Pantanal está para peixe
03 de outubro de 2005

Dados analisados pela Embrapa mostram que os estoques de peixe na região não estão superexplorados. A única exceção é o pacu, espécie que sofre medidas restritivas desde o ano 2000

Pantanal está para peixe

Dados analisados pela Embrapa mostram que os estoques de peixe na região não estão superexplorados. A única exceção é o pacu, espécie que sofre medidas restritivas desde o ano 2000

03 de outubro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O anúncio pegou pesquisadores e a comunidade em geral de surpresa. Os governos dos estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul estariam estudando a hipótese de decretar uma moratória na pesca comercial no Pantanal. O motivo seria a baixa biomassa dos estoques pesqueiros.

"Em uma época onde se pretende que a gestão dos recursos naturais seja participativa, essa notícia nos causou surpresa", explica Agostinho Catella, biólogo e pesquisador da Embrapa Pantanal há 18 anos, à Agência FAPESP. Segundo os dados analisados por ele e por outros cientistas, a situação dos peixes do Pantanal não está tão crítica como pode parecer a primeira vista.

O biólogo, que é especialista em pesca e águas interiores, explica que a região pantaneira está mais seca nos últimos tempos. "E isso é o suficiente para diminuir a quantidade de peixes de um forma natural", conta. Mas daí para falar em situação alarmante é um exagero, diz. "Ao mesmo tempo que a seca interfere na produção, o esforço de pesca também diminuiu nos últimos anos."

O pesquisador da Embrapa afirma que a pesca artesanal no Pantanal está estável desde a década de 1990, em torno de 350 toneladas por ano. Além disso, em termos de pesca esportiva, a quantidade de visitantes diminuiu desde a virada do século. "Em 2000, foi registrada a entrada de 59 mil pescadores. Em 2003, o número foi de 28 mil visitantes", compara.

Quando a questão se volta para espécies isoladas, como o pacu, a afirmação de que a pesca não tem impactos negativos na região começa a mudar de figura. "Os dados gerados a partir de mais de um tipo de modelo de análise, já em 2000, mostraram que essas espécies estavam sendo superexploradas", diz Catella.

Naquele ano, o tamanho mínimo de captura do pacu subiu dos 40 centímetros para 45 centímetros. E mesmo a indicação não sendo tão clara para o jaú, outro peixe da região, houve a opção de também mudar o tamanho mínimo de captura dessa população. A medida subiu dos 90 centímetros para os 95 centímetros.

Tanto a Embrapa Pantanal, como outros órgãos de pesquisa, analisam dados específicos para o pacu a partir de 2000, quando as novas medidas começaram a ser implantadas. Esses resultados devem ficar prontos, segundo Catella, até o fim do ano.

"É preciso entender que onde existe pesca o ecossistema está saudável. É muito mais importante, mas também mais difícil, agir sobre outros problemas, que são, esses sim, críticos para a pesca", afirma. Segundo o pesquisador, desmatamento, agrotóxico e obras para a navegação e a construção de represas são os verdadeiros vilões da pesca pantaneira.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.