexta-feira (24/10), em Caxambu (MG).
Alabarces percebeu uma grande relação entre as manifestações e o comportamento dos torcedores de futebol do país. Era algo que precisava ser estudado. "As atitudes corporais, as canções, as camisetas, tudo fazia alusão ao futebol", disse.
Naquele momento de crise, estava claro que os símbolos nacionais do futebol acabaram ficando politizados. Mas será que essa relação, do ponto de vista social, poderia ser comprovada ou generalizada para outros períodos? Essa era uma pergunta que Alabarces queria responder. Para isso, usou a Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coréia do Sul, quando a crise na Argentina ainda se mantinha.
Antes da Copa, ainda como dados para o estudo, Alabarces utilizou pesquisas que revelavam que a maioria dos argentinos não queria que a Inglaterra fosse a campeã. O Brasil aparecia em segundo e os Estados Unidos estavam em terceiro na aversão futebolística argentina.
"Descobri algo que é muito saudável, que futebol e política não apresentam uma relação direta de interferência", disse o pesquisador portenho à Agência FAPESP. "É bom que seja assim. Crise política é para ser resolvida pelo político."
A conclusão de Alabarces surgiu após a seleção argentina, grande favorita para conquistar a Copa, ter sido eliminada logo na primeira fase, ao lado da França.
"O fracasso permitiu provar a minha tese. O selecionado nacional perdeu e nada aconteceu", disse. Segundo o pesquisador, ninguém transferiu para as ruas, ou dotou de um viés político, o fracasso do país na mais importante competição do futebol.
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