Miguel Nicolelis, idealizador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, fecha o simpósio com a camisa da seleção brasileira (foto: E.Geraque)
Durante os cinco dias do simpósio, o ambicioso Instituto Internacional de Neurociência de Natal ganhou apoio político e científico. Nos próximos meses, será possível saber para onde Miguel Nicolelis e outros idealizadores do projeto levarão o seu público científico
Durante os cinco dias do simpósio, o ambicioso Instituto Internacional de Neurociência de Natal ganhou apoio político e científico. Nos próximos meses, será possível saber para onde Miguel Nicolelis e outros idealizadores do projeto levarão o seu público científico
Miguel Nicolelis, idealizador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, fecha o simpósio com a camisa da seleção brasileira (foto: E.Geraque)
Agência FAPESP - O último parágrafo do prólogo do Instituto Internacional de Neurociência de Natal não poderia ser mais emblemático. O cientista brasileiro Miguel Nicolelis encerrou o Simpósio Internacional de Neurociência no domingo (7/3), com traje de gala. Ou melhor, com a camisa da seleção brasileira de futebol, cinco vezes campeã do mundo. Para completar a festa, Iván Izquierdo, um dos maiores especialistas no estudo da memória, pegou o microfone e puxou o Parabéns para você. A platéia, em coro, respondeu imediatamente.
Além de marcar o nascimento do centro que se pretende de referência mundial, projeto do qual Nicolelis é o principal idealizador, a homenagem também celebrou os 43 anos do pesquisador, que desenvolve na Universidade de Duke estudos de grande importância na área de neurociência computacional. Em experimentos, Nicolelis e seu grupo conseguiram que macacos aprendessem a movimentar um braço mecânico apenas com o pensamento, o que poderá ajudar pessoas doentes no futuro. Na platéia, estava o pai do cientista, que também aniversariou no domingo.
"Esse evento em Natal pode ser considerado histórico. Conseguir que tantos pesquisadores estrangeiros não apenas viessem, mas também dessem total apoio ao nosso projeto, é algo notável", disse Nicolelis à Agência FAPESP, enquanto percorria os corredores de um dos melhores hotéis da cidade, palco considerado ideal para um evento que precisava, em todos os sentidos, impressionar a extensa lista de cientistas de outros países.
Segundo Nicolelis, outro ponto positivo conquistado nesses cinco dias, que deve ter muitos desdobramentos na criação do centro, foi a articulação feita tanto regionalmente quanto nacionalmente. "Conseguimos um grande apoio político, com a presença do ministro Eduardo Campos (titular da pasta da Ciência e Tecnologia, que esteve no simpósio na sexta (5/3)), e de diversas autoridades locais", disse. A governadora do Rio Grande do Norte, Vilma de Faria, por exemplo, marcou presença em duas ocasiões.
"Esse é o tipo de descentralização que apoiamos", disse Campos. Segundo o ministro, o deslocamento dos núcleos de excelência em ciência do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, para o Norte e o Nordeste não pode ser visto de um ponto de vista absoluto. "Devem ser respeitados alguns graus de centralização. Muito pode ser feito por meio de redes de pesquisa." Campos confirmou que o Governo Federal liberou R$ 2,5 milhões para o instituto, cujo orçamento está estimado em US$ 30 milhões.
"Estou otimista com a idéia. Essa é um forma inteligente de se fazer a descentralização, mas não deixa de ser um grande desafio", disse o diretor-científico da FAPESP, José Fernando Perez, também presente em Natal. Ele será um dos membros do conselho gestor do novo instituto, que teve a sua primeira reunião na sexta-feira (5/3). O presidente do conselho será Henrique Meirelles, o atual presidente do Banco Central, que se tornou amigo de Nicolelis recentemente e também esteve em Natal para a primeira reunião.
Se alguns grupos de pesquisa de São Paulo ou do Rio de Janeiro estão se sentido excluídos desse prólogo do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, a realidade entre o grupo de pesquisadores da área na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é outra.
Apesar de a forma ideal de cooperação entre os cientistas do instituto e da UFRGN ainda não estar definida, no campo exclusivamente científico essa troca de informações já ocorre há algum tempo, conforme explicou a professora da universidade, Maria Bernardete de Souza. "Sem dúvida, a proposta tem todo o nosso apoio", afirmou.
Com o alicerce praticamente pronto, Nicolelis parte agora para desenvolver a introdução da história. Do ponto de vista burocrático, ele tem ainda que definir qual a melhor forma de montar a estrutura jurídica da Fundação Alberto Santos Dumont, que será criada para gerir o instituto.
O que mais pesa na escolha são as formas de financiamento. Nada pode ser desprezado. Nem recursos nacionais, nem estrangeiros, sejam eles públicos ou privados. A pesquisa feita por Nicolelis, que também desfilou por Natal com a camisa e a bermuda do Palmeiras, time do qual é torcedor fanático, tem um grande apelo industrial e conta com uma grande expectativa de instituições beneficentes. Uma delas, que financia pesquisas contra a paralisia, tem à frente o ator Christopher Reeve, famoso pelos filmes do Super-homem, com quem o cientista brasileiro conversou recentemente.
Se nos próximos seis meses a introdução estiver pronta, talvez o público de quase 700 pessoas presente em Natal, tanto de pesquisadores nacionais como internacionais, poderá saber com mais certeza se o livro dessa importante fase da neurociência brasileira terá tanto sucesso como tem tido a obra da vida científica do principal idealizador do projeto.
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