Fóssil do Simocyon batalleri, espécie ancestral do panda vermelho, apresenta o falso polegar (à dir.)

O falso polegar do panda
27 de dezembro de 2005

Cientistas descobrem a mais antiga evidência de polegar falso em fóssil de um ancestral do panda. O estudo mostra como a evolução levou uma espécie a adaptar uma estrutura existente para outra finalidade

O falso polegar do panda

Cientistas descobrem a mais antiga evidência de polegar falso em fóssil de um ancestral do panda. O estudo mostra como a evolução levou uma espécie a adaptar uma estrutura existente para outra finalidade

27 de dezembro de 2005

Fóssil do Simocyon batalleri, espécie ancestral do panda vermelho, apresenta o falso polegar (à dir.)

 

Agência FAPESP - Cientistas europeus anunciaram a descoberta da mais antiga evidência de polegar falso em um fóssil de um ancestral do panda. Segundo o estudo, a novidade ajuda a entender os mecanismos da evolução em dois tipos distintos de pandas.

Os resultados da pesquisa serão publicados esta semana na edição on-line e em breve na versão impressa da Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

O panda gigante (Ailuropoda melanoleuca) e o panda vermelho (Ailurus fulgens) são bem distintos um do outro. O primeiro é o mais conhecido, com pelagem branca e preta, e chega a pesar mais de 100 quilos. O outro, de pêlos avermelhados, lembra mais um texugo e tem em média 5 quilos.

Apesar de pouco parecidos, eles guardam muitas semelhanças. Ambos dividem a mesma origem, o continente asiático, correm risco de extinção e se alimentam de bambus. Mas o mais notável é que os dois contam com um falso polegar, um osso protuberante nos membros posteriores que oferece a eles uma notável habilidade para manipular os alimentos.

Até há poucos anos, os cientistas colocavam o panda vermelho na família Procyonidae, de pequenos roedores carnívoros. Recentemente, o mamífero passou a integrar a família Ailuridae e a relação com o panda gigante passou a ser melhor entendida.

Como os polegares falsos de cada panda são estruturalmente diferentes, achava-se que eles teriam evoluído de maneira independente, uma vez que não foram encontrados sinais da estrutura em fósseis de qualquer ancestral.

Agora, o grupo liderado pelo espanhol Manuel Salesa, da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, descobriu evidências do polegar falso em fósseis de Simocyon batalleri, espécie ancestral do panda vermelho, de carnívoros que subiam em árvores e viveram há milhões de anos.

Os fósseis, de dois espécimes, foram encontrados no sítio de Batallones-1, na Espanha, com registros do período Mioceno (de 23 milhões a 5,3 milhões de anos atrás).

De acordo com o novo estudo, as formações dos polegares entre as espécies Ailurus fulgens e S. batalleri são similares. Entretanto, uma vez que essa última não era herbívora, os pesquisadores apontam que ela deveria usar a estrutura para subir mais facilmente em árvores e evitar predadores.

Os resultados do estudo apontam que enquanto o polegar falso do panda gigante evoluiu pela manipulação do bambu, a mesma estrutura no panda vermelho é resultado de uma necessidade de movimentação. Segundo os cientistas europeus, com o tempo, os ancestraias do panda vermelho passaram a empregar o polegar falso também para lidar com os alimentos.

O surgimento do falso polegar foi usado pelo paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941-2002), em O polegar do panda (1980). No livro, o professor da Universidade de Harvard usa a curiosa estrutura óssea no mamífero para se debruçar no legado de Charles Darwin (1809-1882) e falar sobre os mecanismos da evolução.

Gould mostra que, ao adaptar o uso de uma estrutura especializada para uma determinada função em outra atividade, tem-se a oportunidade de observar a própria teoria da evolução em ação. No estudo publicado agora na Pnas, os pesquisadores não deixam de lembrar o famoso exemplo lançado por Gould.

O artigo Evidence of a false thumb in a fossil carnivore clarifies the evolution of pandas, de Manuel J. Salesa, Mauricio Antón, Stéphane Peigné e Jorge Morales, pode ser lido no site da Pnas, em www.pnas.org.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.