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Pesquisadores do Centro de Geociências da Universidade Federal do Pará investigam como ocorreu a mistura de espécies de caranguejos no litoral paraense, que apresenta exemplares típicos de outras regiões do Brasil, do Caribe e da América do Norte
Pesquisadores do Centro de Geociências da Universidade Federal do Pará investigam como ocorreu a mistura de espécies de caranguejos no litoral paraense, que apresenta exemplares típicos de outras regiões do Brasil, do Caribe e da América do Norte
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Agência FAPESP - Uma parte importante do trabalho acaba de ficar pronta. Os crustáceos decápodes da Formação Pirabas, que data da era Cenozóica, iniciada há cerca de 65 milhões de anos, estão devidamente estudados.
"Por várias relações atualísticas, pode se considerar que a fauna encontrada nessa formação tem um aspecto moderno", disse à Agência FAPESP Vladimir Távora, coordenador de uma equipe de cientistas do Laboratório de Paleontologia do Centro de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O estudo dos fósseis de siris e caranguejos no litoral paraense, além de outros organismos como biválvios e gastrópodes, permitiu aos cientistas definir algumas certezas, além de abrir novos caminhos para a investigação científica.
"Nós definimos, com os estudos na Formação Pirabas, que a paleocarcinofauna encontrada aqui é muito similar a dos Estados Unidos, América Central e Caribe", disse Távora. Segundo o pesquisador, essa unidade ocorreu durante o Período Mioceno (de 24,6 milhões a 5,1 milhões de anos atrás), quando existia uma única província paleogeográfica na região, nomeada de Caribeana.
O mistério da existência no Pará de espécies de caranguejo de outras regiões ou países estaria praticamente resolvido se a Cordilheira dos Andes não tivesse aparecido no cenário sul-americano. "Quando o rio Amazonas inverteu o sentido de sua corrente principal, passando de oeste para leste, a fauna então se diferenciou grandemente", disse Távora. Essa grande mudança no curso do Amazonas está totalmente ligada ao soerguimento da cadeia montanhosa andina.
A quantidade de água doce que passou a ser despejada no Oceano Atlântico começou a funcionar como uma barreira química. Se hoje as espécies da região estão adaptadas a essa alteração de salinidade, isso não ocorria no passado. "A partir de uma fauna única, que existia antes da formação do rio Amazonas, a barreira fez com que os indivíduos que ficaram isolados nos dois lados evoluíssem de forma diferente".
Além da modernidade da paleofauna da Formação Pirabas – 30% das espécies encontradas na forma fóssil ainda vivem atualmente nos mangues, mares e lagunas do Pará –, os cientistas da UFPA detectaram outra característica importante em suas pesquisas. "Encontramos também espécies que hoje ocorrem no Sudeste e Sul do Brasil. Isso sugere que houve uma mistura de duas faunas no então mar de Pirabas, que existia antes do Amazonas", disse Távora.
Para tentar entender melhor como se comportava a fauna de caranguejos há milhões de anos na região amazônica, os pesquisadores paraenses resolveram se voltar para o Sul. "Começamos a trabalhar no Nordeste, com os caranguejos fósseis de Pernambuco, da Formação Maria Farinha, que é um pouco mais antiga do que a Pirabas". As rochas de Pernambuco, explica o cientista da UFPA, são do Paleoceno (de 66 milhões a 60 milhões de anos atrás).
Os crustáceos encontrados no Nordeste mostraram que a fauna mais ao sul é mais primitiva que a existente no Pará. "Existe, de fato, uma grande diferença entre as espécies de caranguejos do Paleoceno e Mioceno". Para 2004, Távora e seus colegas já definiram um novo local de estudo. "Vamos trabalhar na Paraíba. Lá a fauna é muito próxima da encontrada em Pernambuco".
A suspeita em relação aos caranguejos do Nordeste é que eles sejam muito próximos às faunas que também ocorrem no litoral Sul e em países como Argentina e Uruguai, pelos menos em nível de família ou superfamília.
As relações da fauna paraense com o Caribe e os Estados Unidos já são conhecidas. Depois de investigar o Nordeste do Brasil e entender também como as populações se comportam mais ao sul, é que o grupo da UFPA vai partir para o grande objetivo do trabalho.
"Queremos saber a partir de que instante geológico começou a ocorrer a mistura de caranguejos e então supor relações filogenéticas entre as espécies fósseis reconhecidas em todas as rochas e as espécies de crustáceos atuais", explica Távora. A riqueza e a diversificação faunística da Formação Pirabas é uma das grandes responsáveis por essas questões científicas levantadas no Pará.
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