Imprensa brasileira se vê com os olhos alheios avalia pesquisadora em livro

O que falar quer dizer
17 de junho de 2005

Em livro recém-lançado, a pesquisadora Margarethe Born Steinberger desnuda o comportamento da mídia brasileira na reconstrução do cenário internacional

O que falar quer dizer

Em livro recém-lançado, a pesquisadora Margarethe Born Steinberger desnuda o comportamento da mídia brasileira na reconstrução do cenário internacional

17 de junho de 2005

Imprensa brasileira se vê com os olhos alheios avalia pesquisadora em livro

 

Agência FAPESP - Para o sociólogo Emir Sader, a cobertura que a imprensa brasileira faz do cenário internacional é "forte candidata a pior, se comparada à de outras áreas editoriais". É com esse panorama desanimador que Sader abre a apresentação do livro Discursos geopolíticos da mídia – Jornalismo e imaginário internacional na América Latina, escrito por Margarethe Born Steinberger, professora de Jornalismo, Comunicação e Lingüística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A obra acaba de ser lançada pela Editora Cortez.

"Vejo este livro como um baú. Não é o relato de um projeto concluído, mas um espaço onde reuni ferramentas conceituais, teóricas e epistemológicas para investigar como os discursos jornalísticos intervêm na formulação do imaginário internacional na América Latina", explica Margarethe no livro.

Mais do que mostrar como a mídia brasileira refere-se aos fatos internacionais, o trabalho pretende avaliar como os assuntos nacionais são interpretados pelos veículos de comunicação do Brasil. A conclusão intriga: nos vemos com os olhos alheios. Influenciado por um passado colonial e portando um imaginário que chega de fora – agências de notícias, transmissões de rádio e televisão internacionais –, o jornalismo latino-americano é internacionalista, inclusive quando trata de fatos nacionais e locais ou quando avalia nossa produção cultural e o tipo de comportamento.

Ao lado de outros meios de cultura de massa, como o cinema e a música, o jornalismo constitui-se como uma importante fonte de produção de sentidos, agindo como poderosa rede social de propagação. Assim, o que se vê do mundo é apenas sua representação, seus recortes, "uma aparência despida de essência". Nesse processo, o papel da imagem é fundamental para a construção das diferentes verdades.

Entendendo-se por sistema de referência um conjunto de princípios socialmente interiorizados que guiam os modos de pensar e agir de uma época, a pesquisadora acredita que, atualmente, o sistema de referência hegemônico seja o chamado pós-moderno-midiático. Ele se alimenta e sobrevive de imagens, que funcionam como provas irrefutáveis dos fatos.

Entretanto, a passagem de um sistema para outro não acontece sem turbulências. Um exemplo citado no livro é o modo como a mídia lidou com o anúncio do que teria sido a clonagem do primeiro ser humano. "Ficou na ambigüidade entre a comemoração do feito científico e o terror diante da possibilidade de manipulação desse poder ‘monstruosamente divino’." Teria faltado mostrar o rosto do bebê, de seus pais e até da casa onde ele viveria. "Sem imagem, o sistema pós-moderno-midiático perde um de seus mais eficazes instrumentos de representação." Dessa forma "a mídia submeteu-se ao veto do sistema de referência medieval-religioso, por meio da seita que subvencionou o experimento".

Para quem teme a onda dos "ismos" – capitalismo, imperialismo, terrorismo, fanatismo, por exemplo –, o livro Discursos geopolíticos da mídia – Jornalismo e imaginário internacional na América Latina defende que "é a indústria cultural e os meios de comunicação de massa que têm hoje o poder de configurar mentalidades e, portanto, o apoio social necessário à consolidação do projeto de qualquer liderança internacional".


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