Koichi Sameshima, da USP, apresentou em Natal uma técnica para estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta
(foto: E.Geraque)
Um instrumento capaz de estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta foi apresentado no Simpósio Internacional de Neurociência de Natal por Koichi Sameshima, da USP
Um instrumento capaz de estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta foi apresentado no Simpósio Internacional de Neurociência de Natal por Koichi Sameshima, da USP
Koichi Sameshima, da USP, apresentou em Natal uma técnica para estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta
(foto: E.Geraque)
Agência FAPESP - A história da estatística moderna, a descoberta da perspectiva pelos desenhistas e o fluxo lúdico produzido pelos malabaristas com suas bolas coloridas se misturaram ao longo do processo de criação de uma metodologia que se mostra capaz de estudar a interação cerebral de forma simultânea e direta.
"Os processos que ocorrem no cérebro, entre os neurônios, são não-lineares. Como a matemática, que seria a melhor linguagem para estudar as interações cerebrais, em geral não tem soluções analíticas para modelos não-lineares, resolvemos desenvolver uma ferramenta computacional que nos permite explicar o fenômeno da causalidade presente entre os neurônios", disse Koichi Sameshima, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP.
Se a história da estatística entra no processo de formação da metodologia por causa dos trabalhos de dois ingleses, o matemático Karl Pearson (1857-1936) e o geneticista e estatístico Ronald Fisher (1890-1962), que passaram a discutir a causalidade, a criação da perspectiva no século 15 tem um lado mais abrangente.
O florentino Filippo Brunelleschi (1377-1446) foi o grande construtor do "Il Duomo" da Catedral de Santa Maria del Fiore em Florença no período de 1418 a 1438. Ele não usou andaimes. A técnica usada por ele, baseada em encaixes, acabou por autosustentar a estrutura. O pesquisador da USP usa essa imagem para mostrar como está o processo de visualização dos dados hoje. "Mesmo com o auxílio da computação gráfica, estamos limitados a enxergar no máximo 4 ou 5 dimensões ou variáveis simultâneas".
Para Sameshima, um dos mentores intelectuais – título que ele prefere modestamente recusar – da criação do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, essa visão de que os neurônios funcionam com base em processos não-lineares precisa ainda ser mais sedimentada.
"O processo linear é simples de entender. Peguemos os corpos A, B e C. Se o primeiro empurra o segundo, que empurra o terceiro, existe uma relação linear", explicou. "O problema é que se corre o risco de identificar apenas A e C, que participaram do início e do fim desse processo da causa e efeito. Mas e o B, que estava no meio?"
Como o processo da causalidade é difícil de ser provado por um experimento, apesar de ele estar lá, os pesquisadores da USP - o professor Luiz Antônio Baccalá, da Escola Politécnica também é um dos principais autores desse estudo - desenvolveram o instrumento que chamam de Coerência Parcial Direcionada. "As análises realizadas em computador nada mais são do que experimentos. Por isso temos que incorporar nelas a causalidade", disse o cientista.
O lado lúdico dos malabaristas – e Sameshima chegou a arriscar um pequeno número circense em sua apresentação em Natal – está relacionado com aquele que parece surgir como um novo paradigma da neurociência: a necessidade de uma visão cada vez mais holística do cérebro humano, onde o fluxo informacional segue os mais complexos caminhos.
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