O secretário geral da ONU, Kofi Annan, e o presidente Lula, na abertura da 11ª Unctad, em São Paulo (foto: Unctad)

O Sul de olho no Sul
15 de junho de 2004

O primeiro-ministro da Tailândia (foto) e outros chefes de Estado presentes na 11ª Unctad defendem a ampliação da cooperação entre os países do Hemisfério Sul como forma de atingir o desenvolvimento econômico e a inserção no mercado global

O Sul de olho no Sul

O primeiro-ministro da Tailândia (foto) e outros chefes de Estado presentes na 11ª Unctad defendem a ampliação da cooperação entre os países do Hemisfério Sul como forma de atingir o desenvolvimento econômico e a inserção no mercado global

15 de junho de 2004

O secretário geral da ONU, Kofi Annan, e o presidente Lula, na abertura da 11ª Unctad, em São Paulo (foto: Unctad)

 

Por Heitor Shimizu, da 11ª Unctad, em São Paulo

Agência FAPESP - Os chefes de Estado presentes na abertura da 11ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), na segunda-feira (14/6), em São Paulo, defenderam a ampliação da cooperação entre os países do Hemisfério Sul como forma de atingir o desenvolvimento econômico e a inserção no mercado global.

"A cooperação Sul-Sul nunca foi mais necessária e nunca esteve tão presente", disse o primeiro-ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra. "Pode ser tentador e de certa forma satisfatório acusar os países do Norte, mas isso dificilmente levará a algum lugar. Para muitos de nós, se a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável não pôde ser atingido por meio de um maior acesso aos mercados dos países desenvolvidos, então é hora de olhar para outras alternativas."

No caso tailandês, de acordo com Shinawatra, esse ponto de vista está representado nas diversas parcerias efetuadas nos últimos anos com países asiáticos, que levou inclusive à criação de associações para o aprimoramento da cooperação entre os países da região.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva engrossou o coro e cobrou mais coragem política das nações em desenvolvimento. "Devemos estar conscientes de que o desenvolvimento não é um presente que será dado pela comunidade internacional", disse.

Para Lula, um grande passo para a melhoria das relações comerciais internacionais será dado na própria reunião da Unctad, com a reativação das negociações do Sistema Global de Preferências Comerciais. "Criado nos anos 80, com a inspirada participação do saudoso embaixador Paulo Nogueira Batista, esse acordo permite que os países em desenvolvimento possam eliminar barreiras comerciais recíprocas, sem a necessidade de estender iguais concessões ao mundo desenvolvido", disse.

De acordo com o presidente, outros 40 países deverão se somar aos 44 signatários do sistema. "Através de passos concretos como esses, vamos continuar reforçando a construção de uma nova geografia comercial, que vem devolvendo autoconfiança à grande maioria das nações do planeta e tem aberto esperanças para o entendimento mais justo entre ricos e pobres", disse. Lula comparou a iniciativa com o Plano Marshall, que ajudou a restabelecer economias destruídas na Segunda Guerra Mundial.

Para o presidente do Uruguai, Jorge Battle, a cooperação entre os países do Hemisfério Sul é fundamental, mas exige uma participação ativa das agências internacionais, especialmente daquelas que fazem parte da ONU, como a própria Unctad. Já o presidente da Bolívia, Carlos Mesa Gisbert, disse que os países mais pobres não devem esperar o que não pode ser esperado. "Há certas premissas que não vão mudar, como o protecionismo de países desenvolvidos", disse. Segundo Gisbert, uma solução para o impasse é a cooperação Sul-Sul.

O aumento da importância dos países do Hemisfério Sul na economia mundial tem crescido seguidamente. De acordo com dados da Unctad, a participação desses países no comércio mundial aumentou de 20%, na década de 1980, para cerca de 30% atualmente. Os produtos industrializados, que respondiam por 20% das exportações das nações do Sul em 1980, atingiram 70% em 2000. Em 2003, pela primeira vez, os Estados Unidos importaram mais de países em desenvolvimento do que de países desenvolvidos.


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