Enquanto na Argentina é encontrada uma amostra do que seria o mamífero cenozóico mais antigo na América do Sul, no Brasil fósseis de morcegos ajudam a entender antigas mudanças climáticas
Enquanto na Argentina é encontrada uma amostra do que seria o mamífero cenozóico mais antigo na América do Sul, no Brasil fósseis de morcegos ajudam a entender antigas mudanças climáticas
Agência FAPESP - Na paleontologia, uma pequena descoberta pode ajudar a fornecer grandes explicações para questões sobre as quais ainda pairam dúvidas. Como sobre a evolução dos mamíferos no fim do Cretáceo – último período da era Mesozóica e que teria terminado com um evento de extinção em massa – e o início do Terciário – período geológico da era seguinte, a Cenozóica. Pesquisadores argentinos descobriram um dente molar inferior fossilizado de um animal que seria o mamífero cenozóico mais antigo registrado na América do Sul.
"Este material pode nos ajudar a entender uma lacuna de 10 milhões de anos. Existe um hiato de registro fóssil sul-americano entre o final do Cretáceo e o Paleoceno, primeira época do Terciário. As evidências sugerem que houve uma notável reforma na fauna durante esse momento", afirmou o pesquisador Marcelo Tejedor, do Laboratório de Investigações em Evolução e Biodiversidade da Universidade Nacional da Patagônia, durante o 2º Congresso Latino-Americano de Paleontologia de Vertebrados, que terminou na sexta-feira (12/8), no Rio de Janeiro.
Segundo Tejedor, o dente poderia ser de um marsupial, grupo de mamíferos que apresenta bolsa ventral (como os cangurus) e que teve origem durante o Mesozóico. O fóssil foi encontrado em depósitos da Formação Lefipán (da era Cretácea), na Argentina.
"A descoberta do molar de um mamífero do Cretáceo na América do Sul sinaliza uma evolução da espécie na região, mesmo após um período que deixou poucos registros de vida", afirmou.
Pequenos mamíferos fossilizados, como os morcegos, também podem fazer importantes inferências paleoambientais. Recentemente, Maria Paula Fracasso, do Museu Nacional, encontrou em uma escavação no Centro-Oeste do país, em local com clima extremamente árido, o fóssil de um morcego que hoje vive em regiões de ambiente úmido. "Uma conclusão que podemos tirar é que o clima pode ter sido mais úmido no Brasil central", disse ela.
Maria Paula também lembra que fósseis do Pteronotus davyi, espécie hoje encontrada no norte da América do Sul e na América Central, foram também encontrados por sua equipe no Brasil. "Com certeza, já houve ocorrência da espécie no Brasil", afirmou.
Segundo a bióloga, as pesquisas com morcegos fósseis estão apenas começando no Brasil. "São poucas as localidades e o material é recente, data do Quartenário. Os fósseis mais antigos estão na Europa e nos Estados Unidos", observou. Outra dificuldade é quanto ao tamanho do animal. "Morcegos são bichos pequenos e frágeis, difíceis de fossilizar."
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