Foto: Lab. Lawrence Livermore

"Pai" da bomba H morre aos 95
10 de setembro de 2003

Edward Teller, cientista húngaro naturalizado americano, esteve à frente da construção da bomba de hidrogênio, explodida pela primeira vez em 1952. Polêmico em sua defesa das armas nucleares, é considerado o modelo utilizado pelo cineasta Stanley Kubrick para o protagonista do filme Dr. Fantástico

"Pai" da bomba H morre aos 95

Edward Teller, cientista húngaro naturalizado americano, esteve à frente da construção da bomba de hidrogênio, explodida pela primeira vez em 1952. Polêmico em sua defesa das armas nucleares, é considerado o modelo utilizado pelo cineasta Stanley Kubrick para o protagonista do filme Dr. Fantástico

10 de setembro de 2003

Foto: Lab. Lawrence Livermore

 

Agência FAPESP - Edward Teller, conhecido como o "pai" da bomba atômica, morreu na terça-feira (9/9), em sua casa no campus da Universidade de Stanford, na Califórnia. Tinha 95 anos. O cientista teve papel fundamental nas políticas de defesa e de energia dos Estados Unidos por mais de meio século, segundo obituário do jornal The New York Times.

Nasceu em Budapeste, em 15 de janeiro de 1908. Após ter concluído o doutorado na Alemanha, na Universidade de Leipzig, em 1930, tornou-se professor da Universidade de Göttingen. Com a ascensão dos nazistas, o judeu Teller emigrou aos Estados Unidos e passou a lecionar na Universidade George Washington, em 1935. Naturalizou-se americano seis anos depois.

A idéia de que seria possível construir uma bomba baseada na fusão de átomos de hidrogênio foi ouvida pela primeira vez em 1941, com o físico italiano naturalizado americano Enrico Fermi. No ano seguinte, na Universidade de Chicago, Fermi e equipe fizeram uma série de experimentos que culminaram na primeira reação nuclear controlada.

Teller adotou a idéia de Fermi e passou a defender a construção da bomba de hidrogênio com tamanha veemência que ganhou o apelido de "pai da bomba H", que ele sempre repudiou.

Quando os Estados Unidos iniciaram o Projeto Manhattan, em 1942, e abriram o Laboratório Científico de Los Alamos, no ano seguinte, Teller deixou a carreira acadêmica para juntar-se ao projeto que tinha como objetivo construir armas atômicas.

A defesa feita por Teller para a construção da bomba de hidrogênio, que chamava de "superbomba", fez com que entrasse em atrito com o diretor do laboratório J.Robert Oppenheimer, que insistia em concentrar os esforços na bomba atômica.

Quando a União Soviética explodiu sua primeira bomba atômica, em 1949, quatro anos depois de os americanos terem destruído as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki com artefatos similares, Teller viu na mais poderosa bomba de hidrogênio uma alternativa para superar os soviéticos na Guerra Fria.

A maioria dos colegas de Teller era contra a construção da bomba H, mas o governo norte-americano pensava diferente. Em 1950, o então presidente Harry Truman anunciou o apoio à construção da superbomba, permitindo que o cientista conseguisse a criação de um laboratório independente de Los Alamos, para fabricar o armamento. Foi criado o Laboratório Lawrence Livermore, que teve Teller à frente até 1960.

A primeira explosão termonuclear, ou seja, a primeira bomba H, foi detonada na ilha de Eniwotok, no Oceano Pacífico, em novembro de 1952. Era 600 vezes mais poderosa que as bombas lançadas no Japão, que colocaram um fim à Segunda Guerra Mundial.

Em 1954, com o macartismo a pleno vapor, Oppenheimer foi acusado de ser agente soviético. O então presidente Dwight Eisenhower ordenou que a Commissão de Energia Atômica realizasse audiências para esclarecer a acusação.

Ao depor, Teller disse não acreditar que seu ex-chefe estaria sendo desleal aos Estados Unidos, mas afirmou que achava suas decisões "difíceis de entender", o que levou o governo a revogar as permissões de segurança de Oppenheimer. Levou também Teller a ser visto como persona non grata por grande parte da comunidade científica pelo resto de sua vida.

Durante a Guerra do Vietnã, Teller foi uma das principais vítimas dos ativistas antibelicistas. É considerado o modelo utilizado pelo cineasta inglês Stanley Kubrick em Dr. Fantástico (1964), que mostra um cientista com sotaque europeu que "amava a bomba", como dizia o subtítulo do filme.

Entretanto, apesar de ter defendido a construção da bomba H, Teller era favorável à sua utilização como forma de poder, não de destruição. Dizia que o lançamento de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki havia sido um grande erro. Segundo ele, o melhor teria sido explodir uma bomba sobre os céus de Tóquio, jogando sobre a cidade apenas um grande clarão, mas não matando uma única pessoa.


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