O longo amanhecer, documentário sobre Celso Furtado, traça paralelos entre a história política brasileira, a trajetória biográfica e a obra de uma dos mais importantes intelectuais brasileiros

Pensamento feito para agir
09 de outubro de 2006

O longo amanhecer, documentário sobre Celso Furtado, traça paralelos entre a história política brasileira, a trajetória biográfica e a obra de um dos mais importantes intelectuais brasileiros

Pensamento feito para agir

O longo amanhecer, documentário sobre Celso Furtado, traça paralelos entre a história política brasileira, a trajetória biográfica e a obra de um dos mais importantes intelectuais brasileiros

09 de outubro de 2006

O longo amanhecer, documentário sobre Celso Furtado, traça paralelos entre a história política brasileira, a trajetória biográfica e a obra de uma dos mais importantes intelectuais brasileiros

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - "Em nenhum momento de nossa história foi tão grande a distância entre o que somos e o que esperávamos ser." A frase, que marcou o livro O longo amanhecer, do economista Celso Furtado (1920-2004), soa hoje tão atual para o Brasil quanto há sete anos, quando foi publicada pela primeira vez.

A frase é dita pelo próprio Furtado, um dos mais importantes intelectuais brasileiros, no documentário que carrega o mesmo nome do livro de 1999, dirigido pelo cineasta José Mariani e que teve sua estréia feita na semana passada, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

"O filme faz paralelos entre três importantes elementos: a história política do Brasil, a trajetória biográfica de Furtado e a obra dele", disse Mariani à Agência FAPESP. "A intenção é mostrar de que maneira esses elementos se encontram no decorrer de sua vida e como seus pensamentos conseguiram intervir na política e na economia do país."

Com pouco mais de uma hora de duração, o documentário intercala depoimentos inéditos de Furtado com imagens de arquivo da família e de instituições em que trabalhou, além de entrevistas com economistas como Antonio Barros de Castro, João Manuel Cardoso de Melo, Maria da Conceição Tavares, Osvaldo Sunkel e Ricardo Bielschowsky.

Mariani é autor do documentário Cientistas brasileiros: César Lattes e José Leite Lopes, que descreve a história da física a partir da trajetória da dupla. "Essa foi uma geração pós-guerra que teve que inventar seu espaço acadêmico na área da física. Dentro dessa mesma geração, que teve um projeto sólido para a nação, resolvi mudar a área do conhecimento e passei a estudar Furtado", disse Mariani.

A jornalista Rosa Freire d’Aguiar, viúva de Furtado, disse ter ficado impressionada com o roteiro do filme. "Falar de economia e de economistas é sempre um assunto muito árido e Mariani conseguiu mostrar os aspectos mais importantes ocorridos no Brasil a partir da segunda metade do século 20. Esse é um filme extremamente didático e que deveria ser visto por todo estudante de economia", disse em debate após a exibição do documentário.

Além de Mariani e Rosa, estiveram presentes ao debate os professores da FEA José Eli da Veiga e Leda Paulani e Francisco de Oliveira, professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. "Celso Furtado foi um internacionalista a seu modo. Ele correu o mundo, mas voltou para o Nordeste, o lugar onde começou e que era considerado o calcanhar-de-aquiles do projeto nacional", disse. Furtado nasceu em 26 de julho de 1920 em Pombal, na Paraíba.

Mariani pretende percorrer universidades brasileiras com novas exibições de O longo amanhecer. O lançamento no circuito comercial ainda não tem data definida, bem como o DVD, que está em fase de elaboração. A próxima exibição do documentário será no dia 27 de outubro, na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).


Uma vida influente

O longo amanhecer conta a integração de Furtado, em 1949, à diretoria da Divisão de Desenvolvimento da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU). Mostra, em 1953, a elaboração de um estudo sobre a economia brasileira com ênfase especial nas técnicas de planejamento, trabalho que posteriormente é utilizado como base do Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek.

Outro destaque é a passagem de Furtado pelo King's College da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, onde escreveu o clássico Formação econômica do Brasil, lançado em 1959. Seguem a posse na diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e a importância do estudo Uma política de desenvolvimento para o Nordeste, que deu origem à Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Em 1962, Furtado foi nomeado ministro do Planejamento do governo João Goulart. Com o golpe militar de 1964, teve seus direitos políticos cassados. Exilado, realizou seminários em Santiago do Chile e foi morar na França, em 1965, a convite da Universidade de Paris, onde foi professor durante 20 anos. Imagens de Furtado retornando ao Brasil, além de fotos ao lado do presidente José Sarney, em 1986, quando foi nomeado ministro da Cultura, também marcam o documentário.

Transformando o mundo real em exercício mental, como ele mesmo dizia ser seu maior objetivo, Furtado afirmava que o problema do Brasil era estrutural. "Os brasileiros querem manter um padrão de consumo semelhante ao padrão dos países desenvolvidos, que têm uma renda per capita até dez vezes maior do que a nossa. Para reproduzir no Brasil o padrão dos países ricos, é preciso combater a concentração de renda com a adoção de reformas econômicas e políticas estruturais", disse o economista no filme.

Celso Monteiro Furtado morreu após um infarto no dia 20 de novembro de 2004, aos 84 anos, em sua residência em Copacabana, no Rio de Janeiro.

Mais informações sobre O longo amanhecer: josemariani@globo.com.


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