Segundo mapeamento feito na UFSCar, entre as principais causas do problema estão a cultura alimentar da população, a legislação brasileira e a falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva (foto: Pixabay)
Segundo mapeamento feito na UFSCar, entre as principais causas do problema estão a cultura alimentar da população, a legislação brasileira e a falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva
Segundo mapeamento feito na UFSCar, entre as principais causas do problema estão a cultura alimentar da população, a legislação brasileira e a falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva
Segundo mapeamento feito na UFSCar, entre as principais causas do problema estão a cultura alimentar da população, a legislação brasileira e a falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva (foto: Pixabay)
Agência FAPESP* – O Brasil é o quarto maior produtor mundial de alimentos e tem sido também um campeão no desperdício. Milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras são jogados fora todos os anos.
Para mapear ações capazes de reduzir esse prejuízo, uma pesquisa de doutorado realizada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estudou as causas do desperdício de alimentos entre fornecedores e supermercados. O resultado apontou para a cultura alimentar da população, para a legislação brasileira e também para a falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva.
O estudo teve apoio da FAPESP e foi realizado por Camila Moraes, sob a orientação de Andrea Lago da Silva, docente do Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar.
Moraes analisou quatro redes de supermercados de diferentes Estados do Brasil e dois fornecedores de cada uma delas, sendo três redes de São Paulo e uma de Santa Catarina. Com base nessa análise, ela mapeou 27 causas de desperdício.
Foram avaliadas atividades de distribuição, armazenagem, exibição, manuseio e descarte de frutas, legumes e verduras em lojas e centros de distribuição. “Os supermercados não dizem para os fornecedores o quanto eles esperam vender ou mesmo o quanto eles costumam vender daquele produto. Essa falta de informação e de medição gera problemas gigantescos. Há muita dificuldade em prever a demanda e planejar a produção. Os fornecedores, em geral, acabam se baseando apenas no que venderam de cada alimento, sem saber, de fato, quanto está sendo comprado pelo cliente final”, destaca Moraes.
Os padrões rígidos de aparência e forma de frutas, legumes e verduras impostos pelos supermercados também influenciam diretamente no desperdício dos fornecedores. De acordo com a pesquisa, a própria cultura do consumidor brasileiro, como apertar os alimentos na hora da compra e exigir uma estética perfeita, também contribui para a alta quantidade de alimentos que vai para o lixo.
“Quando o desperdício aparece nos elos finais da cadeia produtiva, provavelmente todos os processos anteriores também tiveram perdas”, explica Moraes.
Do total de alimentos desperdiçados diariamente no país, 40% das perdas ocorrem na distribuição após o processamento, sendo que o varejo é responsável por 12% desse total. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados, os principais motivos do desperdício para produtos perecíveis são validade vencida (36,9%), impropriedade para venda (30%), avaria dos produtos (18,2%) e danos em equipamentos (4,8%), seguidos de furto externo (19,8%) e erros de inventário (13,5%).
Entretanto, Moraes ressalta que a taxa de 12% não reflete a realidade, porque o varejo centra suas ações na redução do seu próprio desperdício, transferindo custos para outros elos da cadeia: “A pesquisa identificou um comportamento individualista dos supermercados. Devido ao seu grande poder de mercado, o setor empurra o desperdício. Ou o supermercado faz uma promoção para o consumidor ou ele pede para devolver o produto”.
Além de identificar as causas do desperdício, a pesquisa realizada na UFSCar analisou ainda quais são as barreiras que impedem que o cenário seja alterado. E um dos principais obstáculos é a própria legislação brasileira sobre doação de alimentos.
Os aspectos culturais também foram caracterizados como barreiras. Silva ressalta que o comportamento do consumidor brasileiro gera um alto volume de desperdício.
“É uma questão cultural. Crescemos acreditando que precisamos ter a mesa farta e abundante e isso muitas vezes gera sobra e desperdícios. E preferimos, de modo geral, comprar alimentos perfeitos, sem defeitos. Essa tendência aumenta o desperdício. Até 15% das frutas, legumes e verduras produzidos são desperdiçados no varejo”, comenta.
Desafios e perspectivas
Para a professora, o início da solução desse problema está nos supermercados, que são o centro do sistema alimentar moderno e têm o poder de ensinar as pessoas a pensar diferente, atingindo tanto o público consumidor quanto os fornecedores.
O combate também deve passar pelo treinamento de funcionários do varejo para a redução do desperdício nas atividades ligadas a frutas, legumes e verduras. Ainda de acordo com a docente, supermercados que contam com nutricionistas e outros profissionais que usam alimentos que já estão machucados, porém continuam saudáveis, para criar produtos, como sucos e compotas na própria loja, desperdiçam bem menos.
Para o futuro, Silva acredita que inovações tecnológicas direcionadas ao rastreio de produtos, compartilhamento de dados, embalagens, além de uma discussão sobre o conceito de prazo de validade também podem ajudar a enfrentar o desperdício. “Desde já, precisamos ter a consciência e mudar o comportamento dentro de casa. Quando for jogar um alimento fora, se questione se não daria para fazer outra receita com ele. Temos que buscar alternativas”, ressalta.
* Com informações da Coordenadoria de Comunicação Social da UFSCar.
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