Luciano Fernandes estuda o problema das algas invasoras no Paraná. O pesquisador se surpreendeu com uma floração registrada em maio de 2001

Perigo a bordo
18 de outubro de 2005

Águas de lastro dos navios podem transportar milhares de espécies de algas potencialmente nocivas. Estudar o problema para que medidas de precaução possam ser tomadas é a saída mais recomendável, dizem pesquisadores como Luciano Fernandes, da UFPR

Perigo a bordo

Águas de lastro dos navios podem transportar milhares de espécies de algas potencialmente nocivas. Estudar o problema para que medidas de precaução possam ser tomadas é a saída mais recomendável, dizem pesquisadores como Luciano Fernandes, da UFPR

18 de outubro de 2005

Luciano Fernandes estuda o problema das algas invasoras no Paraná. O pesquisador se surpreendeu com uma floração registrada em maio de 2001

 

Por Eduardo Geraque, de Curitiba

Agência FAPESP - Dois mil navios atracam a cada ano apenas no porto de Paranaguá, no litoral paranaense. Uma única embarcação pode carregar 130 mil toneladas de água de lastro de um continente para outro, ou quase um terço de seu volume. Como essa água salgada é captada no baía de origem, ela não vem sozinha. Além do sedimento, muitas algas e diversos outros organismos também seguem a bordo.

"No caso do Paraná, temos duas espécies que podem ser consideradas invasoras", disse Luciano Fernandes, pesquisador do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), à Agência FAPESP. O especialista em algas se refere às espécies Heterosigma akashiwo e Gymnodinium catenatum.

No primeiro caso, a alga protagonizou, em maio de 2001, uma gigantesca floração. "Nunca tinha visto algo do tipo", explica o pesquisador, que sobrevoou a região da baía de Paranaguá na época. As análises registraram até 3 milhões de células em um único litro de água. "Essas microalgas liberam toxinas que são letais para os peixes." Situações como essa, explica Fernandes, causam impactos tanto econômicos como ecológicos.

"Uma das ações imediatas e necessárias é fazer com que os navios troquem a água de lastro em regiões oceânicas. Isso pode ajudar bastante", diz Fernandes. Isso ocorre, principalmente, por causa da diferença de salinidade que costuma existir entre as regiões mais litorâneas e o alto-mar. Como essa técnica nem sempre resolve o problema (em uma troca até 30% da água antiga pode permanecer a bordo), os pesquisadores tentam desenvolver alternativas.

"Estão sendo estudadas, por exemplo, formas físicas de impedir que os organismos entrem e viajem pelos tanques", disse o pesquisador da UFPR. Além de filtros para serem instalados na entrada da água de lastro nos navios, métodos de pressurizar o líquido para que os organismos sejam mortos por esmagamento também estão sendo pensados. "Técnicas com ozônio, para serem aplicadas a bordo, também podem surgir."

Desde sábado (15/10) entrou em vigor uma determinação da Marinha do Brasil para que navios que atraquem nos portos nacionais sejam vistoriados. As embarcações terão que preencher um formulário em que deverá ser informado se houve ou não troca de água em alto-mar. "Essa é uma medida positiva, sem dúvida. O texto da norma é claro: "As embarcações deverão realizar a troca da água de lastro a pelo menos 200 milhas náuticas da costa e em águas com pelo menos 200 metros de profundidade".

Segundo o pesquisador do Paraná, nos casos das potenciais invasões por águas de lastro, prevenir é sempre o melhor caminho. "Temos que ter sempre em mente que esse problema é mundial", diz. Em um determinado momento, calcula Fernandes, cerca de 7 mil espécies estão chegando no porto de Paranaguá por meio das águas usadas para estabilizar os navios.


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