Nativa da Serra do Japi, em Jundiaí (SP), a 800 metros do nível do mar, rãzinha-da-correnteza canta e dança para acasalar e advertir rivais ( foto:Hylodes lateristrigatus/Unesp/Divulgação)
Nativa da Serra do Japi, em Jundiaí (SP), a 800 metros do nível do mar, rãzinha-da-correnteza canta e dança para acasalar e advertir rivais
Nativa da Serra do Japi, em Jundiaí (SP), a 800 metros do nível do mar, rãzinha-da-correnteza canta e dança para acasalar e advertir rivais
Nativa da Serra do Japi, em Jundiaí (SP), a 800 metros do nível do mar, rãzinha-da-correnteza canta e dança para acasalar e advertir rivais ( foto:Hylodes lateristrigatus/Unesp/Divulgação)
Diego Freire | Agência FAPESP – Características físicas e comportamentais do Hylodes japi, a rãzinha-da-correnteza, espécie de anfíbio que ocorre na Serra do Japi, em Jundiaí (SP), foram descritas pela primeira vez em artigo publicado por pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Rio Claro, na revista PloS One.
Segundo os pesquisadores, o objetivo do estudo foi compreender a taxonomia da espécie, relacionada às suas características genéticas, evolutivas, anatômicas e ecológicas, e a interação entre seus indivíduos. Entre as peculiaridades da rãzinha-da-correnteza foi identificado um sofisticado sistema de comunicação que envolve desde vocalizações a carícias entre machos e fêmeas, utilizado não só para fins de acasalamento, mas também para defesa de território.
“A comunicação visual em espécies diurnas de anuros (ordem de animais pertencentes à classe Amphibia, que inclui sapos, rãs e pererecas), como o Hylodes japi, tende a ser mais complexa. Nesses anfíbios, a atividade diurna facilita a evolução da comunicação visual. Repertórios de sinalização são complexos em espécies diurnas que reproduzem em riachos ruidosos”, conta Fábio Perin de Sá, do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, responsável pela pesquisa "Biologia reprodutiva de Hylodes cf. ornatus, Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo (Anura, Hylodidae)", realizada com o apoio da FAPESP.
O trabalho integrou o Projeto Temático "Diversidade e conservação dos anfíbios brasileiros", realizado no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA).
“De posse de informações do comportamento e da biologia da espécie é possível realizar um trabalho efetivo de conservação e eventual recuperação, inclusive medidas de manejo em caso de risco de extinção. Também se trata de um trabalho importante do ponto de vista acadêmico, porque há um estudo complexo da evolução dos sistemas de comunicação dos animais. Conhecer mais a fundo todas as possibilidades de comunicação das espécies é relevante para compreender o processo evolutivo de uma forma mais ampla”, explica Célio Fernando Baptista Haddad, professor da área de Vertebrados do IB-Unesp e coordenador do projeto.
Os pesquisadores estudaram uma população de rãs em um riacho na Serra do Japi, a 800 metros do nível do mar, acompanhando seus hábitos ao longo de 15 meses e fazendo registros audiovisuais. Além das observações, o estudo envolveu análise de dados moleculares, com sequenciamento parcial de dois genes mitocondriais e outro gene nuclear, confirmando que se trata de uma nova espécie, apesar de morfologicamente semelhante às espécies H. amnicola, H. ornatus, H. perere e H. sazimai, todas nativas de florestas tropicais úmidas de altitude e rios de correnteza.
A nova espécie pertence ao grupo do Hylodes lateristrigatus, caracterizado pelas listras laterais oblíquas. A rãzinha-da-correnteza tem tamanho pequeno, superfície dorsal relativamente lisa, área entre os olhos com manchas escuras de formas variáveis, dorso com grandes manchas escuras e ventre de cor clara. Os machos adultos têm sacos vocais laterais emparelhados e amplamente expandidos (veja na foto). Os pesquisadores também descreveram a larva da espécie, os girinos.
Dança
O estudo dos dados coletados revelou a complexidade da comunicação da espécie, baseada em contatos visuais, na emissão de sons e em sinais táteis.
“Percebemos que existe um repertório amplo de sinais visuais e que eles podem ser combinados. Nós mostramos as primeiras evidências de comunicação bimodal (visual e tátil) executadas por uma fêmea de anuro e disparando cantos de corte em direção aos machos. Também descobrimos que os machos usam seus sacos vocais duplos de modo independente para sinalizar, provavelmente melhorando sua performance durante a comunicação”, conta Sá.
Além de emitir diferentes tipos de sons, a rãzinha-da-correnteza utiliza um repertório de sinais visuais que nunca haviam sido descritos entre os anfíbios, como posições do pé, impulsos com os braços e movimentos de balançar e serpentear a cabeça.
O ritual de sedução executado pelos machos começa com a emissão de sons, indicando que têm intenção de atrair as fêmeas para seus territórios. Após conseguir ser notado, o macho faz sinais com os dedos e movimentos de corpo e cabeça que demonstram seu “interesse”.
Caso a fêmea não se interesse, ela mergulha na água e desaparece, fazendo com que o macho procure outra pretendente de imediato, voltando a vocalizar até que outra fêmea o aceite. O “sim” vem em forma de toques nas patas e no dorso, próximo à cabeça. O comportamento é um registro inédito entre as rãs.
Foram observados machos vocalizando em todos os meses, exceto outubro. No entanto, a época de reprodução ocorre ao final da estação chuvosa, entre fevereiro e abril, quando foram observados machos vocalizando em coro e realizando apresentações visuais e formação de pares, abraços nupciais e oviposição. Ao final do período nascem milhares de girinos nas águas correntes da região.
Os pesquisadores identificaram 18 comportamentos, com funções diversas. Os resultados do estudo podem ser lidos no artigo Sophisticated Communication in the Brazilian Torrent Frog Hylodes japi, disponível em journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0145444.
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