Koichi Sameshima, da USP, apresentou em Natal uma técnica para estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta
(foto: E.Geraque)

O cérebro em perspectiva
08 de março de 2004

Um instrumento capaz de estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta foi apresentado no Simpósio Internacional de Neurociência de Natal por Koichi Sameshima, da USP

O cérebro em perspectiva

Um instrumento capaz de estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta foi apresentado no Simpósio Internacional de Neurociência de Natal por Koichi Sameshima, da USP

08 de março de 2004

Koichi Sameshima, da USP, apresentou em Natal uma técnica para estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta
(foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Natal

Agência FAPESP - A história da estatística moderna, a descoberta da perspectiva pelos desenhistas e o fluxo lúdico produzido pelos malabaristas com suas bolas coloridas se misturaram ao longo do processo de criação de uma metodologia que se mostra capaz de estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta.

"Os processos que ocorrem no cérebro, entre os neurônios, são não-lineares. Como a matemática, que seria a melhor linguagem para estudar as interações cerebrais, em geral não tem soluções analíticas para modelos não-lineares, resolvemos desenvolver uma ferramenta computacional que nos permite explicar o fenômeno da causalidade presente entre os neurônios", disse Koichi Sameshima, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP.

Se a história da estatística entra no processo de formação da metodologia por causa dos trabalhos de dois ingleses, o matemático Karl Pearson (1857-1936) e o geneticista e estatístico Ronald Fisher (1890-1962), que passaram a discutir a causalidade, a criação da perspectiva no século 15 tem um lado mais abrangente.

O florentino Filippo Brunelleschi (1377-1446) foi o grande construtor do "Il Duomo" da Catedral de Santa Maria del Fiore em Florença no período de 1418 a 1438. Ele não usou andaimes. A técnica usada por ele, baseada em encaixes, acabou por autosustentar a estrutura. O pesquisador da USP usa essa imagem para mostrar como está o processo de visualização dos dados hoje. "Mesmo com o auxílio da computação gráfica, estamos limitados a enxergar no máximo 4 ou 5 dimensões ou variáveis simultâneas".

Para Sameshima, um dos mentores intelectuais – título que ele prefere modestamente recusar – da criação do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, essa visão de que os neurônios funcionam com base em processos não-lineares precisa ainda ser mais sedimentada.

"O processo linear é simples de entender. Peguemos os corpos A, B e C. Se o primeiro empurra o segundo, que empurra o terceiro, existe uma relação linear", explicou. "O problema é que se corre o risco de identificar apenas A e C, que participaram do início e do fim desse processo da causa e efeito. Mas e o B, que estava no meio?"

Como o processo da causalidade é difícil de ser provado por um experimento, apesar de ele estar lá, os pesquisadores da USP - o professor Luiz Antônio Baccalá, da Escola Politécnica também é um dos principais autores desse estudo - desenvolveram o instrumento que chamam de Coerência Parcial Direcionada. "As análises realizadas em computador nada mais são do que experimentos. Por isso temos que incorporar nelas a causalidade", disse o cientista.

O lado lúdico dos malabaristas – e Sameshima chegou a arriscar um pequeno número circense em sua apresentação em Natal – está relacionado com aquele que parece surgir como um novo paradigma da neurociência: a necessidade de uma visão cada vez mais holística do cérebro humano, onde o fluxo informacional segue os mais complexos caminhos.


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