Aldeias e centros locais receberam R$ 1.816,21 per capita, em média, de transferências federais; metrópoles e centros regionais receberam R$ 392,77 (foto: Diogo Moreira/Governo de São Paulo, divulgação)

Padrão de distribuição de emendas parlamentares prejudica cidades grandes
29 de setembro de 2025

Segundo levantamento do Centro de Estudos da Metrópole, que inclui recursos federais, vilas e aldeias são mais beneficiadas em termos per capita

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Aldeias e centros locais receberam R$ 1.816,21 per capita, em média, de transferências federais; metrópoles e centros regionais receberam R$ 392,77 (foto: Diogo Moreira/Governo de São Paulo, divulgação)

 

Agência FAPESP * – Uma pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) mostra que a distribuição de recursos federais e emendas parlamentares favorece municípios muito pequenos no Brasil. O CEM é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP com sedes na Universidade de São Paulo (USP) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Segundo pesquisadores do CEM, os municípios de maior porte – mesmo sendo responsáveis pela geração de mais da metade da riqueza do Brasil, requererem políticas urbanas e sociais intensivas pela sua complexidade e abrigarem quase metade da população – recebem menos recursos per capita do que vilas, aldeias e centros locais.

Os dados constam da Nota Técnica Políticas Públicas, Cidades e Desigualdades “Municípios e a questão fiscal no Brasil – Mais do que heterogêneos?”, que traz os resultados de pesquisa conduzida por Ursula Peres e Eduardo Marques, pesquisadores principais do CEM, e Gabriela Armani, doutoranda em ciência política da Harvard University (Estados Unidos).

A pesquisa explora o desequilíbrio fiscal e de gasto que beneficia municípios menores no Brasil quando se observam o volume de recursos per capita – originados de transferências federais, estaduais, receitas próprias e de capital – e a estrutura de gastos.

Para a análise, os pesquisadores construíram uma tipologia de municípios a partir da reorganização da classificação chamada Regiões de Influência das Cidades (Regic) 2018, distribuindo sobre ela variáveis fiscais, demográficas e políticas no período entre 2005 e 2022. A Regic é uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na qual se identifica e analisa a rede urbana brasileira, estabelecendo a hierarquia dos centros urbanos e suas regiões de influência, e na qual constam dados de 5.215 municípios.

A partir dessa reorganização, os pesquisadores sugerem a existência de três tipos distintos de unidades territoriais. As aldeias e centros locais, classificação na qual se enquadram 84% dos municípios brasileiros, detêm cerca de 25% da população e 20% da riqueza. São áreas com baixa urbanização, presença econômica muito significativa da agricultura e substancial dos serviços públicos, menor desenvolvimento e maior pobreza relativa.

Em posição intermediária estão as vilas, que constituem 13% dos municípios, abrigam 25% da população e da riqueza e apresentam desenvolvimento e atividades produtivas intermediários.

Por fim, as metrópoles e centros regionais representam menos de 4% das unidades, mas abrigam quase 50% da população e da riqueza nacional, apresentam menores níveis médios de pobreza e maiores índices de desenvolvimento, quase nenhuma atividade agrícola e relevantes atividades industriais e de serviços.

Receitas

Os pesquisadores apontam que as aldeias e centros locais dependem fortemente de transferências federais e, mais recentemente, de receitas de capital ligadas, entre outros recursos, às emendas parlamentares. Já as metrópoles e centros regionais recebem transferências e receitas de capital inferiores às dos municípios menores, quando se observam os valores per capita, e têm receitas próprias bem mais expressivas, especialmente o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre Serviços (ISS). As vilas se posicionam de forma intermediária, porém mais próximas das cidades e dos centros regionais.

Os pesquisadores calculam que as aldeias e centros locais receberam R$ 1.816,21, em média, como transferências federais e R$ 964,04 em recursos vindos de transferências estaduais. No caso das vilas, esses valores foram R$ 686,12 e R$ 919,63, respectivamente. Já as metrópoles e centros regionais receberam R$ 392,77 e R$ 912,85.

Nem mesmo o patamar mais elevado de receitas próprias das metrópoles e centros regionais chega perto de compensar as diferenças das transferências federais e estaduais para as localidades de menor porte. As aldeias e centros locais obtiveram R$ 181,05 de receitas próprias na média do período citado. As vilas receberam R$ 399,58, e as metrópoles e centros regionais, R$ 664,11 per capita. Todos os números citados são uma média entre o período 2005 e 2022.

“Analisando os dados de receita per capita de todas as unidades, percebe-se que a desproporção dos valores direcionados às aldeias, centros locais e vilas não é nem de longe compensada pelas receitas próprias das unidades maiores e tem sido reforçada recentemente pelas receitas de capital”, destacam os pesquisadores.

Eles ainda acrescentam: “Não exploramos na Nota Técnica as necessidades municipais em termos dos problemas sociais e urbanos, mas, considerando que as escalas urbanas tendem a gerar problemas crescentes pela aglomeração, parece não restar dúvida de que as unidades de porte muito pequeno recebem muito mais do que deveriam no Brasil de hoje, considerando o que seriam suas demandas concretas”.

A Nota Técnica pode ser lida em https://centrodametropole.fflch.usp.br/sites/centrodametropole.fflch.usp.br/files/inline-files/nt23.pdf.

* Com informações de Janaína Simões, do CEM.
 

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