Estudo realizado na Fiocruz revela aumento nos envenenamentos por agrotóxicos no país. Em um ano foram registrados 14 mil casos e 238 mortes por esse tipo de intoxicação (foto:Unesp)
Estudo realizado na Fiocruz revela aumento nos envenenamentos por agrotóxicos no país. Em um ano foram registrados 14 mil casos e 238 mortes por esse tipo de intoxicação. Crianças são as maiores vítimas
Estudo realizado na Fiocruz revela aumento nos envenenamentos por agrotóxicos no país. Em um ano foram registrados 14 mil casos e 238 mortes por esse tipo de intoxicação. Crianças são as maiores vítimas
Estudo realizado na Fiocruz revela aumento nos envenenamentos por agrotóxicos no país. Em um ano foram registrados 14 mil casos e 238 mortes por esse tipo de intoxicação (foto:Unesp)
Agência FAPESP - O envenenamento por agrotóxicos atingiu mais de 14 mil pessoas em 2003, causando 238 mortes. Dez anos antes houve 6 mil ocorrências, com 161 mortes. O crescimento expressivo das intoxicações foi identificado em estudo realizado pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), coordenado pelo Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) da Fiocruz.
Segundo Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, no período abordado pela pesquisa (1993-2003) o crescimento considerável do consumo de agrotóxicos no país transformou esses produtos na terceira maior causa de intoxicação no país, atrás apenas dos medicamentos e animais peçonhentos.
"Os números podem ser muito maiores, porque os casos registrados são, geralmente, de intoxicação aguda, com sintomas imediatos. É difícil captar a intoxicação crônica, que se manifesta a longo prazo", disse Rosany à Agência FAPESP.
O Sinitox dá assistência à população, em casos de intoxicação, em 36 centros espalhados em 19 Estados, com coordenação operacional da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O estudo foi realizado a partir das informações obtidas nesses centros. O resultado não dá conta de todas as ocorrências, já que não há centros em todos os Estados e a notificação não é obrigatória.
"Como a prioridade nos centros é o atendimento, os dados estatísticos ficam em segundo plano e, às vezes, há falta de informações precisas. Mesmo assim, o estudo foi possível a partir da análise de uma série histórica compilada anualmente", disse Rosany. O estudo considerou os dados obtidos até 2003, uma vez que não houve consolidação das informações posteriores.
Consumo exagerado
No estudo, o Sinitox trabalhou com 17 agentes tóxicos divididos em quatro categorias: de uso agrícola, uso doméstico, uso veterinário e raticidas. No período analisado, os casos de envenenamento por raticidas cresceram 54% na região Sul, 206% no Centro-Oeste e 350% no Norte do país. No Nordeste, os agentes tóxicos que mais registraram crescimento foram os de uso agrícola, com uma alta de 164%. No Sudeste, os acidentes aumentaram principalmente com produtos veterinários: 309%.
O Sinitox aponta para a relação entre faixa etária e os quatro tipos de intoxicação. As crianças com idade entre 1 e 4 anos são as maiores vítimas de envenenamento por agrotóxicos de uso doméstico (28,7%), por produtos veterinários (21%) e por raticidas (23,9%). Já os adultos jovens, na faixa de 20 a 29 anos, são os mais acometidos pelas intoxicações por produtos de uso agrícola (23,2%).
Rosany acredita que o consumo exagerado de agrotóxicos é a razão fundamental para o aumento em todos os casos, aliado ao crescimento demográfico e ao mau uso dos produtos. No campo, segundo a pesquisa, o risco de intoxicação é o dobro do registrado nas áreas urbanas. "Sabemos que o trabalhador do campo não está preparado para lidar com esses agentes tóxicos de alta letalidade, pois tem baixa escolaridade, más condições de trabalho e não é orientado", disse.
Ameaça clandestina
O caso mais grave, segundo Rosany, é o do produto conhecido popularmente como "chumbinho", utilizado indevidamente como raticida. "O chumbinho é o grande fantasma hoje. Trata-se de um agrotóxico de uso agrícola que, há alguns anos, começou a ser utilizado como raticida. É péssimo para essa finalidade, mas acabou criando um mito que tem matado muita gente", diz.
Utilizado em lavouras de café e batata, o chumbinho tem toxicidade tão alta que precisa ser enterrado para a aplicação agrícola. "Levam esse produto para a cidade, fracionam em pacotes pequenos e vendem até no comércio ambulante. Aqui no Rio de Janeiro, o IML recebe pelo menos um caso por semana relacionado a esse produto. No Nordeste o quadro é trágico – há morte quase todos os dias", alertou Rosany.
A coordenadora do Sinitox explica que em casos de intoxicação é necessário procurar serviço médico. Em caso de dúvidas e esclarecimentos, a população pode entrar em contato com o Disque-Intoxicação da Anvisa. O telefone é 0800-722-6001, a ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), presente em 19 Estados.
Mais informações: www.fiocruz.br/sinitox.
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