Os caminhos da pós-graduação em Ciências Sociais
24 de outubro de 2003

Fortalecer a diversidade interna dos cursos de humanidades no país, adequando-os à nova demanda, além de estimular e de respeitar diferenças vocacionais. Na opinião dos especialistas reunidos na reunião da Anpocs, essas questões são essenciais em qualquer planejamento educacional

Os caminhos da pós-graduação em Ciências Sociais

Fortalecer a diversidade interna dos cursos de humanidades no país, adequando-os à nova demanda, além de estimular e de respeitar diferenças vocacionais. Na opinião dos especialistas reunidos na reunião da Anpocs, essas questões são essenciais em qualquer planejamento educacional

24 de outubro de 2003

 

Por Eduardo Geraque, de Caxambu

Agência FAPESP - Os problemas são muitos de um lado da mesa. Do outro, o sistema de pós-graduação em Ciências Sociais no Brasil pode ser considerado sólido, apesar de ainda pequeno em termos de ofertas de cursos, considerando-se o tamanho do país.

"A baixa diversidade é preocupante. Corremos o risco de ter uma convergência de vocações, o que seria muito ruim", disse Renato Lessa, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), em mesa-redonda que discutiu os rumos da pós-graduação em Ciências Sociais, durante a 27ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), que terminou na sexta-feira (24/10), em Caxambu (MG).

Para o pesquisador, que também está ligado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e à revista Ciência Hoje, é essencial que a diversidade seja preservada e aumentada no futuro. "As vocações devem ser respeitadas. É importante que exista, por exemplo, um centro de pesquisa com uma determinada linha em Minas Gerais e outro com diretriz diversa no Pará", disse à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, a questão do aumento das opções e das diferentes linhas de pesquisa está atrelada à necessidade de uma política científica que entenda essa necessidade em seus sistemas de avaliações. "Não estou fazendo um discurso contrário à avaliação, muito ao contrário. Mas não se pode apenas ficar correndo atrás de boas notas. É preciso que sejam feitos caminhos alternativos e que não necessariamente irão melhorar o currículo Lattes do pesquisador", disse.

Lessa citou o exemplo das revistas de divulgação científica. "Elas são fundamentais para a alfabetização científica do país, mas são pouco consideradas nas avaliações". Na visão do cientista, a avaliação deve ser um acessório e não algo que induza esse ou aquele caminho.

A morfologia do público que pretende entrar na pós-graduação de Ciências Sociais também precisa ser muito bem considerada, na opinião de Sergio Miceli, professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo. "Hoje, temos muito jornalistas, pessoas do terceiro setor e da administração pública nos procurando, o que representa quase 30%", disse.

Além de um novo público, Miceli aponta outro ponto nevrálgico da questão. "Não podemos tratar as Ciências Sociais como algo único. Cada um terá que resolver o problema de uma forma". Na opinião do sociólogo, essa nova demanda pode não estar compatível com os cursos convencionais de mestrado e de doutorado que são direcionados para a formação de pesquisadores e de professores.

"Haverá também a necessidade, tanto no setor público como privado, de que seja criada uma diversidade de cursos", disse Renato Lessa. "Haverá os cursos tradicionais e também novas formas, como os mestrados profissionalizantes."


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