Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade

Paradigmas do ensino superior
22 de outubro de 2003

Especialistas reunidos na 27ª Reunião Anual da Anpocs afirmam que a educação no Brasil terá que crescer e, ao mesmo tempo, sustentar-se qualitativamente. "Enquanto o ensino privado não atinge as classes menos favorecidas, o ensino público poderá ter problemas caso sofra uma expansão muito rápida", diz Simon Schwartzman, do IETS

Paradigmas do ensino superior

Especialistas reunidos na 27ª Reunião Anual da Anpocs afirmam que a educação no Brasil terá que crescer e, ao mesmo tempo, sustentar-se qualitativamente. "Enquanto o ensino privado não atinge as classes menos favorecidas, o ensino público poderá ter problemas caso sofra uma expansão muito rápida", diz Simon Schwartzman, do IETS

22 de outubro de 2003

Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade

 

Por Eduardo Geraque, de Caxambu

Agência FAPESP - Para sustentar uma procura cada vez maior pelo ensino superior, o Brasil deverá superar o dilema descrito por Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), na quarta-feira (20/10), durante a 27ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), na cidade mineira de Caxambu.

"O ensino privado está em crise, pois não está conseguindo se expandir para as classes economicamente menos favorecidas. Por outro lado, o ensino público, devido à formação ruim no curso secundário, também poderá ter problemas caso sofra uma expansão muito rápida", disse Schwartzman.

Uma das conseqüências desse processo, segundo o pesquisador, é que o ensino superior no Brasil poderá sofrer o mesmo fenômeno que já atingiu os ciclos básico e fundamental. "Nesses níveis, antigamente, a escola pública era boa e a particular ruim. Hoje, esse quadro é totalmente inverso", disse.

Dados apresentados por Schwartzman em Caxambu ajudam também a derrubar um dos mitos do ensino superior brasileiro. "O perfil dos alunos das escolas públicas e privadas, em termos de renda, não é muito diferente. Ainda são as classes média e média alta que ingressam na universidade", afirmou. Além disso, segundo ele, a escola pública ainda é aquela que mais atende às classes mais baixas, em relação ao ensino superior privado.

Outro ponto levantado no debate sobre o ensino superior na reunião da Anpocs foi a transformação, pela chamada sociedade da informação, no perfil dos alunos que terminam a graduação. Segundo Kate Purcell, da University of West of England, as novas profissões, de cunho mais tecnológico, exigem características diferentes das verificadas em áreas tradicionais como Medicina ou Direito.

"Nas novas ocupações, geradas pelas empresas de tecnologia, é preciso desenvolver estratégias para resolver problemas do dia-a-dia das empresas, além do domínio da chamada inteligência emocional. É necessário saber interpretar de forma correta um determinado assunto para, em seguida, decidir", disse Kate.

"No Brasil, tivemos um crescimento importante no ensino superior no final dos anos 90", disse Schwartzman à Agência FAPESP. "Mas não podemos dizer que isso está sendo causado apenas pela nova economia." Segundo o pesquisador, as novas profissões requeridas pelas empresas de tecnologia da informação ainda provocam uma demanda muito pequena na totalidade da economia nacional.

"O que ocorre no Brasil é que existe uma grande demanda por educação como um todo", finalizou.


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