Artigo na Science lança polêmica ao defender que o petróleo no mundo está longe de acabar. No texto, especialista italiano afirma que o pânico provocado pela suposta extinção do recurso tem levado a políticas imperialistas e ao domínio das principais reservas por grandes potências
Artigo na Science lança polêmica ao defender que o petróleo no mundo está longe de acabar. No texto, especialista italiano afirma que o pânico provocado pela suposta extinção do recurso tem levado a políticas imperialistas e ao domínio das principais reservas por grandes potências
Em artigo publicado na edição de 21 de maio da revista Science, o economista Leonardo Maugeri, vice-presidente de estratégia corporativa da empresa petrolífera italiana Eni, parte de exemplos como esses para lançar uma polêmica. Ele afirma que, ao contrário do que muitos imaginaram – e imaginam –, a Era do Petróleo está longe de terminar.
De acordo com Maugeri, previsões pessimistas têm sido sucedidas por análises e descobertas que as refutam, em movimento cíclico desde o início do século 20. O autor alerta para a ocorrência de uma nova onda que propaga o fim próximo do petróleo em todo o mundo. "O pior efeito desse pânico recorrente é que ele tem gerado políticas imperialistas e levado ao controle sobre regiões produtoras", disse.
"Embora os recursos de hidrocarbonetos sejam indiscutivelmente finitos, a verdade é que ninguém sabe o quão finito eles são. O petróleo está contido em rochas porosas subterrâneas, o que torna difícil estimar quanto do produto existe e quanto pode ser efetivamente extraído", escreveu no artigo.
De acordo com o italiano, nos últimos tempos muitos estudos têm verificado o fenômeno do "crescimento da reserva", no qual a quantidade real de petróleo em um campo acaba sendo muito maior do que o estimado inicialmente. Maugeri cita o exemplo da mais recente descoberta de peso no setor, a do campo de Kashagan, no Cazaquistão.
Estudos geológicos mostravam há décadas a existência do campo, mas com estimativas pouco animadoras para levar à prospecção. Somente após um grande estudo ter sido conduzido por companhias multinacionais, na década de 1990, se verificou o potencial, estimando as reservas entre 2 bilhões e 4 bilhões de barris. Em 2002, outros estudos elevaram os valores para algo entre 7 e 9 bilhões. Em fevereiro de 2004, novas análises mostraram que o campo de Kashagan poderá produzir pelo menos 13 bilhões de barris e que a capacidade real é muito maior.
Maugeri não comenta as recentes altas no preço do petróleo, que atingiu mais de US$ 40 por barril há uma semana, mas afirma que a adoção de novas tecnologias de exploração tem contribuído para a drástica queda no custo de prospecção e desenvolvimento nos últimos 20 anos, de US$ 21 por barril em 1979 a menos de US$ 6 em 1999.
Especialistas apontam que as novas descobertas são insuficientes, suprindo apenas um quarto do consumo mundial. Maugeri refuta a afirmação, dizendo que as descobertas só não são maiores porque as empresas petrolíferas não querem. De acordo com ele, os principais produtores do mundo têm minimizado o investimento em prospecção nas duas últimas décadas, principalmente por medo de levar a um excesso na capacidade do petróleo, como o ocorrido em 1986, quando o barril caiu para menos de US$ 10.
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