"O composto que desenvolvemos tem um custo baixíssimo em comparação com os medicamentos disponíveis. Portanto, mesmo que funcione apenas para uma parte da população, pois a doença de Alzheimer tem causa multifatorial, já representaria um avanço imenso frente às opções atuais", diz Giselle Cerchiaro, coordenadora do estudo (imagem: ACS Chemical Neuroscience)

Bioquímica
Pesquisadores desenvolvem composto químico com potencial contra doença de Alzheimer
07 de novembro de 2025

Substância foi testada em ratos por grupo da UFABC e obteve resultados positivos; grupo busca agora parceria com empresas farmacêuticas para a realização de ensaios clínicos

Bioquímica
Pesquisadores desenvolvem composto químico com potencial contra doença de Alzheimer

Substância foi testada em ratos por grupo da UFABC e obteve resultados positivos; grupo busca agora parceria com empresas farmacêuticas para a realização de ensaios clínicos

07 de novembro de 2025

"O composto que desenvolvemos tem um custo baixíssimo em comparação com os medicamentos disponíveis. Portanto, mesmo que funcione apenas para uma parte da população, pois a doença de Alzheimer tem causa multifatorial, já representaria um avanço imenso frente às opções atuais", diz Giselle Cerchiaro, coordenadora do estudo (imagem: ACS Chemical Neuroscience)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) desenvolveu um novo composto químico com potencial para o tratamento da doença de Alzheimer. A pesquisa, que envolveu simulações computacionais (in silico), testes de cultura celular (in vitro) e experimentos em animais (in vivo), obteve resultados promissores. O grupo busca agora uma parceria com empresas farmacêuticas para a realização de ensaios clínicos.

Os novos compostos, desenvolvidos com o apoio da FAPESP, têm síntese simples e acredita-se que atuem degradando as placas beta-amiloides que se acumulam no cérebro de pessoas com Alzheimer. Essas placas são formadas por fragmentos de peptídeo amiloide que se depositam entre os neurônios causando inflamação e interrompendo a comunicação neural.

De acordo com o estudo publicado na revista ACS Chemical Neuroscience, o diferencial dos compostos está em atuarem como um quelante de cobre, ou seja, uma molécula capaz de se ligar ao elemento metálico presente em excesso nas placas de beta-amiloide, promovendo sua degradação e, com isso, reduzindo os sintomas da doença. Nos testes realizados em ratos, o composto químico minimizou a perda da memória, a dificuldade de noção espacial e de aprendizado dos roedores, além de bioquimicamente haver uma reversão no padrão das placas beta-amiloide.

“Há cerca de uma década, estudos internacionais começaram a apontar a influência dos íons de cobre como um agregador das placas de beta-amiloide. Descobriu-se que mutações genéticas e alterações em enzimas que atuam no transporte do cobre nas células poderiam levar ao acúmulo de elemento no cérebro, favorecendo a agregação dessas placas. Dessa forma, a regulação da homeostase [equilíbrio] do cobre tem se tornado um dos focos para o tratamento do Alzheimer”, explica Giselle Cerchiaro, professora do Centro de Ciências Naturais e Humanas da UFABC, que coordenou o estudo.

Com base nesse conhecimento, o grupo de pesquisadores sintetizou uma série de moléculas capazes de atravessar a barreira hematoencefálica (que protege o cérebro) e remover o cobre das placas beta-amiloides. Das dez moléculas desenvolvidas no estudo, três foram selecionadas para testes em ratos com Alzheimer induzido, sendo que uma delas se destacou por sua eficácia e segurança.

O trabalho foi o objeto da tese de doutorado da bolsista da FAPESP Mariana Camargo, da dissertação de mestrado de Giovana Bertazzo e de iniciação científica de Augusto Farias. O projeto de pesquisa também contou com a colaboração do grupo de pesquisa liderado por Kleber Thiago de Oliveira, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na síntese de um dos compostos estudados.

Nos testes com ratos, o composto reduziu a neuroinflamação, o estresse oxidativo e restaurou o equilíbrio de cobre no hipocampo – região cerebral associada à memória. Os animais tratados com a substância também apresentaram melhor orientação espacial.

Além dos resultados comportamentais, os testes mostraram que o composto não foi tóxico em culturas de células do hipocampo nem nos animais, cujos sinais vitais foram monitorados ao longo do experimento. Simulações computacionais confirmaram a capacidade do composto de atravessar a barreira hematoencefálica e atuar diretamente nas áreas afetadas.

A doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa complexa e multifatorial que ainda não tem cura ou causa definida. Apesar de sua alta prevalência – estima-se que 50 milhões de pessoas convivam com a doença em todo o mundo –, as opções terapêuticas ainda são limitadas, oferecem apenas alívio dos sintomas ou consistem em medicamentos complexos como anticorpos monoclonais.

O estudo da UFABC gerou um pedido de patente e agora os pesquisadores buscam parcerias com empresas para iniciar os testes clínicos em humanos. “É uma molécula extremamente simples, segura e eficaz. O composto que desenvolvemos tem um custo baixíssimo em comparação com os medicamentos disponíveis. Portanto, mesmo que funcione apenas para uma parte da população, pois a doença de Alzheimer tem causa multifatorial, já representaria um avanço imenso frente às opções atuais", comemora Cerchiaro.

O artigo Novel copper chelators enhance spatial memory and biochemical outcomes in Alzheimer’s disease model pode ser lido em: pubs.acs.org/doi/10.1021/acschemneuro.5c00291.
 

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