Eliane Azevedo, da Universidade Estadual de Feira de Santana, durante palestra na reunião anual da SBPC (foto: E.Geraque)

O conflito da bioética
20 de julho de 2004

Em sessão concorrida no primeiro dia da reunião da SBPC, em Cuiabá, Eliane Azevedo, da Universidade Estadual de Feira de Santana, mostrou ao público como a produção científica pode se aliar de forma perigosa aos interesses do mercado

O conflito da bioética

Em sessão concorrida no primeiro dia da reunião da SBPC, em Cuiabá, Eliane Azevedo, da Universidade Estadual de Feira de Santana, mostrou ao público como a produção científica pode se aliar de forma perigosa aos interesses do mercado

20 de julho de 2004

Eliane Azevedo, da Universidade Estadual de Feira de Santana, durante palestra na reunião anual da SBPC (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Cuiabá

Agência FAPESP - Células-tronco, pesquisa com embriões, testes de novas drogas que cada vez mais necessitam de macacos e de seres humanos. A ebulição das pesquisas genéticas leva a outro problema que precisa cada vez mais ser discutido – e analisado – por aqueles que fazem a ciência. A pesquisadora Eliane Azevedo, da Universidade Estadual de Feira de Santana, que há mais de dez anos estuda o tema, tem uma idéia cristalina de um dos principais conflitos de interesse que existe hoje nesse campo.

"De um lado, temos a produção científica. De outro, os interesses do mercado. O problema é que cada vez mais essas duas forças estão se cruzando", disse a pesquisadora à Agência FAPESP. Eliane foi uma das conferencistas do primeiro dia da 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que está sendo realizada na Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá.

Durante uma concorrida palestra, a pesquisadora de bioética se apoiou em vários estudos científicos recentes que apontam esse cruzamento perigoso. Em um deles foram analisados diversos trabalhos, publicados em algumas das principais revistas da área no mundo.

O estudo investigou o tipo de financiamento usado para o desenvolvimento de novos medicamentos e se aquele projeto específico chegou a criar uma droga comercial ou não. Segundo Eliane, 16% dos trabalhos financiados apenas por instituições sem fins lucrativos resultaram na indicação das chamadas drogas de preferência, isto é, que podiam ter algum tipo de desenvolvimento comercial.

Do outro lado, nos trabalhos com recursos de empresas privadas, do setor farmacêutico, a porcentagem subiu de forma gritante. Em 51% dos trabalhos, a substância comercial foi desenvolvida. "Isso mostra que é preciso que os cientistas tenham cuidado com esse novo capítulo da história, em que as empresas que visam lucro com um determinado resultado científico participam do financiamento das pesquisas", afirmou.

Para Eliane, muito mais do que se investir na gestão de comitês de ética – o que também é importante –, existe uma outra forma mais segura de garantir que os pesquisadores poderão continuar tendo dignidade profissional em seus estudos.

"Acredito muito no jovem. Temos que ensinar cada vez mais bioética em cursos por todo o Brasil. É preciso criar essa cultura e é importante que se forme uma espécie de escola de moral científica. O pesquisador corrupto, fraudulento, deve ser execrado da ciência", disse.


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