Observação do comprometimento da articulação temporomandibular em consultas padrão pode ajudar na prevenção de sequelas relacionadas à mordida e à mastigação, indica pesquisa (divulgação)

Pacientes com artrite reumatoide precisam de avaliação oral atenta
28 de maio de 2013

Observação do comprometimento da articulação temporomandibular em consultas padrão pode ajudar na prevenção de sequelas relacionadas à mordida e à mastigação, indica pesquisa

Pacientes com artrite reumatoide precisam de avaliação oral atenta

Observação do comprometimento da articulação temporomandibular em consultas padrão pode ajudar na prevenção de sequelas relacionadas à mordida e à mastigação, indica pesquisa

28 de maio de 2013

Observação do comprometimento da articulação temporomandibular em consultas padrão pode ajudar na prevenção de sequelas relacionadas à mordida e à mastigação, indica pesquisa (divulgação)

 

Por Noêmia Lopes

Agência FAPESP – Uma das articulações mais frequentemente acometidas pela artrite reumatoide é a temporomandibular (ATM), usada para abrir a boca e para mastigar. Apesar disso, são escassos os estudos que avaliam as consequências dessa doença sobre a região orofacial, que engloba boca e face, onde a ATM se situa. Um grupo de pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) estudou a força de mordida dos pacientes com artrite reumatoide atendidos pela instituição e constatou que a avaliação da ATM pode contribuir para o diagnóstico da doença, antes que ocorram alterações irreversíveis.

“Constatamos que a região orofacial desses pacientes tem, de fato, mais alterações do que na população saudável, incluindo menor força de mordida. A avaliação da ATM deveria, portanto, constar em consultas padrão, como forma de controlar a inflamação e a doença”, disse Jamil Natour, professor de Reumatologia da Unifesp e coordenador de pesquisa sobre o tema apoiada pela FAPESP.

A artrite reumatoide é uma doença autoimune, causada pela agressão do sistema imunológico ao próprio organismo – neste caso, as articulações sinoviais são os principais alvos. O interior desse tipo de articulação é revestido pela membrana sinovial, que a artrite reumatoide torna espessa e inflamada. A membrana passa, então, a produzir substâncias que comprometem as estruturas articulares, podendo lesionar a cartilagem, o osso, ligamentos e tendões e resultar em deformidades e sequelas.

Na avaliação da ATM, os pesquisadores da Unifesp acompanharam dois grupos: o grupo denominado AR (artrite reumatoide), constituído por 75 pacientes da Unifesp; e o grupo controle, com 75 adultos sem doença aguda nem crônica e sem queixas na região da ATM – voluntários que compareceriam à instituição para fazer exames de rotina, doar sangue ou acompanhar pacientes. “Todos os participantes eram do sexo feminino, mais acometido pela artrite reumatoide e disposto a integrar estudos científicos”, explicou Natour.

A comparação entre os grupos envolveu uma avaliação pela dentista Carmen Paz Santibañez Hoyuela, integrante do grupo de pesquisa e mestranda da Unifesp, que levantou o histórico de cada participante, fez exames físicos, aplicou questionários sobre o desempenho de atividades cotidianas e sobre o desenvolvimento da artrite reumatoide, além de medir a força da mordida e da mão.

Esse último aspecto foi particularmente importante para documentar se as perdas nas duas regiões são simultâneas, o que foi comprovado. “O comprometimento nas mãos é bem conhecido e estudado. Queríamos checar se pacientes com artrite reumatoide e problemas nas mãos também apresentam problemas na ATM”, disse Natour.

“Verificamos que a menor força de mordida acompanha a diminuição da força nas mãos, mostrando que a região orofacial tem acometimento concomitante a outras partes do aparelho musculoesquelético e deve, portanto, ser acompanhada e avaliada”, afirmou.

As medições foram feitas com dinamômetros, aparelhos usados para estabelecer forças. Para a mordida, os pesquisadores encomendaram à empresa Filizola um gnatodinamômetro (para medir a força empreendida no fechamento da mandíbula), desenvolvido e adaptado para o estudo.

Com o instrumento, foi mensurada a força sobre a área dos dentes molares (de ambos os lados) e dos incisivos. Já para medir a força da mão e a de pinça (entre os dedos polegar e indicador), foram usados dinamômetros já existentes no mercado e aceitos internacionalmente como instrumentos para estabelecer a preensão – dinamômetro Jamar e Pinch gauge, respectivamente.

“Correlacionamos os resultados da avaliação orofacial com parâmetros funcionais, clínicos e de atividade da doença, bem como a força de mordida com a força da mão. Foi assim que concluímos que as mulheres do grupo AR apresentam mais sinais e sintomas na região orofacial e menor força de mordida”, explica Natour.

Contribuições e próximos passos

A artrite reumatoide acomete de 0,5 a 1% da população e em geral surge entre os 30 e 40 anos – embora possa aparecer em qualquer idade. Quanto mais intensa e prolongada a exposição à inflamação articular, maiores as lesões que a doença pode provocar.

É comum que múltiplas articulações sejam comprometidas e não existe cura definitiva. O tratamento envolve medicamentos, injeções nas juntas inflamadas, fisioterapia e eventualmente cirurgias, a fim de conter o processo inflamatório e a progressão das lesões, controlar a dor e as alterações nas funções desempenhadas pelas diferentes regiões do corpo.

O comprometimento ou não da ATM depende de fatores como idade, tempo de doença, número de articulações com edemas, presença de fator reumatoide (anticorpo presente em cerca de 90% dos pacientes com artrite reumatoide) e resultados dos exames proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação. Mas Natour lembra que “tais exames são inespecíficos – qualquer doença inflamatória, até uma gripe, pode alterá-los – e o diagnóstico é clínico”.

Comprovada a necessidade de acompanhar as alterações provocadas pela artrite reumatoide na ATM, o passo seguinte é pensar em intervenções que possam melhorar as funções da boca e da face e a qualidade de vida dos pacientes. Nesse sentido, agora já se sabe que a primeira medida deve ser uma atenção mais cuidadosa à avaliação oral de quem tem a doença.

A pesquisa contou ainda com a participação da médica reumatologista Rita Nely Vilar Furtado e da fisioterapeuta e mestranda Aline Chiari, ambas da Unifesp. Concluída em 2012, teve resultados apresentados no mesmo ano no Congresso Europeu de Reumatologia, em Berlim, na Alemanha, e um artigo completo está em fase de aprovação para publicação em revista científica.
 

  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.