Projeto que reúne pesquisadores do Brasil e da França tenta reconstruir os estágios da evolução do planeta com base na análise de sedimentos geológicos em solo brasileiro; essa e outras iniciativas que miram os desafios do período conhecido como Antropoceno foram apresentadas na FAPESP Week France (formação do período Neoproterozoico; foto: James St. John / Wikimedia Commons)

Para enfrentar desafios do futuro, cientistas investigam o passado da Terra
27 de novembro de 2019
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Projeto que reúne pesquisadores do Brasil e da França tenta reconstruir os estágios da evolução do planeta com base na análise de sedimentos geológicos em solo brasileiro; essa e outras iniciativas que miram os desafios do período conhecido como Antropoceno foram apresentadas na FAPESP Week France

Para enfrentar desafios do futuro, cientistas investigam o passado da Terra

Projeto que reúne pesquisadores do Brasil e da França tenta reconstruir os estágios da evolução do planeta com base na análise de sedimentos geológicos em solo brasileiro; essa e outras iniciativas que miram os desafios do período conhecido como Antropoceno foram apresentadas na FAPESP Week France

27 de novembro de 2019
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Projeto que reúne pesquisadores do Brasil e da França tenta reconstruir os estágios da evolução do planeta com base na análise de sedimentos geológicos em solo brasileiro; essa e outras iniciativas que miram os desafios do período conhecido como Antropoceno foram apresentadas na FAPESP Week France (formação do período Neoproterozoico; foto: James St. John / Wikimedia Commons)

 

Heitor Shimizu, de Paris | Agência FAPESP – A necessidade de encontrar alternativas para o futuro do planeta motivou um grupo de pesquisadores brasileiros e franceses a olhar para mais de 500 milhões de anos atrás, em uma tentativa de entender os muitos estágios da evolução da vida terrestre.

A pesquisa, apoiada pela FAPESP, foi apresentada no dia 25 de novembro por Magali Ader, professora do Institut de Physique du Globe de Paris, durante a FAPESP Week France.

“Encarar os desafios do Antropoceno [termo usado por alguns cientistas para descrever o período atual da história do Planeta Terra] exigirá que as sociedades humanas se ajustem às mudanças climáticas e encontrem novas fontes de energia. Algumas dessas fontes podem ser hidrogênio, água, hidrocarbonetos ou elementos raros e, para isso, é importante conhecer bem o sistema terrestre”, disse a pesquisadora.

O foco da pesquisa conduzida por Ader está em sedimentos geológicos no Brasil. A investigação conta com a colaboração do grupo do professor Ricardo Trindade, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).

O Projeto Temático reúne mais de 30 cientistas do Brasil e da França. O objetivo do grupo é estudar o sistema terrestre e a evolução da vida durante o Neoproterozoico (entre 1 bilhão e 541 milhões de anos atrás), período de mudanças significativas na composição e na dinâmica do planeta, como o aparecimento de formas de vida complexa e a configuração dos continentes, além de variações importantes no clima.

"É muito importante poder trabalhar com o grupo do professor Trindade, porque temos especialidades complementares de pesquisa. Nesse trabalho, precisamos integrar cientistas de diferentes áreas e isso exige um financiamento substancial. Não há muitas agências no mundo dispostas a apoiar um projeto como esse e, felizmente, a FAPESP é uma delas. Por conta disso, o Brasil é um dos poucos lugares onde tal projeto poderia ser conduzido”, disse Ader à Agência FAPESP.

O efeito estufa

Ao mesmo tempo em que busca respostas no passado, a ciência tem de lidar com os desafios impostos pelas mudanças climáticas induzidas pela emissão de gases como dióxido de carbono (CO2), metano, óxido nitroso (N2O) e ozônio (O3)

Os gases do efeito estufa emitidos pela produção de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo foram o tema abordado por Janaina Braga do Carmo, professora do Centro de Ciências e Tecnologias para a Sustentabilidade da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na FAPESP Week France.

“O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar para a produção de etanol [energia renovável] e de açúcar. A gestão do solo, o uso de fertilizantes nitrogenados e de resíduos da produção de etanol, como vinhaça, torta de filtro e de palha pós-colheita, podem comprometer a sustentabilidade das culturas, aumentando as emissões de gases de efeito estufa”, disse.

Segundo Carmo, outra questão importante é a expansão da cana-de-açúcar em áreas de pastagem, caracterizando uma mudança no uso da terra – fato que pode alterar a dinâmica e o equilíbrio das emissões de gases de efeito estufa na agricultura brasileira.

“Buscamos conhecer as emissões de gases de efeito estufa durante o processo de conversão de pastagens para plantio de cana-de-açúcar, considerando práticas de manejo usuais. O objetivo é propor alternativas de gestão capazes de reduzir as emissões e aumentar a sustentabilidade do sistema de produção”, disse.

A pesquisa é conduzida no âmbito de um Projeto Temático e faz parte do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, coordenado pelo professor Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP.

“Após o primeiro ano de medidas e análises, verificamos que as emissões resultantes do plantio de cana-de-açúcar são maiores do que as que existiam sob o domínio das pastagens. No entanto, ainda precisamos avaliar a fonte de nitrogênio usada no experimento”, disse Braga à Agência FAPESP.

Mitigação de gases

O impacto da microbiota do solo na mitigação dos gases de efeito estufa em florestas tropicais foi o tema da palestra apresentada por Tsai Siu Mui, professora e vice-diretora no Cena-USP.

Como lembrou a pesquisadora, os gases de efeito estufa retêm a energia térmica refletida pela superfície da Terra. No entanto, em solos de floresta tropical, como a Amazônia, elementos como o metano e o óxido nitroso são reciclados por meio de processos biogeoquímicos, com a participação ativa de microrganismos.

“Isso foi demonstrado pela medição de atividades microbianas subterrâneas juntamente com fluxos de gás”, disse Tsai, que coordena uma pesquisa no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP.

Segundo a pesquisadora, microrganismos coordenam os processos ecológicos dos quais depende a vida, mas pouco se sabe sobre sua biodiversidade. O projeto de pesquisa por ela coordenado combina avanços no sequenciamento de ácidos nucleicos e em biogeoquímica de ecossistemas para investigar o controle do ciclo do metano ao longo de gradientes de uso do solo em florestas tropicais.

“Para responder a essas questões, estudamos as dimensões genética, filogenética e funcional da biodiversidade de bactérias e arqueias em dois fragmentos de floresta tropical ameaçados pelo desenvolvimento: um na Amazônia Oriental, em Rondônia, e outro em uma reserva da Amazônia Ocidental perto de Santarém, no Pará”, disse.

“Essas florestas abrigam uma gama de ecossistemas, características de solo e histórico de uso do solo. Já observamos uma redução de emissões de óxido nitroso quando a fauna natural está livremente presente na floresta”, disse.

A sessão teve também apresentação de François Moriconi, da Université Paris Diderot, que foi pesquisador visitante na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente e falou sobre sua colaboração com o Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais (GAsPERR).

O simpósio FAPESP Week France acontece entre os dias 21 e 27 de novembro, graças a uma parceria entre a FAPESP e as universidades de Lyon e de Paris, ambas da França. Leia outras notícias sobre o evento em www.fapesp.br/week2019/france/.
 

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