O Museu do Homem, em Paris, abriga cerca de 700 objetos de pré-história, 28 mil registros em antropologia biológica e 6 mil objetos de antropologia cultural (foto: Heitor Shimizu/Agência FAPESP)
Cientistas, museólogos e representantes de comunidades indígenas participam de seminário realizado pelo Museu Nacional de História Natural da França, em parceria com a FAPESP, para discutir novas visões e missões para essas instituições
Cientistas, museólogos e representantes de comunidades indígenas participam de seminário realizado pelo Museu Nacional de História Natural da França, em parceria com a FAPESP, para discutir novas visões e missões para essas instituições
O Museu do Homem, em Paris, abriga cerca de 700 objetos de pré-história, 28 mil registros em antropologia biológica e 6 mil objetos de antropologia cultural (foto: Heitor Shimizu/Agência FAPESP)
Heitor Shimizu, de Paris | Agência FAPESP – O Seminário de Museologia França-Brasil começou ontem (12/06) no Museu do Homem, em Paris. Organizado pelo Museu Nacional de História Natural (MNHN), em parceria com a FAPESP e a Universidade de São Paulo (USP), o evento integra a programação da FAPESP Week França.
“Com o tema Novas Visões e Novas Missões para os Museus de História Natural, este seminário é resultado de vários meses de trabalho e colaboração entre as equipes da FAPESP e do MNHN. A programação de dois dias reúne uma grande diversidade de atores envolvidos nas abordagens museológicas: pesquisadores, museólogos e representantes de comunidades indígenas", disse Aurélie Clemente-Ruiz, diretora do Museu do Homem.
“O tema do seminário é extremamente pertinente para o nosso espaço, pois, neste ano, celebramos os dez anos da reabertura do Museu do Homem, após sua reformulação. Ao longo de dois dias – hoje aqui no Museu do Homem e amanhã na Galeria de Anatomia Comparada e Paleontologia – vamos refletir sobre o papel dos museus de história natural no século 21. Serão discutidas questões como o papel dos museus na pesquisa e na preservação, maneiras de pensar a natureza e as formas de vida, os museus e o Antropoceno, bem como novas abordagens museológicas e a colaboração franco-brasileira”, destacou Clemente-Ruiz na abertura do evento.
Aurélie Clemente-Ruiz é diretora do Museu do Homem, reformulado e reaberto há dez anos (foto: Heitor Shimizu/Agência FAPESP)
Em seguida, Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, falou sobre os objetivos e as expectativas do seminário.
“A primeira é refletir sobre o que deve ser um museu de história natural no século 21, em um tempo em que enfrentamos uma rápida perda de biodiversidade e visões conflitantes sobre como preservá-la. Junto a isso, há, em muitos aspectos e áreas, demandas pela repatriação de patrimônios que se encontram fora de seus locais de origem. Outro ponto importante é assegurar a participação das comunidades tradicionais e indígenas na preservação das coleções e na museografia, além de compreender o papel que elas podem ou devem desempenhar nos museus de hoje”, afirmou.
“Precisamos também rever a relação entre os museus e o público – entender que tipo de experiência os museus devem proporcionar aos seus visitantes. É necessário modernizar a prática museográfica. O que fazer com coleções tradicionais e valiosas? E com objetos e artefatos que vieram, por exemplo, do Brasil para a Europa durante o período colonial? São questões que precisam ser discutidas para que possamos encontrar soluções”, continuou.
Zago: "Precisamos rever a relação entre os museus e o público" (foto: Heitor Shimizu/Agência FAPESP)
Ainda segundo Zago, os museus não devem ser vistos apenas como guardiões de objetos preciosos, artefatos do passado ou de amostras biológicas e minerais. “Eles precisam desempenhar um papel proeminente na compreensão contemporânea da sociedade e das culturas, bem como das relações entre elas. Devem também ser centros de avanço do conhecimento, de educação e de diálogo com o público em geral.”
Como exemplo de iniciativa, o presidente da Fundação citou o apoio da FAPESP à recente criação do Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas, envolvendo o Museu da Língua Portuguesa e o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, além de diversos parceiros, como, por exemplo, o Museu Nacional dos Povos Indígenas e o Ministério dos Povos Indígenas.
“Como sabem, estamos agora na Década das Línguas Indígenas, declarada pela Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura]. No Brasil, temos 274 línguas indígenas, das quais cerca de 40 correm atualmente risco de extinção. Obviamente, a documentação e o estudo das línguas estão firmemente ligados à documentação das culturas, pois a língua é uma das expressões da cultura – tanto as suas representações materiais quanto imateriais", disse o presidente da FAPESP.
Museu do Homem
Clemente-Ruiz destacou que a discussão sobre o papel dos museus de história natural se insere em um projeto em desenvolvimento no Museu do Homem “com o objetivo de repensar certos espaços e reinventá-los, sempre com a ideia de mostrar a ciência em movimento e participar dos debates contemporâneos das sociedades”, e falou sobre a história e a importância da instituição.
“Na década de 1930, um então novo diretor, Paul Rivet, decidiu criar um museu voltado à pesquisa, ao ensino e à divulgação. Ele partiu de uma coleção importante para realizar esse projeto, baseada na valiosa coleção do Museu de Etnografia do Trocadéro, à qual acrescentou as coleções da galeria de antropologia e de pré-história do Museu Nacional de História Natural", contou. “Desde essa época, o Museu do Homem passou a integrar o Museu Nacional de História Natural, que tem uma história ainda mais antiga: em 2026, celebraremos os 400 anos de sua fundação por um decreto de Luís XIII, que desejava estabelecer um jardim de plantas medicinais."
Segundo Clemente-Ruiz, à época, Luís XIII buscava modernizar o ensino e a prática da medicina em Paris por meio do aprendizado de três disciplinas: botânica, anatomia e química. Os cursos, gratuitos e abertos a todos, fizeram grande sucesso. No século 18, o museu passou a se abrir à história natural e tornou-se o principal centro de difusão de conhecimento nesses domínios.
“Em 1793, após a Revolução Francesa, tornou-se oficialmente o Museu Nacional de História Natural, com 12 cadeiras professorais. Os primeiros entusiastas – como os célebres cientistas da época – começaram a analisar e comparar espécies trazidas a Paris de todas as partes do mundo. No decorrer do século 19, os estudos científicos se multiplicaram e os campos de pesquisa se diversificaram, abrangendo química, pré-história, arqueologia, paleontologia, geologia e antropologia. Todas essas disciplinas ligadas ao mundo vivo são hoje estudadas no museu e difundidas em seus diversos sítios espalhados pelo território francês”, contou.
Clemente-Ruiz explicou que o MNHN abriga atualmente uma das maiores coleções de história natural do mundo, com mais de 68 milhões de itens inventariados e mais de 2 milhões de documentos. “Quando o Museu do Homem foi inaugurado, em 1938, integrando diferentes coleções, ele se inseriu na tradição de exploração, descoberta e pesquisa iniciada pelo Museu Nacional. O Museu do Homem se materializa em um espaço que enfatiza a unidade da humanidade, ao mesmo tempo que afirma sua diversidade cultural”, afirmou.
O Museu do Homem tem cerca de 700 objetos de pré-história, 28 mil registros em antropologia biológica e 6 mil objetos de antropologia cultural. “A maioria está conservada em nossas reservas, no Palais de Chaillot. No entanto, 1,8 mil peças estão expostas na galeria permanente, que vocês poderão visitar ao final deste dia de debates”, disse aos presentes no seminário.
Leia mais notícias e informações sobre a FAPESP Week França em: fapesp.br/week/2025/france.
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