A península Byers, no extremo oeste da ilha Livingstone, é a maior área livre de gelo da Antártica

Pioneirismo no gelo
02 de janeiro de 2007

Pesquisadores brasileiros visitarão pela primeira vez a península Byers, na Antártica. Equipe ficará acampada por 40 dias para estudar a biodiversidade e entender melhor o degelo na região

Pioneirismo no gelo

Pesquisadores brasileiros visitarão pela primeira vez a península Byers, na Antártica. Equipe ficará acampada por 40 dias para estudar a biodiversidade e entender melhor o degelo na região

02 de janeiro de 2007

A península Byers, no extremo oeste da ilha Livingstone, é a maior área livre de gelo da Antártica

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Uma equipe de cientistas partirá no dia 21 de janeiro para a península Byers, na Antártica. Será a primeira visita de pesquisadores brasileiros à região de maior degelo da Antárctica marítima, onde terão a missão de realizar o mapeamento dos solos gelados, da geomorfologia e dos ecossistemas terrestres.

O grupo ficará acampado durante o verão – entre os dias 24 de janeiro e 6 de março – na península localizada na ilha Livingstone. A área não é completamente coberta de geleiras, como a maior parte do continente, mas as temperaturas chegam a 20 graus negativos no verão.

A Antártica é o continente que sofre as maiores alterações climáticas no planeta e 2007 será o Ano Polar Internacional, com a intensificação de estudos para tentar entender como o aquecimento global pode afetar a vida no planeta nos próximos anos.

Há seis anos a equipe realiza pesquisas no continente gelado, utilizando a base do Programa Antártico Brasileiro na baía do Almirantado. Mas, pela primeira vez, os pesquisadores irão até a península onde o ritmo de degelo é mais pronunciado.

"A área é de alto interesse, uma vez que a velocidade de degelo do solo, o chamado permafrost, é um indicador importante do aquecimento global", disse o coordenador da missão, Carlos Ernesto Schaefer, professor do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), à Agência FAPESP.

Segundo Schaefer, como não há uma estação científica na região, a equipe permanecerá acampada durante os 40 dias em local ermo – o navio mais próximo estará a três dias de caminhada. "A logística da missão é extremamente complexa e cara e a viagem só será possível pelo apoio logístico da Marinha brasileira, além do financiamento do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e da Fapemig [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais]", disse.

A equipe partirá do Rio de Janeiro no dia 21 em vôo da Marinha com duração de três dias e escala em Pelotas (RS) e Punta Arenas, na Patagônia chilena. Ali, os integrantes embarcarão num navio brasileiro que depois de dois dias deverá chegar à ilha Livingstone.

Além de Schaefer, especialista em solos e geomorfologia, participam do grupo o geógrafo André Luiz Lopes de Faria, o botânico Adriano Spielmann, o professor Márcio Francelino e o alpinista Geraldo Sanzanezzi.


Contribuição à pesquisa internacional

Segundo Schaefer, os únicos estudos feitos na região foram realizados por pesquisadores espanhóis e ingleses, mas nunca foram realizadas pesquisas de solos. "Temos realizado um trabalho conjunto com eles nos últimos anos. Na nova missão, vamos ter uma função complementar, ao realizar um mapeamento de solos e ecossistemas terrestres empregando uma técnica que eles não utilizam", disse.

Nos solos, a equipe trabalhará básicamente com sondagens, instalando sensores de monitoramento térmico e hídrico e realizando medições geofísicas por meio de radares de penetração de solo. "Essa técnica é utilizada, por exemplo, pelo IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo], em estudos geotécnicos. Nós desenvolvemos um protocolo para aplicá-la no gelo", explicou Schaefer.

Os estudos deverão trazer avanços para o Projeto Criossolos, coordenado por Schaefer, que produziu uma cobertura de fotos aéreas detalhadas na Antártica. "O projeto é referência internacional, pois conseguimos reunir o maior banco de solos da Antártica marítima", declarou.

Segundo o pesquisador, o solo da região pode ser muito rico em matéria orgânica, especialmente onde há ninhais de pingüins e outras aves. São solos pedregosos, mas de grande fertilidade química. "A característica mais importante é que o solo tem uma camada congelada que varia de 30 centímetros a 1 metro de profundidade. Vamos estudar como o aumento de temperatura média da superfície degela essa camada", disse.

Além das teses de doutorado de Faria e Spielmann, as pesquisas deverão gerar uma base digital de informações científicas. "Levaremos um GPS geodésico um conjunto aerofotogramétrico para o helicóptero fazer esse levantamento, que é inédito na área", disse Schaefer.

A península Byers, segundo ele, também é a área de maior diversidade de líquens no continente – por isso a equipe contará com um especialista no assunto, Adriano Spielmann, da Universidade de São Paulo (USP).


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