Isaías Raw, presidente da Fundação Butantan, na assinatura do acordo com FAPESP, Ministério da Saúde e Sadia (foto: Eduardo Cesar)

Parceria de fôlego
24 de fevereiro de 2006

Instituto Butantan, FAPESP, Ministério da Saúde e Sadia fecham acordo para produção de medicamento, hoje apenas importado, usado para salvar vidas de bebês prematuros com problemas respiratórios

Parceria de fôlego

Instituto Butantan, FAPESP, Ministério da Saúde e Sadia fecham acordo para produção de medicamento, hoje apenas importado, usado para salvar vidas de bebês prematuros com problemas respiratórios

24 de fevereiro de 2006

Isaías Raw, presidente da Fundação Butantan, na assinatura do acordo com FAPESP, Ministério da Saúde e Sadia (foto: Eduardo Cesar)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Fundado pelo médico mineiro Vital Brazil em 23 de fevereiro de 1901, o Instituto Butantan comemorou 105 anos de existência com um grande anúncio. Na quinta-feira (23/2), em São Paulo, o aniversário da instituição foi celebrado com a assinatura de um convênio que prevê a ampliação da produção de um biofármaco utilizado no tratamento de bebês prematuros com problemas respiratórios.

O surfactante pulmonar de suínos é a substância responsável pelo desenvolvimento do medicamento, que vem sendo produzido desde 1997 por meio de uma parceria do Instituto Butantan com a Sadia, empresa que fornece o material.

Com o novo acordo, firmado entre o Instituto Butantan, o Instituto Sadia de Sustentabilidade, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e o Ministério da Saúde, a produção do biofármaco poderá passar de cerca de 4 mil para 200 mil doses anuais.

Com o aumento, podem ser evitadas as mortes de milhares de recém-nascidos por ano, vítimas da síndrome do desconforto respiratório (SRD). "Quando a criança nasce e não chora, os alvéolos pulmonares não abrem e o bebê é sufocado e morre em poucos minutos. Por isso o medicamento precisa estar disponível no momento exato do nascimento", explicou Isaias Raw, presidente da Fundação Butantan.

A princípio, toda a produção será destinada ao Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), para a distribuição gratuita em maternidades públicas do país. "Precisamos distribuir as doses para quem mais precisa, que é a parcela mais carente da população, na qual o número de nascimentos prematuros é maior", disse Raw.

O médico explicou que existem, há mais de 20 anos, biofármacos importados produzidos a partir do surfactante pulmonar suíno, mas que estão restritos a uma pequena camada da população, devido ao elevado preço da dose, que chega a custar R$ 700. O medicamento produzido no país deverá ter um custo de produção de 15% desse valor, algo em torno de R$ 105.

A Sadia montou um laboratório em Uberlândia (MG) para viabilizar o projeto, onde serão extraídos 500 quilos de pulmão suíno por semana. O material será moído, inserido em uma solução salina e, em seguida, receberá a adição de celulose, responsável por absorver o surfactante presente na solução. A meta da empresa é enviar, por semana, 300 quilos de celulose enriquecida com surfactante ao Butantan.

"Essa parceria demonstra a capacidade que há em nosso país do uso do conhecimento para gerar benefício à sociedade", ressaltou o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, durante a cerimônia. "Todo esse processo não está ocorrendo por acaso. Ele nasceu após décadas de investimento na valorização do conhecimento científico."

O presidente da FAPESP, Carlos Vogt, aproveitou para saudar os 105 anos do Instituto Butantan. "Estamos vivendo um momento decisivo que une comemoração e parceria. E esse esforço mostra a competência de todas as instituições e atores envolvidos num propósito de fundamental importância para o avanço tecnológico, econômico e social do Brasil."

Na solenidade foi assinado também um convênio de cooperação para o início dos testes. Os ensaios clínicos do biofármaco serão coordenados pelo Instituto da Criança (ICr) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Saraiva Felipe, ministro da Saúde, encerrou a cerimônia fazendo um paralelismo entre um termo popular e a capacidade do Butantan em gerar conhecimento. "Possivelmente, a expressão ‘cobra criada’ tenha nascido aqui nesta casa, pois o Instituto Butantan conta hoje com mais de 160 cientistas extremamente qualificados, que fazem dessa instituição uma das mais reconhecidas em todo o mundo."


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